Esmurrando o Corpo.

Paulo, escrevendo aos Coríntios disse: "Tudo faço por causa do evangelho, com o fim de me tornar Cooperador com ele. Não sabeis vós, que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. Todo atleta em tudo se domina; aqueles para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível. Assim corro também eu, não sem meta; assim luto, não como desferindo golpes no ar. Mas esmurro o meu corpo, e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado". (I Coríntios 9:23-27).
No versículo 23, Paulo se apresenta como um servo de Deus, um pregador do evangelho. "Tudo faço por causa do evangelho", diz ele; e tendo de­clarado que atitude voluntária adotou para consigo mesmo, com o fim de realizar o seu objetivo, isto é, "mas esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão", ele nos relata como é que cumpre es­ta resolução de manter o domínio sobre seu corpo.
Desejamos, antes de tudo, deixar claro que o autor da epístola aos Coríntios não era um ascéti­co. Ele não concorda com os que ensinam que o corpo é um estorvo do qual devemos nos desfazer, é nem tampouco que ele seja a fonte do mal.
Pelo contrário, na mesma carta ele declara que o corpo do cristão é o templo do Espírito San­to, e que o dia virá, quando a redenção do nosso corpo será uma realidade e teremos corpos glorificados. Nenhum traço de asceticismo deve estragar a concepção cristã acerca do "esmurrar o corpo". Repudiamos o pensamento de que o corpo é um embaraço para nós e que é a fonte do pecado; po­rém, na verdade reconhecemos que podemos pecar com o corpo, e que ainda continuaremos a fazê-lo, mesmo que venhamos a tratá-lo drasticamente.
Neste nono capítulo de I Coríntios, Paulo con­fronta os obreiros cristãos com o desafio de fazer do corpo um subservo de seus interesses, como servos de Cristo. É como um obreiro cristão, como um pregador do evangelho que Paulo descobre o problema, e é pelos interesses do evangelho que ele procura resolvê-lo. Aqui está sua solução; "Es­murro o meu corpo, e o reduzo à escravidão. O termo "esmurrar" não é um termo leve; não há qualquer sugestão de meias medidas no tratamen­to de Paulo para consigo.
Agora, como Paulo esmurra seu corpo e ad­quire o domínio sobre o mesmo, ele explica clara­mente. Sendo este um assunto de suprema impor­tância para todo obreiro cristão, vamos observar cuidadosamente o que ele tem a dizer sobre isto. Aplicando de uma maneira prática para os servos do Senhor, Paulo usa como ilustração uma corri­da. "Não sabeis vos", diz ele no versículo 24, "que os que correm no estádio, todos, na verdade correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis". Paulo diz que nem to­dos que entram na corrida são ganhadores do prê­mio e ele exorta seus leitores a correrem de tal maneira, que o possam alcançar. Como isto pode ser feito, ele explica no versículo 25, tirando sua analogia dos jogos olímpicos. "Todo atleta em tu­do se domina". Paulo enfatiza a necessidade de auto-disciplina por parte de todo competidor. Aqueles que competem pelo prêmio devem exer­cer um controle rigoroso sobre si mesmos. Antes dos jogos, durante o período de treinamento, não podem comer quando desejarem nem o que dese­jarem; muitas cousas que normalmente seriam permitidas, já não são mais. E quando entram na corrida, fortes regras devem ser usadas; do con­trário, estarão desqualificados.
Você diz: Eu preciso ter isto, preciso ter aquilo. Está bem! Se você não é um competidor nos jogos, você pode; mas se você é, então, você deve ter o seu corpo sob absoluto controle. O que significa a expressão "em tudo se denomina"? Significa que não devemos permitir que o corpo faça exigências excessivas; sua liberdade tem que ser cortada. O corpo não está na corrida para satisfazer suas exi­gências relacionadas à comida, bebida, vestimenta ou dormir; ele está lá para realizar uma função — correr, e correr de tal maneira que o prêmio seja garantido.
Paulo continua a discorrer, lançando mão da mesma ilustração: "Aqueles para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível". O vencedor nos jogos Olímpicos era coroado com uma coroa de louro; todavia, para alcançá-la, ele sujeitava-se a uma rigorosa disciplina durante bom período. Que auto-controle, então, não de­vemos nós exercitar para ganharmos a coroa in­corruptível?
