As reuniões das igrejas e sua definições.

Uma igreja que não se reúne é uma contradição. “Igreja”, de acordo com a Palavra de Deus, é uma assembléia ou congregação, um grupo de pessoas que costumam se reunir unicamente ao nome do Senhor Jesus Cristo. Portanto, toda igreja que é igreja tem que se reunir.

Quando começamos a pensar nestas reuniões, porém, algumas perguntas poderão surgir. O local das reuniões (um prédio específico, uma casa?), o dia e hora (qualquer dia serve?), a finalidade da igreja se reunir (quais atividades fazem parte das reuniões da igreja?), a forma como serão conduzidas as reuniões (abertas, programadas?), tudo isto deve ser analisado.

Para saber onde estamos pisando, porém, é necessário começar com uma definição.

b. O que é uma “reunião de igreja”?
Quero pensar em três pontos relacionados a este assunto. Primeiro, a razão desta pergunta: por que precisamos definir o que é uma reunião da igreja? Em seguida, veremos a definição propriamente dita. Em terceiro lugar, creio ser importante mencionar um perigo que existe se aceitamos uma definição errada de “reunião de igreja”.

b.1. A razão desta pergunta
Por que tentar definir o que é uma reunião da igreja? Alguém pode desprezar uma pergunta como esta, achando que sua resposta é simples e óbvia demais para que percamos tempo com ela. Quero enfatizar, porém, que este ponto não é uma mera questão técnica e teórica, mas algo que afeta a vida prática de uma igreja.

É importante sabermos o que é uma reunião da igreja porque o Novo Testamento faz diferença entre nosso comportamento nas reuniões e nosso comportamento fora delas. Talvez pareça estranho, à primeira vista, afirmar que há coisas que é lícito ao cristão fazer fora das reuniões da igreja, mas que são proibidas quando a igreja está reunida, mas é exatamente este o ensino do Novo Testamento. Em I Co 14:35, por exemplo, aprendemos que as irmãs podem interrogar seus maridos [veja Nota 1] em casa, mas que “na igreja” é vergonhoso para a mulher falar. I Co 11:1-16 também fala da importância dos irmãos descobrirem suas cabeças (e as irmãs cobrirem as suas) quando a igreja se reúne, mas isto não implica numa proibição ao homem de usar um chapéu fora das reuniões da igreja.

Estes, e outros exemplos, nos lembram que há uma diferença bem clara entre nosso comportamento “em casa” e nosso comportamento “na igreja”, e esta é uma das principais razões porque precisamos saber o que é uma reunião da igreja — para sabermos onde aplicar as diretrizes que são específicas para estas ocasiões.

b.2. A resposta
O que é, então, uma “reunião de igreja”? Não precisamos complicar a resposta a esta pergunta. Sem sermos simplistas, podemos dizer que “reunião de igreja” é todo e qualquer ajuntamento promovido pela igreja e aberto a todos os seus membros. Uma “reunião”, diz o dicionário, é “um agrupamento de pessoas para tratar de qualquer assunto”. A “igreja”, o Novo Testamento nos ensina, é composta por um grupo de pessoas que, nascidas de novo, foram atraídas ao Senhor Jesus Cristo por intermédio da ação do Espírito Santo, e reúnem-se regularmente ao nome dEle. Portanto uma reunião de igreja é uma ocasião planejada pela igreja e para que a igreja esteja agrupada num mesmo local.

Devemos destacar dois fatores:

Quem planejou a reunião. Uma reunião só poderá ser descrita como sendo “da igreja” se ela foi programada pela igreja (representada, obviamente, pelos seus anciãos). Isto é, uma reunião marcada por um dos membros da igreja em que toda a igreja é convidada (uma festa de aniversário, por exemplo), não será uma reunião da igreja. Um encontro casual de todos os membros de uma igreja numericamente pequena não é, no sentido deste estudo, uma reunião da igreja. Estamos pensando em algo “oficial”, uma reunião convocada pela liderança da igreja. Ou seja, uma reunião será “da igreja” não simplesmente quando a igreja estiver reunida, mas quando a igreja convocar aquela reunião.
Quem é convidado. Uma reunião só poderá ser descrita como sendo “da igreja” se ela for aberta a todos os membros da igreja. Não é necessário que todos estejam presentes, mas é necessário que todos sejam bem-vindos. Uma reunião somente para uma classe dentro da igreja (jovens, senhoras, etc.) não é uma reunião da igreja. Apesar de ser algo até comum hoje em dia, é algo que o NT não nos autoriza a fazer, nem por ensino nem por exemplo [veja Nota 2].
Quero sugerir que apenas onde houver estes dois elementos pode-se dizer que há uma “reunião de igreja”. Não precisamos estabelecer critérios complicados e obscuros para se definir o que é ou não “reunião de igreja”. Basta afirmarmos que toda vez que a igreja inteira for convocada pela igreja (por meio dos seus presbíteros) haverá uma reunião de igreja.

b.3. O perigo
Antes de deixarmos esta questão da definição do termo “reunião de igreja”, é necessário mencionar que muitos irmãos defendem uma definição diferente de “reunião de igreja”, e destacar o perigo relacionado à esta outra definição.

