A AÇÃO DE DEUS NO MUNDO: O HOMEM, A IGREJA E A TEOLOGIA PRÁTICA

“Se Deus criou o mundo e ‘desapareceu do mapa’, então Ele é um alienado”.  Este foi o comentário de um jovem, logo após ouvir um estudo a respeito da doutrina deísta.

Desde a idade média já se discutia sobre a ação de Deus na Sua criação. Discussão sobre a evolução, dualismo, emanação em suas várias formas e outras teorias surgiram  com a finalidade de defender ou mesmo de se chegar a uma idéia concreta concernente ao ato criador de Deus.

Quando olhamos para a Bíblia, com nossos olhos limpos de todo conceito ou preconceito teológico, deparamos com vários textos que iluminam  o assunto da criação de Deus de forma simples, racional e verdadeira. Em Gn 1 encontramos um termo peculiar durante toda a extensão da criação: “Disse Deus: haja...” aqui vemos o ato soberano, santo e eterno de Deus manifestado desde a eternidade (Sl 139) na Sua obra física e espiritual.

A criação de Deus é algo incontestável para os biblicistas e para quem é dirigido pela fé. Contudo, não é meu objetivo defender a criação de Deus na sua forma abrangente, e para isso pergunto: como a teologia influencia o mundo hoje? Precisamos apresentar um Cristo conhecido pelo mundo inteiro? O mundo hoje clama pelo ensino de Jesus, ou pela Sua vida prática no meio do povo?. Neste trabalho tratarei da criação de Deus como obra do Seu amor, da Sua satisfação, tanto do seu povo como daqueles que estão perdidos nas trevas, da natureza vegetal e animal. Estudaremos também a tarefa do homem no plano criador de Deus, Sua teologia, ensinada e praticada por Ele através de Seus Filho, e veremos uma teologia que seja capaz de agradar ao Criador, e à luz da vontade divina atingir toda a humanidade.

A CRIAÇÃO DE DEUS COMO EXPRESSÃO DO SEU AMOR
“ No princípio, criou Deus os céus e a terra.  A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas.” (Gn 1.1-2) (conf. At 17.24, Jo 1.3, Sl 8).

A criação do cosmos por Deus é algo maravilhoso e ao mesmo tempo assombroso. Um PhD em física nuclear, discutindo com seus colegas de profissão numa das salas da NASA, nos EUA, argumentava sobre o início do mundo. Ele, cristão, dissertava sobre a teoria bíblica da criação efetuada por Deus. Seus colegas, contudo, argumentavam que o mundo surgiu de uma grande explosão,  ocasionada por um acúmulo de Neutrons, Átomos, e outros componentes químicos. “Concordo com essa teoria!”, disse o físico cristão. “Todavia, como vocês explicam o surgimento desses Neutrons e Átomos que, acumulando, ocasionaram a grande explosão que deu origem ao universo?”. Eles responderam: “Aqui a ciência pára!”. O físico cristão disse: “Então, onde a ciência não explica eu resumo numa única palavra: DEUS”.

A criação  de todo cosmo e tudo que nele está percebemos como obra da soberana vontade de Deus e como a manifestação do Seu tremendo poder. Encontramos uma descrição dessa maravilha em Isaías 40.26: “Levantai ao alto os olhos e vede. Quem criou estas coisas? Aquele que faz sair o seu exército de estrelas, todas bem contadas, as quais ele chama pelo nome; por ser ele grande em força e forte em poder, nem uma só vem a faltar.” (cf  Is 42.5, 45.18, 51.13, Ne 9.6,  Ef 3.9, Ap 10.6). A incontestabilidade do amor de Deus na criação envolve de toda forma Sua criação e Seus atos pelos séculos dos séculos.

Dentro dessa perspectiva da criação de Deus, encontramos na diversidade do mundo criado uma imensurável gama  de existências: umas maiores, outras menores; uma de mais importância, outras de menos importância; algumas inteligentes, com capacidade de raciocinar para decidir, para tomar decisões, outras inteligentes sem essas mesmas capacidades; seres vivos vegetais, animais, nos céus, na terra e em todos os lugares.