Muitos olham os exemplos de Atos dos Apóstolos procurando descobrir o que as igrejas primitivas faziam ao se reunir (oração, Ceia, etc.), e afirmam que só haverá uma “reunião de igreja” quando a igreja se reúne para um destes fins. Qualquer outro ajuntamento da igreja não será, na opinião destes irmãos, uma “reunião da igreja”, e portanto não será necessário observar as diretrizes bíblicas que devem governar todas as reuniões das igrejas. Nestas outras reuniões as irmãs costumam ter participação audível (fazem perguntas, escolhem hinos ou corinhos, etc.), o que é claramente proibido nas reuniões das igrejas (veja I Co 14:34-35), o ensino sobre o véu (veja I Co 11:1-16) é deixado de lado, e tudo isso sob a justificativa de que não se trata de uma “reunião da igreja”, e portanto podemos nos comportar como quisermos.

Não posso (e nem quero) julgar a sinceridade ou espiritualidade destes irmãos, mas devo mencionar o erro no qual se encontram. Que autoridade temos para nos reunir para uma finalidade não apresentada no NT? Que autoridade temos para estabelecer um novo tipo de reunião? E pior ainda, uma reunião onde não se precisam observar os princípios bíblicos que governam as reuniões das igrejas de Deus!

Irmãos, há um perigo bem real associado à definição da expressão “reunião de igreja”. Podemos ser tentados a usar a diferença de diretrizes entre nossa vida “em casa” e nossa vida “em igreja” para justificar ou legalizar alguns erros de conduta, estabelecendo “reuniões de igreja” onde tentaremos observar os princípios bíblicos, e outras reuniões onde nós mesmos decidimos o que fazer. Que Deus nos preserve deste erro!

b.4. Conclusão
Uma reunião de igreja, portanto, será qualquer ajuntamento convocado pela igreja (por seus presbíteros) e para a igreja. Entender isto é necessário para que saibamos onde exigir obediência aos padrões de comportamento específicos para tais reuniões. Além disto, entendendo o que é uma reunião de igreja seremos preservados do erro de permitir conduta errada “na casa de Deus, que é igreja do Deus vivo” (I Tm 3:15).

c. Como vamos nos reunir?
c.1. O local
Tendo definido o que é uma reunião de igreja, passemos a considerar agora algumas perguntas relacionadas a este assunto, começando com a questão do local de reunião. Faz alguma diferença o local onde nos reunimos? Para seguirmos o modelo bíblico, devemos nos reunir em casas apenas? O que dizem as Escrituras?

Examinando Atos dos Apóstolos veremos que não é correto dizer que a igreja primitiva sempre se reunia em casas. Parece, é verdade, que isto era o mais comum, mas também lemos deles se reunindo no Templo em Jerusalém (At 2:46; 5:12, 42; etc) e numa escola em Éfeso (19:9).

Ou seja, a conclusão a que chegaremos após ler o livro de Atos é que não há um padrão claro quanto ao lugar onde as primeiras igrejas se reuniam. Cada uma parece ter escolhido o lugar mais adequado às suas necessidades.

Veremos esta conclusão sendo confirmada ao lermos as epístolas. Em nenhum lugar encontraremos alguma instrução sobre o tipo de lugar onde a igreja deve reunir, se prédio próprio ou alugado, se numa casa ou ao ar-livre.

Há, talvez, dois extremos que devemos evitar nesta questão:

Informalidade legalista — ou seja, achar que somente reuniões em casas é que são bíblicas. Alguns insistem categoricamente na informalidade das reuniões, afirmando que precisamos nos reunir em casas apenas (como alguns grupos interdenominacionais que surgiram recentemente no Brasil), esquecendo-se da diversidade de locais de reuniões usados nas Escrituras.
Formalidade. Por outro lado, podemos ir ao extremo de achar que um prédio construído pela igreja para as suas reuniões é um prédio santo, “a casa de Deus”. Este é o perigo mais comum hoje em dia, mas devemos lembrar que a destruição do prédio não significa o fim da igreja. Um prédio próprio é muito útil, mas não é necessário para as reuniões da igreja, que pode se reunir também numa casa, ao ar-livre, etc.
Vendo que em Atos lugares diferentes foram usados, e não encontrando nenhuma instrução específica sobre isto nas epístolas, podemos concluir que não fará qualquer diferença o local onde nos reunirmos. Nossa atração é Cristo, não um templo ou prédio construído por homens.

c.2. O dia e horário
Há dias especiais estabelecidos na Palavra de Deus para nossas reuniões? Ou temos liberdade nesta questão?

Aqui, como em relação ao local das reuniões, veremos (com uma exceção) a variedade registrada em Atos. No início até lemos que reuniam-se “todos os dias” (2:46). Passando para as epístolas, também veremos (novamente, com uma exceção) a mesma ausência de referência a algum dia específico de reunião.

A única exceção diz respeito ao primeiro dia da semana, o domingo. Uma vez em Atos (20:7) e uma vez nas epístolas (I Co 16:2) vemos uma atividade da igreja relacionada a um dia da semana. Em Atos 20 vemos que a igreja em Trôade (ou Troás) reuniu-se no primeiro dia da semana “para partir o pão” (era este o propósito específico daqueles irmãos), e em I Co 16 aprendemos que é também no primeiro dia da semana que a igreja deve levantar suas ofertas.

Destes dois trechos podemos aprender sobre a importância de celebrarmos a Ceia semanalmente, e apenas no Domingo, e que nesta ocasião deveremos levantar ofertas.

Quanto ao horário desta reunião, porém, não temos nenhuma instrução. E quanto ao dia e horário para as demais atividades da igreja, também Deus não estabelece algo fixo. Cada igreja tem a liberdade de programar suas reuniões de acordo com as características da sua localidade.

c.3. A Forma
Finalmente, devemos perguntar: como devem ser programadas e ordenadas as reuniões da igreja? Estou pensando especialmente na prática comum hoje em dia de termos um programa já definido para as reuniões antes delas começarem. Isto seria segundo o modelo bíblico, ou as reuniões deveriam ser “abertas”? Ou deveríamos ter os dois tipos de reunião?

Para responder a estas perguntas, precisamos descobrir como era feito no início, pois é o modelo registrado no NT que serve de guia para nós. Mais importante do que saber o que nossos pais faziam, ou o que é mais prático hoje em dia, é saber o que Deus quer que seja feito.

Não há muitos detalhes sobre a forma como eram conduzidas as reuniões no início desta dispensação, mas a idéia geral que temos ao ler o livro de Atos é que houve certas ocasiões onde a igreja reuniu-se tendo já um assunto e ministrantes pre-determinados, mas que normalmente a igreja se reunia num ambiente de liberdade para a manifestação dos dons, na direção do Espírito Santo. Os exemplos em Atos, e o ensino das epístolas, parecem confirmar isto.

c.3.1. Alguns exemplos específicos em Atos
Analisemos, sob este ponto de vista, as reuniões específicas mencionadas em Atos dos Apóstolos, tentando ver se havia reuniões com propósitos predefinidos, e se, havendo esta predefinição de propósito, havia também uma predefinição do programa da reunião. Neste ponto creio que podemos desconsiderar a primeira reunião, mencionada no cap. 2, pois foi uma reunião atípica — quando ela começou, a Igreja nem existia ainda.

Em 4:23-31 lemos que Pedro e João “foram para os seus, e contaram tudo o que lhes disseram os principais dos sacerdotes e os anciãos. E, ouvindo eles isto, unânimes levantaram a voz a Deus …” Não sabemos se já estavam reunidos quando Pedro e João os encontraram, ou se estes dois convocaram os irmãos. Mas aprendemos que o “programa” da reunião foi flexível. Quando reuniram-se, não havia sido anunciado que Pedro e João contariam o que houve, e que depois passariam um tempo em oração. Parece que houve liberdade para que o Espírito Santo controlasse o andamento da reunião. As notícias tristes de Pedro e João provocaram as orações dos irmãos. Aqui temos, portanto, uma reunião onde nem propósito nem programa foram predeterminados.

Em 6:2-6, lemos de uma reunião que foi convocada para um fim específico. Diante de um problema de ordem material, os doze convocaram os discípulos, apresentaram o problema e sua solução, que foi prontamente aceita pela congregação. Houve, claramente, um propósito predeterminado para esta reunião, e bem pode ser que os apóstolos já haviam também planejado como seria o andamento da reunião. Mas nada é dito sobre este segundo ponto, portanto não podemos afirmar que houve um programa predefinido.

Em 11:1-18, vemos Pedro disputando com “os que eram da circuncisão” sobre a questão de Cornélio. Alguns questionaram a sua atitude, e ele fez uma “exposição por ordem” dos acontecimentos. Como resultado da sua exposição, os irmãos reunidos glorificaram a Deus. Existe a possibilidade de esta reunião ter sido convocada especialmente para este fim, mas não podemos afirmar isto — estes acontecimentos podem ter ocorrido durante uma reunião qualquer da igreja, sem planejamento prévio. Novamente, não vemos nenhuma menção de qualquer programa predefinido para esta reunião.

Em 12:12, lemos de uma reunião que certamente tinha um propósito bem definido: orar pela libertação de Pedro. Quanto à maneira como a reunião foi conduzida, porém, nada sabemos. O propósito da reunião foi predeterminado; a programação, ao que tudo indica, não.

Em 14:27, temos uma reunião para um relatório de Paulo e Barnabé. A maneira como a reunião é descrita indica que foram Paulo e Barnabé quem tomaram a iniciativa de convocar os discípulos (“E, quando chegaram e reuniram a igreja …”). Podemos entender que foi uma reunião com um propósito predefinido — uma reunião para relatório. Novamente, porém, não temos nenhuma indicação quanto à programação da reunião, a não ser que todos já sabiam, antes da reunião começar, que Paulo e Barnabé seriam os preletores (ou, pelo menos, dois dos preletores).

Em 15:4-29, lemos da ocasião quando Paulo e Barnabé, acompanhados de outros irmãos de Antioquia, reuniram-se com a igreja em Jerusalém. Vemos que o propósito principal desta reunião já estava predeterminado — foram para resolver uma questão que, originando-se em Jerusalém, afetou Antioquia. Mas novamente convém destacar que não lemos de nenhuma programação definida antes da reunião.

Em 15:30-32 encontramos a igreja em Antioquia reunida com um propósito específico: ouvir a leitura da carta escrita pelos irmãos em Jerusalém, relacionada com o problema que havia surgido. Quanto à programação, porém, vemos novamente que houve flexibilidade. Tanto é que, após a leitura da carta, lemos que Judas e Silas, que desceram de Jerusalém, “exortaram e confirmaram os irmãos com muitas palavras”.

Em 20:7-12, lemos da igreja em Trôade reunida para partir o pão (propósito predefinido). O desenrolar da reunião, porém, deixa bem claro que, novamente, não havia uma programação predefinida, mas que houve flexibilidade para Paulo pregar largamente até o amanhecer.

Analisando todas estas reuniões [veja Nota 3] perceberemos que os exemplos escolhidos pelo Espírito Santo mostram que era normal [veja Nota 4] para as igrejas nos dias de Atos reunirem-se tendo um propósito predeterminado para a reunião, mas não uma programação predefinida.