“A igreja cristã, desde o começo, ensinava a doutrina da criação ex nihilo e como um ato livre de Deus”[1]. Na posição de um Ser livre, auto suficiente, onipotente, onisciente e todo poderoso, Deus criou o mundo para a justiça e para a calamidade. Aqui entra o homem, que, como conseqüência da criação de Deus, veio ao mundo com a finalidade de cumprir piamente os propósitos de Deus estabelecidos desde a eternidade. O apóstolo Paulo, falando aos coríntios, define esses propósitos de Deus como algo estabelecido anteriormente e realizado pela Sua soberana vontade, através de cada ser humano e cada criatura do próprio Deus: “mas falamos a sabedoria de Deus em mistério, outrora oculta, a qual Deus preordenou desde a eternidade para a nossa glória” (1Co 2.7).

Dentro dessa ótica da criação de Deus, encontramos algumas criações de Deus que tem sua tarefa específica, seu objetivo de ser criado, sua missão ativa a se realizar neste mundo.

O MUNDO PECADOR AMADO POR DEUS

Em Jo 3.16 encontramos a síntese  da expressão amorosa de Deus pela Sua criação. O mundo está perdido, dessa forma “a responsabilidade do homem pelo mundo é a própria essência do evangelho”[2]. Assim, a “missio Dei é obra de Deus. Ele é o Senhor, o doador da tarefa, o proprietário, o executante. Ele é o sujeito ativo da missão”[3] salvífica no mundo. Exercendo Ele mesmo essa obra, primariamente através de seu Filho Jesus Cristo, Deus encarrega seus súditos a continuarem cuidando do mundo.  Como uma entidade ‘religiosa’ fixada no mundo, “a igreja, surge naturalmente, mas com características sobrenaturais; é uma entidade sociológica com uma natureza espiritual”[4], cujo objetivo é lutar no mundo e pelo mundo.

Deus levantou pessoas no passado e sempre as levantará para encarregá-las do cuidado de Deus pelo mundo, o que é expressado pelos evangelhos. Essa foi a razão  de Jesus Cristo instituir Sua igreja (Mt 28.18-20)*. “Nosso objetivo como igreja é dar nossa vida, proclamar, viver e praticar o evangelho no meio dos problemas e dores da cidade, pobreza e ganância”[5]. Assim, Deus não somente criou, mas também se preocupa intensamente e trabalha para o bem do próprio mundo. Um mundo que Ele criou, que deu Seu único Filho para morrer por esse mundo que, por causa do pecado, se degenerou, se tornando destruído, destruidor e quase sem esperanças. Assim, vemos a ação divina num mundo pecador, amado por Deus, na qual Ele não só trouxe a salvação, como providenciou meios para que esse mesmo mundo tivesse acesso a ela.

Os Meios e os Fins de Deus para o Mundo

Como  alguém que ama e deseja preservar sua criação, o Senhor proveu meios, instrumentos no mundo para que a Sua ação fosse contínua até  o fim dos tempos.

A Igreja como entidade de Deus no mundo
O livro de Atos dos Apóstolos narra  o início da igreja cristã, logo após a ascensão do Senhor Jesus Cristo. Sua missão no mundo entre os humanos estava encerrada. Aquilo que o homem jamais teria condições de realizar por si só agora estava ”consumado”, e a missão do Filho realizada. Contudo, havia ainda milhares de vidas contemporâneas e  em centenas de anos no futuro, que precisariam ouvir o testemunho do Salvador e a mensagem de vida eterna. Assim, surge a igreja, encarregada de  ser uma agência de salvação, no sentido de anunciar os propósitos do Pai através de Seu Filho. Dessa forma, “o Reino de Deus que está parcialmente presente na prática de Jesus é esperado como alvo escatológico. Os seus protagonistas eram os pobres, e os que precisam de justiça”[6] social, ou seja, pão, curas, identidade, liberdade, razão de existência.
A igreja, desde então, se tornou uma mensageira do reino de Deus e também uma agência que luta por uma cultura mais digna, uma humanização justa, os deveres serem cumpridos e para termos um mundo cada vez mais humano. Nossa realidade hoje é bem oposta àquela proposta inicial.  Scherer aponta essa realidade  quando diz que “em  muitos países as igrejas estavam identificadas com o status quo, alienada dos pobres devido a valores de classe média, e cheia de pessoas satisfeitas e enfatuadas que não estão dispostas a olhar para o Lázaro à soleira de sua porta”[7].

Anunciar o evangelho, portanto, não se limita, na ótica de Jesus, a falar palavras de salvação, mas providenciar meios para que as pessoas perdidas na escuridão das trevas tenham, mesmo que não salvas, uma vida melhor e mais justa. A Igreja é uma entidade com multiplicidade de naturezas; ela, “a igreja é sem dúvida chamada para pregar todo o evangelho do reino, um evangelho que tem implicações de justiça social para toda a sociedade”[8]. Desta forma, “ a missão global não é simplesmente a tarefa da igreja, mas a causa do próprio Deus”[9], conseqüência do Seu imensurável amor pela Sua criação, por isso “a igreja em missão não pode existir sem olhar para o mundo com os olhos de Deus. Ela não consegue deixar de questionar os principais problemas que afligem a humanidade (pobreza, discriminação, fome, violência, guerra)[10]”.

A igreja possui uma missão no mundo, que é a de representar todas as ações de Deus, como se Ele estivesse atuando no mundo   ainda    na   pessoa do
Senhor Jesus Cristo.

“A essência da igreja é sua própria tarefa. Ou ela é missionária ou deixa de ser igreja. Porque o próprio Deus é missionário. Por isso o lema para a igreja não é: fazer crescer a igreja aumentando o número de seus membros, mas é: serviço ao  mundo em favor do shalom de Deus. Por isso, uma comunidade não deve visar, em primeiro lugar, a si mesma, mas deve estar voltada para as necessidades do mundo. E  nessa tarefa ela pode e deve  colaborar com todas as demais instâncias que têm em vista um mundo mais sadio, mais fraterno, mais humano”[11].

Assim, a igreja jamais pode negligenciar sua responsabilidade diante do mundo, da sociedade, diante das pessoas e diante do próprio Deus que a arregimentou  para o cuidado com o mundo e com tudo que nele há. Concluímos, diante disso, que “missão significa participar da ação de Deus, do cumprimento de Seu plano para a vida de Seu Reino produzindo entre as nações a obediência da fé em Jesus Cristo, nosso Senhor”[12].

O HOMEM COMO AGENTE DO AMOR DE DEUS NO MUNDO

O mundo como criação de Deus foi entregue à humanidade, não para a sua destruição, mas para a preservação e o cuidado, visando o próprio bem dela. Essa realidade é bem diferente quando olhamos para a destruição da matas; a matança de animais silvestres; a poluição do ar e de todo meio ambiente;  a contaminação dos lagos, rios e mares; sem contar os testes atômicos e produtos químicos que pulverizam do sistema ecológico um ambiente tão puro, belo e necessário para a humanidade, e que foi criado por Deus para o cultivo, felicidade e sobrevivência  do homem.

Em Gênesis 2.15 encontramos a mensagem da preservação do cosmo quando  diz: “Tomou, pois, o SENHOR Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar.” Essa missão englobava não somente o cuidado por parte do homem com a natureza e animais, como principalmente o cuidado  em preservar a integridade e a santidade de Deus manifestada nelas (Sl 19) e o zelo com a coroação de toda criação de Deus: o homem, feito a Sua imagem e semelhança. Dessa forma, todo homem, indistintamente de sua religiosidade, tem a responsabilidade do zelo e cuidado com a natureza e com seu próximo. O maior mandamento  que encontramos nas Escrituras está no evangelho de Mateus 22.37-39: “Amar a Deus sobre todas as cousas”. Isto implica em não destruirmos sua criação e respeitá-la como se ao próprio Deus. “O povo de Deus deve praticar a caridade com o pobre (Dt 15.10-11); deve estar preocupado com a deterioração das condições humanas entre os pobres (Is 61.1-9); e deve advogar a causa do desamparado perante os sistemas de poder (Jr 22.12-27)”[13].

Uma das providências que Deus tomou para que o homem não ficasse só nessa luta foi a descida do Espírito Santo para os auxiliar durante todo o período da militância. Uma vez chegando a plenitude do tempo para a conversão do indivíduo, há a operação espiritual do Espírito na pessoa, que, pelo processo da conversão, passa a fazer parte do Reino de Deus como filho adotivo. Consequentemente, ela  passa a ter uma responsabilidade aumentada no que diz respeito à atuação de Deus, através dela, no mundo. VanEngen afirma que “a conversão plena, no sentido bíblico, é um processo tríplice que implica: 1)a conversão a Deus em Cristo; 2) A conversão à igreja; 3) A conversão ao ministério no mundo pelo qual Cristo morreu”[14].