Quanto ao propósito. Das oito reuniões aqui analisadas, apenas duas parecem não ter tido um propósito predeterminado, mostrando-nos que era normal, quando as igrejas se reuniam, que houvesse um propósito específico para a reunião. Mas as duas exceções a esta regra são suficientes para nos ensinar que não está errando a igreja que reúne-se ocasionalmente sem ter um propósito predefinido, confiando na direção do Espírito Santo para ver se a reunião terá um caráter mais de oração, ou de ensino, etc.

Quanto à programação. Em nenhuma das oito reuniões analisadas vemos uma programação rígida sendo seguida, ou um “dirigente” humano. Se houve algo parecido, o Espírito Santo preferiu não nos informar sobre isto. Vemos alguns casos em que algumas coisas eram predefinidas (como alguns preletores em At 14:27, ensinando-nos que não erramos quando convidamos um irmão especificamente para pregar, por exemplo), mas mesmo nestes casos havia flexibilidade. Por exemplo, em At 20:7-12 todos já sabiam, antes da reunião começar, que iriam participar da Ceia, mas houve liberdade, após isto, para que Paulo falasse com os irmãos.

Este parece ser o padrão apresentado em Atos quando olhamos para as reuniões específicas mencionadas naquele livro: normalmente um propósito predefinido, normalmente nenhuma programação predeterminada.

c.3.2. O ensino das epístolas
Creio que o único trecho do NT que trata diretamente sobre este assunto é I Co 14, onde temos diversas instruções sobre como os dons devem ser usados para o bom andamento das reuniões das igrejas. Entre muitas coisas proveitosas que o capítulo ensina, é destacada a ação do Espírito Santo em dirigir a reunião. Uma leitura atenta do capítulo mostrará que não há qualquer referência a alguma programação predefinida, muito menos a algum dirigente humano. Aliás, em todo o NT vemos a mesma coisa.

“Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação … Mas, se a outro, que estiver assentado, for revelada alguma coisa, cale-se o primeiro. Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros; para que todos aprendam, e todos sejam consolados.” A descrição é de uma reunião onde diversos irmãos irão participar, cada um com sua contribuição, cada um por sua vez.

Alguns sugerem que a “ordem” mencionada no v. 40 (“Mas faça-se tudo decentemente e com ordem”) indica a necessidade de uma programação predifinida. Creio que o ensino do capítulo todo, porém, mostra que esta “ordem” será produzida pelo Espírito Santo agindo no coração de cristãos submissos a Ele. A expressão “… faça-se tudo …”, repetida duas vezes no cap., divide-o em duas partes. A primeira, do v. 1 ao v. 26, trata da necessidade de edificação, e termina com a exortação: “Faça-se tudo para edificação”. A segunda, do v. 27 ao v. 40, trata da necessidade de decência e ordem, terminando com a exortação acima citada. Olhando para estes versículos (27-40) aprendemos que a “ordem” não é uma escala ou programação, mas sim uma submissão à direção do Espírito Santo, falando um por vez, e assim por diante.

c.3.3. O modelo
Olhando para os exemplos em Atos, e o ensino das epístolas, fica destacada a direção do Espírito Santo nas reuniões das igrejas. Precisamos ter liberdade, nos nossos ajuntamentos, para que Ele possa nos edificar através dos servos que Ele escolher.

O normal será nos reunirmos com um propósito predifinido, mas sem uma programação predefinida. Cada igreja deve ter liberdade, perante o Senhor e por meio dos seus presbíteros, de escolher dias e horários mais adequados para oração, ministério, a Ceia (todo primeiro dia da semana), evangelização, etc. A igreja se reunirá nestes dias e horários esperando na direção do Espírito para definir como será o andamento da reunião.

Convém repetir, porém, que há exemplos que nos mostram que, quando há assuntos ou ocasiões extraordinárias, não estamos ferindo nenhum princípio bíblico se marcamos uma reunião com um preletor já definido. Por exemplo, recebendo a visita de um irmão de longe, podemos aproveitar para reunir a igreja especificamente para ouvir o que Deus tem a nos falar através deste irmão.

Mesmo nestes casos, porém, nossa “programação” deve limitar-se ao estritamente necessário. No exemplo dado no parágrafo anterior, basta convocar a igreja para ouvir o irmão que nos visita. Os outros detalhes da reunião (hinos, orações, etc.) podem ficar “em aberto”. E nada impede que outros irmãos também ministrem a Palavra de Deus, dependendo da disponibilidade de tempo.

Em resumo: sugiro que não é errado definirmos algumas coisas antes da reunião começar, mas é errado definirmos tudo. Um exemplo prático deste modelo em funcionamento é o que acontece em muitas igrejas locais na hora da Ceia. Definimos um “núcleo” central com uma ordem a ser seguida: serão dadas graças pelo pão e todos participarão do pão; depois serão dadas graças pelo cálice, e todos participarão do cálice. Esta seqüência não pode ser alterada, mas todo o restante da reunião fica “em aberto”.

d. Para que vamos nos reunir?
Quanto ao lugar, então, vemos que isto não faz diferença. Quanto ao dia e horário, idem (com a importate exceção da Ceia, celebrada todo domingo). Quanto à forma, vemos que deve haver liberdade para o Espírito Santo agir no nosso meio. Mas, e quanto à finalidade das reuniões? Ou seja, para que a igreja vai se reunir?

d.1. Exemplos específicos
Olhando para o livro de Atos, veremos muito poucos exemplos de reuniões específicas. A Tabela 1 — Reuniões específicas de igrejas em Atos no Apêndice A — Tabelas mostra que, nas reuniões específicas relatas em Atos, houve pregação do Evangelho (2:14-36), oração (At 4:23-31; 12:5, 12-17; etc.), louvor (11:18) [veja Nota 5], relatório (At 14:27, etc.), solução de problemas internos (At 6:2-6 e 15:22), exortação e ensino (At 15:30-32; 20:7-11), e a celebração da Ceia (At 20:7-11).

d.2. Exemplos gerais
Além destas reuniões específicas mencionadas, devemos também levar em consideração as referências gerais existentes em Atos, que se não mostram exemplos específicos da igreja reunida, mostram coisas que eram comuns no ajuntamento daqueles cristãos.

Por exemplo, lemos da igreja em Jerusalém que, “todos os dias, no templo e nas casas, não cessavam de ensinar [didasko], e de anunciar [evagelizo] a Jesus Cristo” (5:42). A palavra traduzida “ensinar” (didasko) é da mesma raiz da palavra traduzida “mestre” ou “ensinador” nas listas dos dons (Ro 12, I Co 12, Ef 4); já a palavra traduzida “anunciar” [evagelizo] é da mesma raiz da palavra Evangelho. A igreja em Jerusalém tinha o costume de reunir-se diariamente, no Templo ou nas casas dos irmãos, e diariamente dedicavam-se ao ensino dos salvos e à evangelização dos perdidos.

Também lemos em 11:26 de como Barnabé e Saulo passaram um ano reuindo-se com a igreja em Antioquia, “e ensinaram muita gente” (novamente é usada a palavra didasko).

Em 15:3 lemos de Paulo e Barnabé, em viagem de Antioquia a Jerusalém, passando pelas igrejas e “contando a conversão dos gentios”. No v. 35 deste capítulo temos mais uma vez as duas palavras usadas em 5:42: didasko e evagelizo, agora relacionadas à igreja em Antioquia.

Além disto, lemos em At 19:9 de como Paulo disputava com a igreja em Éfeso por dois anos numa escola. A palavra usada neste versículo (dialegomai) é semelhante à nossa palavra “dialogar”, indicando mais um debate do que uma pregação.

Também lemos dos batismos realizados na primeira reunião mencionada em Atos (At 2:41). Não é só em reuniões das igrejas que realizaremos batismos, mas este exemplo nos mostra que não erramos se batismos forem parte de uma reunião de uma igreja.

Estes exemplos gerais, portanto, nos mostram as igrejas reunidas para a exposição da Palavra (ensino para os salvos e evangelização para os incrédulos) e realizando batismos.

d.3. “reunidos…“
Também é interessante observar as ocorrências da palavra grega sunago (a palavra traduzida “reunidos” em Mt 18:20) quando relacionada a uma igreja local. A Tabela 2 — Ocorrências de sunago (“reunidos”) em relação a igrejas locais no Apêndice A — Tabelas mostra que esta palavra descreve a igreja reunida para oração, ensino, relatório, resolução de problemas internos, celebração da Ceia e para exercer disciplina.

d.4. Conclusão
Unindo estas três fontes, podemos estabelecer a seguinte lista de atividades que fazem parte do padrão estabelecido por Deus para as reuniões das Suas igrejas:

1) Relatório — inclue-se aqui os relatórios da obra do Senhor em outras regiões (como em At 14:26-27) e os relatórios da própria localidade (como em At 4:23).Este deveria ser um hábito em nossas reuniões. Deve sempre haver liberdade para que os irmão da localidade contem à igreja o que está sendo feito quanto à propagação do Evangelho, e irmãos vindo de outras localidades devem ser incentivados a nos contar um pouco sobre o que Deus está fazendo na região deles.
2) Oração — os relatórios inevitavelmente produzirão oração (mas é óbvio que oraremos também por muitas outras coisas). Nenhuma igreja consegue sobreviver sem oração.
3) Ensino — podemos incluir aqui diversas formas de ensino, como as profecias que ainda existiam naqueles primeiros dias, a pregação da palavra, o estudo em conjunto (At 19:9), etc. A igreja deve ser ensinada de diversas formas diferentes, para que as necessidades dos diversos membros da igreja sejam satisfeitas pelo Espírito usando a Palavra.
4) Evangelização — se o ensino é a exposição das Escrituras para os salvos, a evangelização é a exposição das Escrituras para os incrédulos. É mediante a pregação do Evangelho que Deus quer salvar pecadores, daí a necessidade de cada igreja dedicar-se à evangelização.
5) Ceia — esta é uma reunião à parte, que deve ser celebrada todo primeiro dia da semana. É pela importância que damos à Ceia que demonstramos nossa apreciação do Senhor Jesus.
6) Louvor [veja Nota 6] — é parte integrante da reunião da Ceia, mas não se limita a ela. Louvar não é sinônimo de “cantar” — “louvar” é engrandecer a Deus. Podemos fazer isto por meio de orações, hinos, etc.
7) Resolução de problemas — toda igreja tem assuntos de ordem prática ou doutrinária que precisam ser resolvidos.
8) Disciplina — por mais dolorosa que seja, a reunião de disciplina é importantíssima. Os ançiãos da igreja precisam reunir-se com o membro que falhou, e precisam reunir-se em particular (veja At 15:6) para analisar o erro à luz da Palavra de Deus, e decidir sobre a forma de disciplina a ser aplicada. Depois a decisão destes ançiãos será anunciada à igreja (At 15:22). Baseado em I Co 5, creio que o ideal é reunir a igreja num horário específico para dar este anúncio, e não simplesmente fazê-lo no término de outra reunião.
9) Batismo — todos aqueles que são salvos pela pregação do Evangelho deverão ser batizados.
Quero sugerir que o que temos acima não são nove tipos de reunião, ma sim nove atividades que serão praticadas nas reuniões das igrejas. Cada igreja local escolherá os dias mais indicados para se reunir, e os presbíteros têm a responsabilidade de ver que há oportunidade, nestas reuniões, para todas estas atividades [veja Nota 7].