Deixando de lado a idéia “institucionalizada” de igreja, o que torna subjetivo a responsabilidade individual de cada um na missão de Deus ordenada por Deus, precisamos olhar para a missão como uma obra individual e não coletiva. Scherer anuncia essa idéia quando afirma que “ o verdadeiro contexto para a missão era o mundo, e não a igreja”[15]. Deus trabalha com o ser humano a “varejo”, e não a “atacado”; ou seja, quando falamos do Deus Criador, falamos de um Ser que se envolve pessoalmente, e na pessoalidade individual de cada pessoa. Dessa forma, quando Ele ordena, Sua ordem pode até parecer, nas Escrituras, generalizada, mas
é puramente pessoal e individual. Claramente vemos essa pessoalidade em Apocalipse 20.13, quando encontramos na visão de João um por um, pessoa por pessoa, sendo julgada pelos seus atos ou suas desobediências.

 MINHAS TESTEMUNHAS
Ser testemunha de Deus no mundo implica em ir muito além da pregação do evangelho. Todavia, quando olhamos para a ordem de Deus para sermos Sua testemunha, chegamos a algumas conclusões importantes.  Nos textos Veterotestamentários em que aparece a expressão “minhas testemunhas” (Is 43.10, 43.12; 44.8), a construção hebraica é sempre a mesma; ou seja: “de (ed)” presenciar,  testemunhar,  evidenciar alguma cousa.  A testemunha de Deus não é meramente aquela pessoa que sabe do que fala, que conhece o que é verdadeiro, mas é uma testemunha evidente, como um documento ambulante de Deus. No Novo Testamento (At 1.8) essa mesma expressão aparece na forma grega “martuv (martîus)” que nos transmite a idéia de que a testemunha de Deus é aquela que apresenta um juízo legal, histórico, alguém que não fala despropositadamente, mas que foi ou é espectador daquilo que anuncia e evidencia às outras criaturas. Desta forma podemos perceber que “o cristianismo consiste mais numa prática do que numa teoria”[16].

A missão de Deus no mundo, e consequentemente a ação dEle próprio neste mundo em todas as épocas, pode ser percebida nas mais diversas ações dos Seus súditos e de toda a humanidade em geral (Sl 139.16). Todavia, no que concerne a manifestação das   bem-aventuranças  e   do  juízo de  Deus  no mundo ,
vemos Sua ação somente através do Seu povo, ou seja, dos membros da Sua igreja. “A igreja é uma função do apostolado, a serva da missio Dei, [...] que abarca a esta e ao mundo; [...] A igreja serve a missio Dei no mundo ao aportar para o Deus que age na história do mundo e ao nomeá-lo ali”[17]. Cada cristão que reconhece seu lugar no Reino e o chamado de Deus para si jamais se tornará infrutífero, alienado, descompromissado ou desobediente; e nesse “serviço da igreja realiza-se a missio Dei”[18].

Cada cristão deve se identificar no Reino e a sua ação nele, para que o mundo desfrute das bem-aventuranças de Deus, bem como seja anunciado Seu juízo, e o mundo veja o Deus que o criou, que cuida dele, que lhe providenciou salvação da sua perdição momentânea e eterna. Somente alcançarão essa visão aqueles que de fora do Reino tenham perto de si, dentro do ‘seu’ mundo, testemunhas vivas, reais e presentes lhes anunciando essa salvação e lhes mostrando o caminho de uma vida com o Criador; pois “Missão como causa de Deus significa que Ele reivindica o direito de dispor sobre todos os seus crentes da mesma forma como é Seu desejo compartilhar com todos os seres humanos Seu amor através de Seus crentes”[19].  “Quando a comunidade testemunha a verdade, ela tem que ter consciência de que, ao confrontar o mundo com a verdade, ela própria está sendo colocada perante a pergunta existencial”[20]; qual a razão da sua existência, qual é a sua missão; e para isso temos a garantia de nunca sermos abandonados, mas resguardados de todo mal e desânimo até a consumação dos séculos (Mt 28.18-20).