Também quero sugerir que não temos autoridade bíblica para nos reunir para qualquer atividade que não se enquadre na lista acima. Se realmente cremos que o NT nos fornece um padrão perfeito daquilo que Deus quer, então não poderemos justificar uma reunião para algum outro propósito.

e. Dois princípios importantes
Tendo pensado em diversas questões relacionadas às reuniões de uma igreja local, convém destacar agora dois princípios fundamentais apresentados em I Cor 14, um capítulo cujo contexto trata do uso dos dons. No cap. 12 vemos os dons dados à igreja; no cap. 13, a necessidade de o amor controlar o uso dos dons; e no cap. 14, a forma de usar estes dons. O cap. 14 pode ser dividido em duas partes principais, notando a repetição da expressão “faça-se tudo”:

“Faça-se tudo para edificação“ vs. 1-26
“Faça-se tudo decentemente e com ordem“ vs. 27-40
e.1. Para edificação
A primeira parte do capítulo trata, portanto, da necessidade de usar os dons para a edificação da igreja, e alguns princípios são apresentados para nosso ensino. O texto mostra, entre outras coisas, que só será para edificação aquilo que é inteligente e aquilo que é claro.

e.1.1. Palavras “inteligentes“
A primeira coisa importante a destacar é que quando me levanto na igreja, eu tenho que saber o que quero dizer. O texto diz: “Orarei com o espírito, mas também orarei com o entendimento [nous]; cantarei com o espírito, mas também cantarei com o entendimento [nous] … quero falar na igreja cinco palavras na minha própria inteligência [nous] …” Ou seja, nosso “entendimento” (nous — isto é, nossa inteligência, nossa capacidade lógica) estará sendo usada nas reuniões da igreja, pois o serviço audível nestas reuniões deve ser um serviço feito com a razão.

Pode ser que esta afirmação seja mal entendida, portanto permita-me destacar duas coisas que não estou querendo dizer:

Que nosso serviço na igreja será frio e mecânico, sem qualquer participação emocional, pois Paulo enfatiza tanto o aspecto emocional (“orarei com o espírito”) quanto o aspecto intelectual (“orarei com o entendimento”). Dizer que devemos servir a Deus na igreja usando nossa inteligência não quer dizer que não devemos usar nossas emoções. É necessário haver plena harmonia e cooperação entre meu espírito e meu entendimento quando procuro servir a Deus.
Que quem é mais inteligente (i.e., tem um QI maior) é mais capacitado para servir a Deus. Há outras partes do NT que deixam claro que a inteligência humana de nada serve nas coisas divinas (I Co 1:18 a 2:16, por exemplo). Um doutor muitas vezes tem muito a aprender, na igreja, de um homem sem muita instrução humana. O ensino aqui não é que o entendimento humano determina ou controla o serviço, mas simplesmente que ele é uma das ferramentas que Deus quer usar.
A chave para entendermos este assunto é lembrar que o cristão é renovado em todos os aspectos da sua pessoa, inclusive a sua mente. “Se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram, eis que tudo [inclusive a mente] se fez novo” (II Co 5:17). Em Lc 24:45 lemos de como o Senhor abriu o entendimento dos discípulos para compreenderem as Escrituras. Em Ro 12:2 aprendemos que devemos ser transformados pela renovação do nosso entendimento. Mais ainda, em I Co 2:16 é dito que “nós temos a mente de Cristo.” Também vemos o outro lado da moeda: aqueles que resistem à verdade têm uma mente corrompida (veja II Tm 3:8; Tt 1:15). Ou seja, conforme nos submetemos à vontade do Senhor e procuramos servi-Lo, nossa mente humana, tão fraca e corrompida naturalmente, vai tornando-se capaz de compreender as profundezas de Deus, e de entendermos coisas que o incrédulo nunca entenderá.

Lembrando disto, entendemos o ensino deste trecho. Como incrédulos, Deus não podia usar nada em nós. Os membros do nosso corpo (mãos, língua, mente, etc.) eram usados pelo pecado como instrumentos de iniqüidade (Ro 6:13), sempre desagradando a Deus. Mas agora, libertados do pecado e feitos servos da justiça, podemos nos apresentar a Deus para sermos usados por Ele no serviço dEle. E este trecho nos mostra que o Espírito Santo quer usar, não só nossos corpos e nossa boca, mas também nossa mente. Não é que vamos confiar na inteligência humana, mas sim que vamos orar a Deus para que Ele ilumine nossa inteligência para entendermos a Sua Palavra, e assim poder transmiti-la aos outros. Vamos gastar tempo preparando nossa contribuição: pensaremos naquilo que queremos apresentar aos irmãos, pensaremos na mensagem do Evangelho que queremos transmitir aos incrédulos, pensaremos no que iremos apresentar a Deus em oração (“orarei com o entendimento”), pensaremos no hino que queremos escolher (“cantarei com o entendimento”), e assim por diante. E se não tivermos nada para falar, não iremos falar nada!

Quantas vezes servimos a Deus sem entendimento, sem inteligência, movidos unicamente pelas nossas emoções! Veja dois exemplos:

Às vezes levantamos para orar, ou escolhemos um hino, ou até levantamos para pregar, só porque ninguém mais levantou-se e o silêncio nos incomoda, e não porque sabemos que temos algo colocado pelo Espírito em nossas mentes para edificar a igreja. Um período de silêncio numa reunião, porém, pode ser muito proveitoso para meditarmos naquilo que já foi dito. Também é verdade que muitas vezes o silêncio é culpa da nossa falta de preparo. Chegamos despreparados na reunião, achando que outros supririam nossa falta, e eles fizeram o mesmo. É sempre triste quando isto ocorre, mas não adianta tentar consertar um erro com outro erro. Não adianta levantar sem ter nada para dizer. Devemos, sim, nos preocupar diariamente em buscar a presença de Deus para que, quando a igreja se reunir, cada um de nós tenha algo a apresentar. Mas levantar-se só porque ninguém mais levantou não é servir a Deus inteligentemente — é uma indicação de falta de paciência e de falta de preparo.
Em outras situações, levantamo-nos para participarmos porque queremos nos destacar entre os irmãos. É vergonhoso reconhecer isto, mas tal é nossa natureza humana. Temos a tendência de procurar os primeiros lugares, e podemos ser tentados a levantar simplesmente para impressionar nossos irmãos ou ouvintes. Isto é ser motivado pela minha natureza carnal, e não por uma mente espiritual.
Há outras formas em que podemos desobedecer este ensino — estas servem de ilustração. Que possamos lembrar da importância de colocarmos nossas mentes ao serviço do Senhor. Eu preciso gastar tempo em casa, todo dia, com Deus e com a Sua Palavra, para que quando a igreja se reunir Deus possa usar aquilo que armazenei da minha mente (e que Ele colocou ali) para a edificação da igreja.

Para que meu serviço para Deus nas reuniões da igreja edifique, tal serviço precisa ser inteligente. Se eu não tenho nada para falar, é melhor não falar nada.

e.1.2. Palavras claras
O texto também nos ensina que, para edificar, minhas palavras precisam ser claras. O v. 9 diz: “Assim também vós, se com a língua não pronunciardes palavras bem inteligíveis, com o se entenderá o que se diz?” A palavra traduzida “bem inteligíveis” é uma palavra composta que poderia ser traduzida “bem claras”. O argumento principal deste trecho é que, se ninguém entende o que eu falo, era melhor nem ter falado. Se eu falo e você não entende, somos bárbaros (isto é, estrangeiros) um para o outro.

Pensando nisto, encontraremos o enquilíbrio em relação ao ponto anterior. Minha participação audível nas reuniões da igreja precisa ser inteligente, mas também precisa ser clara. Se eu uso palavras que meus ouvintes não conhecem, ou se me preocupo apenas com o modo de construir minhas frases, qual o proveito nisto? Alguns poderão ficar impressionados com minha capacidade oratória, mas se não entenderem o que eu quis dizer não houve edificação.

Irmãos, temos que ser claros e diretos. Nada de ficar floreando, insinuando, usando parábolas e metáforas — sejamos claros e diretos. Precisamos sentir o mesmo peso que sentiam os profetas e servos de Deus do passado. Compareciam diante de seus ouvintes e clamavam: “Assim diz o Senhor!” Quantas vezes nós perdemos tempo nas orações, no evangelismo e no ensino porque ninguém sabe o que estamos tentando dizer. Ah, se cada vez que eu me levantasse, em oração ou para pregar, houvesse um alvo bem claro diante de mim (a “inteligência” do ponto anterior), e uma preocupação tão grande em transmitir isto fielmente aos ouvintes, forçando-me a ser bem claro nas minhas palavras.

Ou seja, para que meu serviço para Deus nas reuniões da igreja edifique, tal serviço precisa ser entendido.

e.1.3. Conclusão
Tudo que é feito nas reuniões da igreja, portanto, deve ser para edificação. Dois pontos são especificamente mencionados: só irá edificar aquele que sabe o que quer dizer (fala com inteligência), e que diz aquilo que quer dizer (fala claramente). Além disto, devemos aplicar este princípio a tudo aquilo que fazemos na igreja local. Não nos preocupemos com o que agrada à vaidade humana, com o que distrai ou atrai, mas com o que edifica.

e.2. Decência e ordem
O segundo princípio apresentado neste capítulo é que tudo deve ser feito com decência e com ordem. Dois aspectos específicos disto são apresentados no texto: o auto-controle dos irmãos e o silêncio das irmãs.

e.2.1. O auto-controle dos irmãos
O Espírito Santo mostra que aquele que tem algo a falar irá esperar a oportunidade apropriada para falar. Numa igreja onde o Espírito Santo esteja dirigindo os irmãos, não haverá atropelamentos ou concorrência. Se um irmão prepara-se para levantar e percebe que outro irmão está com a mesma intenção, ele saberá esperar a sua vez com paciência em Deus.

Para a mente humana, uma reunião sem uma programação predefinida acabaria em bagunça. Se tivermos, porém, o desejo de fazer tudo decentemente e com ordem, isto jamais acontecerá. Entenderemos que, mais importante do que falar o que tenho em mente, é honrar a Deus pela demonstração de um espírito humilde. Havendo confusão, com dois ou três procurando falar ao mesmo tempo, ou todos achando que devem falar e cansando os irmãos, traremos escândalo ao Evangelho. É necessário esperar uns pelos outros (I Co 11:33).

e.2.2. O silêncio das irmãs
Outro aspecto da ordem divina nas reuniões da igreja é que as irmãs não participarão audivelmente [veja Nota 8]. O assunto é apresentado aqui e em I Tm 2:9-15 com tanta clareza que dispensa maiores comentários, para efeitos deste estudo. Se uma irmã fala numa reunião de uma igreja local, ela está agindo indecentemente e desordenadamente.

e.2.3. Conclusão
Tudo que é feito nas reuniões da igreja, portanto, deve ser com decência e ordem. Dois pontos são especificamente mencionados: aqueles irmãos que podem falar irão esperar sua oportunidade, e as irmãs entenderão que não devem falar durante a reunião. Além disto, devemos aplicar este princípio a tudo que fazemos na igreja local.