A TEOLOGIA PRÁTICA COMO AGENTE DE DEUS NO MUNDO

Já vimos que Deus age no mundo através das suas criaturas. Vimos também que a esfera principal, através da qual age e manifesta-se no mundo, é Sua igreja.  Agora, analisaremos a teologia prática como um agente aliado de Deus para a Sua ação no mundo, principalmente no que concerne à Sua manifestação salvífica, abençoadora, redentora e presencial entre as pessoas e o cosmo em geral.

A teologia, desde que há teologia sempre foi a mesma. Contudo, não podemos afirmar o mesmo com respeito à sua prática, pois com o passar dos tempos o cristianismo, influenciado pela ‘sua’ teologia, se tornou  puramente teórico desprovido de pragmátismo, mais uma ideologia filosófica do que uma verdade transformadora. São vários os textos bíblicos em que encontramos o Senhor Jesus Cristo distribuindo teologia fora dos templos, das sinagogas, em meio ao ‘povão’, ensinando a teoria da Sua teologia e praticando-a ao mesmo tempo (Mt 4.17, 23; 5.1; 8.1-4; 8.11-13; 8.14; 8.18; 9.1; 9.10; 9.27-28; 9.35; 11.1 etc). Scherer entende essa realidade da teologia fora dos portões da igreja, quando afirma que “Um Cristo terreno, que foi deitado numa manjedoura, dirigiu-se aos que estavam à margem da vida, afirmou seu senhorio renunciando ao mesmo e acabou sendo crucificado fora dos muros da cidade”[21]; e ainda, ”Jesus , crucificado fora dos muros da cidade, passa do centro à periferia para estar com os pobres, os desprezados, os marginalizados e os oprimidos”[22].

 Nas Escrituras Sagradas contemplamos, numa ótica espiritualista e real,  o quanto Jesus deixou bem forte o exemplo de uma verdadeira teologia divina, que para ser tal, e ter de Deus o aval, necessita antes de ser um anúncio, ser prática. Desta forma, “a teologia prática é a teologia do servir da igreja”[23]. Em Mc 1.22 o evangelista diz: “Maravilhavam-se da sua doutrina, porque os ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas”. Sua exousia (exousia) significava para os judeus um poder nas palavras; plena autoridade de quem fala do assunto que domina, e por isso influenciava com grande facilidade Seu público.

O ensino de Jesus se diferenciava dos demais rabinos,  judeus, pastores e evangelistas contemporâneo Seu. Todavia, isso não se dava na esfera das palavras ensinadas, pois elas eram as mesmas dos outros, mas percebemos essa grande diferença entre Ele e os outros no fato de Jesus, antes de pregar palavra como  teologia, Ele pregava vida. Jamais podemos destituir da teologia sua tarefa de libertação, pois “a teologia prática tem como seu objetivo a libertação dos sujeitos, baseada na fé cristã, numa sociedade livre e justa, a edificação de uma igreja solidária”[24]. Jesus falava como de si mesmo, como alguém que fala da boca de Deus, que de Deus tem a autoridade, uma procuração para falar por Ele próprio. Agindo assim, Ele demonstrava que  Sua autoridade   era  independente do homem, sendo essa a grande diferença que O separava dos  outros pregadores   (cf Mt 7.28-
29). A teologia pode negligenciar sua prática, mas nuca perderá sua essência  prática. Schneider descreve essa realidade de uma vida útil e prática da real teologia dizendo que:
“a tarefa da teologia prática será redescobrir a comunidade cristã como espaço de comunicação, cultivar a pastoral de convivência em pequenos grupos e o culto como celebração da esperança do povo de Deus, povo a caminho do Reino. A valorização da experiência particular do sujeito, de sua biografia, das suas emoções e anseios, de sua busca pôr sentido e felicidade terá a mesma importância que o compromisso ético e profético de solidariedade com os excluídos, as vítimas das sociedades no Terceiro Mundo.”[25]


A teologia sem a sua prática, é uma teologia morta, sem a mínima capacidade de transmitir a vida em abundância que Jesus Cristo anuncia nos evangelhos. Sua vida, entretanto, está sujeita à sua ação no mundo amado por Deus, e pelo qual Cristo morreu. Assim,  vemos que a humanização é o grande clamor do terceiro milênio, e nele,  as pessoas não precisam mais que lhes apresentemos e preguemos as palavras um Cristo muito bem conhecido, mas sim, que pratiquemos a Sua vida e Seu testemunho ao mundo, e no mundo.

CONCLUSÃO



Deus se manifesta de diversas formas no mundo e na sua história. Desde o princípio de toda a criação, até o seu fim a ação de Deus é ativa e real. No decorrer da história Deus agiu no mundo de forma maravilhosa e percebemos Sua Teofania em diversas passagens bíblicas. Contudo, no pleroma de Deus Ele se manifestou de forma humana irrefutável no mundo e em meio à Sua obra criada através do Seu Filho Jesus Cristo. Ele realizou a missão do Pai, que era também a Sua missão como Filho.

Ao completar Sua missão no mundo, o Filho voltou para o Pai, e à Sua igreja derramou-lhe Seu Santo Espírito para os guardar e lhes conduzir na continuidade da obra redentora e de preservação de Deus no mundo. A igreja tem uma responsabilidade de ser agente ativo de Deus, anunciando todos os planos, vontades, ações e teologia de Deus no mundo e para o mundo.

A toda a humanidade o Senhor deu a ordem de cuidado e preservação do cosmo criado por Ele para o deleite e sobrevivência dos que nele habitam. A cada servo em específico, Deus lhes chama das trevas para anunciar aos que perdidos estão, uma luz redentora e transformadora. Este anúncio jamais obterá de Deus aprovação, ou mesmo um resultado satisfatório se ele não for pragmático, se não seguir fielmente as palavras e os passos de Jesus que fazia teologia com as mãos e não somente com dissertações teológicas. A teologia prática é a voz encarnada de Deus no mundo criado e amado por Ele.

BIBLIOGRAFIA


VANENGEN Charles. Povo Missionário povo de Deus. São Paulo: Ed. Vida Nova, 1991.

LINTHICUM, Robert C. Revitalizando a Igreja. São Paulo: Ed. Bom Pastor, 1996.

PADILHA, René C. Missão Integral. São Paulo: Ed. FTLB Temática Publicações, 1992.

SCHNEIDER, Christoph-Harpprecht. Teologia Prática no Contexto da América Latina. São Leopoldo: Ed. Sinodal, 1998.

SCHERER, James A. Evangelho, Igreja e Reino. São Leopoldo: Ed. Sinodal, 1991.

VICEDOM, Georg. A Missão como Obra de Deus. São Leopoldo: Ed. Sinodal, 1996.




[1] BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática, Editora Luz para o Caminho, 1994, pg 127.
[2] PADILHA, René. Missão Integral, Editora Temática publicações, 1992, pg 26.
[3] VICEDOM, Georg. Missão como Obra de Deus, Editora Sinodal, 1996, pg 16.
[4] VANENGEN,Charles. Povo Missionário Povo de Deus, Editora Vida Nova, 1991, pg 50.
*  “Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;  ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século”.
[5] LINTHICUM, Robert C. . Revitalizando a Igreja, Editora Bom Pastor, 1996, pg 49.
[6] SCHNEIDER, Christoph - Harpprecht. Teologia Prática no Contexto da América Latina, Editora Sinodal, 1998, pgs 54-55.
[7] SCHERER, James A. Evangelho, Igreja e Reino, Editora Sinodal, 1991, pg 100.
[8] VANENGEN, Charles. pg 147.
[9] SCHERER, James A., pg 39.
[10] SCHNAIDER, Christoph - Harpprecht, pg 216;
[11] Ibd, pg 182.
[12] SCHERER, James A. pg 77.
[13] LINTHICUM, Robert C. pg 210.
[14] VANENGEN, Charles, pg 195.
[15] SCHERER, James A. pg 73.
[16] SCHERER, James A. pg 55.
[17] Ibd, pg 86
[18] VICEDOM, Georg. pg 39
[19] Ibd, pg 16
[20] Ibd, pg 94.
[21] Scherer,  James A., pg 104.
[22] Ibd. pg 106.
[23] Schneider, Christoph - Harpprecht. pg 27.
[24] Ibd pg 54.
[25] Ibd, pg 331.

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