Procuraremos estar nas reuniões decentemente vestidos. Não exigindo uma vestimenta especial (como era com os sacerdotes no VT), mas lembrando que escolhemos nossa roupa de acordo com a ocasião. Quando nos reunimos com a igreja de Deus ao nome do Senhor Jesus Cristo, sem dúvida devemos escolher uma roupa adequada, decente e apresentável.

Procuraremos chegar ao local de reunião com alguns minutos de antecedência, para que reunião possa começar na hora marcada. As nossas naturezas são diferentes, e devemos levar isto em consideração, mas por questão de respeito aos demais membros da igreja, e para mostrar que damos valor às reuniões da igreja, faremos todo o esforço possível para cumprir os horários estabelecidos para as reuniões, procurando chegar antes para que possamos nos preparar em espírito para aquela hora, e para que tudo seja feito com ordem.

e.3. Conclusão
Em tudo aquilo que fazemos nas reuniões da igreja, portanto, estes dois princípios devem estar diante de nós: tudo precisa ser para edificação, e tudo precisa ser feito com decência e ordem. Se devemos evitar o formalismo frio das tradições humanas, que não podem edificar, por outro lado devemos evitar a falta de reverência e a desordem que normalmente caracterizam aquilo que não é planejado detalhadamente. Devemos buscar orientação divina para sermos agradáveis a Deus em tudo aquilo que fazemos.

W. J. Watterson

Apêndice A — Tabelas
Tabela 1 — Reuniões específicas de igrejas em Atos

Apenas estão incluídas na tabela acima as referências a reuniões específicas, não referências que descrevem de forma geral as atividades das igrejas.

Tabela 2 — Ocorrências de sunago (“reunidos”) em relação a igrejas locais

Tabela 3 — Propósito e programação das reuniões específicas em Atos

Notas de Rodapé
[Nota 1] — Repare que a palavra aner usada no texto original pode ter o significado de “marido”, ou simplesmente “homem”; o contexto é que determina. Portanto, a objeção comumente apresentada a este versículo (isto é, que uma mulher solteira não tem marido a quem perguntar) não procede. A mulher solteira (ou viúva) sempre terá um homem a quem recorrer — seja marido, irmão, pai, ou um dos presbíteros ou ensinadores da igreja. [voltar ao texto]

[Nota 2] — O único exemplo bíblico de uma reunião promovida por uma igreja, mas não aberta a toda a igreja, é a reunião dos apóstolos e anciãos em At 15:6-21. Ainda hoje é necessário que os presbíteros de uma igreja reúnam-se regularmente para orar e conversar sobre a vida de uma igreja local, querendo ser guiados por Deus nas suas decisões. Tal reunião não é, tecnicamente, uma reunião “da igreja”, mas é uma reunião bíblica e necessária para o bom funcionamento de uma igreja local. [voltar ao texto]

[Nota 3] — Veja também a Tabela 3 — Propósito e programação das reuniões específicas em Atos, no Apêndice A — Tabelas. [voltar ao texto]

[Nota 4] — Alguém pode argumentar que os exemplos mencionados pelo Espírito Santo são muito poucos para que possamos, baseados neles, estabelecer um padrão. Do ponto de vista humano este argumento é válido. Se lembrarmos, porém, que o NT foi escrito por Deus para a nossa instrução, então aceitaremos que os exemplos, mesmo que sejam poucos, estão ali para nos ensinar como Deus quer que seja feito ainda hoje. Havia práticas diferentes naqueles dias? Talvez. Mas que importa? O livro de Atos nos apresenta o modelo que Deus quer ver em prática hoje. [voltar ao texto]

[Nota 5] — Nem todos irão concordar que este trecho descreve uma reunião da igreja — creio que há alguma dúvida quanto a isto. O fato de serem mencionados os apóstolos e os irmãos na Judéia (v. 1), a maneira como lemos de Pedro fazendo “uma exposição por ordem” (v. 2), e o resultado da exposição de Pedro (v. 18) parecem indicar que estes fatos aconteceram numa reunião da igreja. Mas reconheço que muitos podem pensar de outra forma nesta questão. [voltar ao texto]

[Nota 6] — Se alguém quiser desconsiderar o “louvor” por ter sido mencionado, neste estudo, apenas em relação a At 11:1-18 (que para muitos não descreve uma reunião de uma igreja, mas um ajuntamento informal), basta lembrar das referências nas epístolas ao louvor (Ef 5:19, etc.). [voltar ao texto]

[Nota 7] — É claro que a resolução de problemas, a disciplina e o batismo não serão, normalmente, atividades semanais e regulares das igrejas locais. [voltar ao texto]

[Nota 8] — A não ser, é claro, no cântico congregacional, onde a igreja ergue uma só voz ao céu. Participando assim elas não estão desobedecendo a instrução relativa ao silêncio nas reuniões. [voltar ao texto]

 
Oi, Diogo Fukuoka


    

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