"Assim corro também eu, não sem meta; as­sim luto, não como desferindo golpes no ar", diz Paulo, ainda desenvolvendo seu tema. Ele não es­tá sujeitando-se a toda essa disciplina à toa; ele tem em vista um objetivo claro; ele está indo di­reto para a meta. Este versículo tem que ser lido em união com o próximo. Ele não está correndo para lã e para cá, e não está lutando ao acaso; todos os seus movimentos são regulados, pois tem o seu corpo estritamente sob seu poder, e tem se tornado capaz de ganhar o senhorio sobre ele, disciplinando-o violentamente.
Irmãos e irmãs, se vocês ainda não trouxe­ram os seus corpos sob controle, seria melhor vocês refletirem sobre a obra e adquirirem do­mínio sobre eles, antes de tentarem exercer auto­ridade em qualquer esfera mais ampla. Você pode ter um grande prazer na obra, mas ela será de rouco valor se você for dominado pelas suas sú­plicas físicas. Servir ao Senhor não é só um pro­blema de pregar sermões de uma plataforma. Paulo sabia disto.
O que implica em trazermos nossos corpos à servidão? Para entendermos isto, devemos primei­ramente saber quais são as exigências do corpo. Falaremos apenas de algumas delas: comida e vestimenta; descanso e recreação; e em tempos de doença, um cuidado especial. Todas essas exigên­cias são legítimas, mas o obra do Senhor faz suas exigências também; e, se eu preciso cumprir estas, naturalmente terei que impor restrições ao corpo Quando a obra faz exigências especiais na parte física, esta só será capaz de suportar a necessi­dade, se tem sido constantemente disciplinada. Mas, se suas súplicas têm tido normalmente a permissão de governar, então estará sem condi­ções quando um trabalho árduo for requerido. Se o corpo não tem aprendido, habitualmente, a ser­vir seu mestre, quando este pedir que seus mem­bros ponham seus esforços coordenados na corri­da, os pés se recusarão a funcionar e os outros membros estarão muito lerdos para obedecer or­dens. Se a corrida é para ser vencida, o atleta não ousa relaxar suas restrições sobre o corpo quando este está fora da corrida. Se na vida nor­mal e cotidiana de um obreiro cristão, seu corpo nunca aprender a conhecer o seu mestre, como podemos esperar que ele responda às exigências extraordinárias que às vezes o obreiro terá que fazer sobre ele por causa da obra? Só se você fir­mar persistentemente a sua autoridade, é que ele irá eventualmente ceder á você o seu lugar.
Se, na vida diária, ele tem adquirido o hábito de obede­cer, você então pode contar com ele para lhe ser­vir fielmente, sob circunstâncias de excepcional necessidade.
Permita-me perguntar-lhe: Você é o senhor de seu corpo, ou você é seu escravo? Ele se submete às suas ordens, ou você se entrega aos seus desejos?
O seu corpo regularmente exige que você dur­ma, e esta exigência é permitida. Deus dividiu o tempo em dia e noite, provendo ao homem uma oportunidade de descansar; e, se o homem fizer pouco caso da provisão divina, ele não fará isto sem sofrer a pena. Por outro lado, se ele per­mite que o seu corpo governe e deixa que ele dur­ma quando quer que este se sinta inclinado a fa­zê-lo, ele se tornará mole e preguiçoso para tra­balhar. Normalmente, é certo dar ao corpo oito horas de descanso por dia. Porém, quando os in­teresses do Senhor o requerem, temos que redu­zir as horas de sono, ou até deixar de dormir por uma ou duas noites. Aquela noite, no jardim do Getsêmani, o Senhor tomou à parte três de seus discípulos e disse-lhes: "A minha alma está pro­fundamente triste até à morte; ficai aqui e vi­giai". Mas quando voltou da oração, Ele os achou dormindo, e disse a Pedro: "Simão, tu dormes? Não pudestes vigiar nem uma hora?" Não, eles não podiam vigiar com o nosso Senhor nem por uma hora; a súplica pelo sono os venceu. O que está errado em querer dormir à noite? Nada. Mas, se o Senhor nos pede para vigiarmos com Ele e nós obedecemos às súplicas de nosso corpo, invés de Lhe obedecermos, teremos falhado como Seus servos. Isto não quer dizer que podemos ficar eternamente sem dormir, pois somos seres humanos e não espíritos; mas isto, na realidade, significa que se queremos satisfazer a necessidade do Senhor, devemos manter constantemente o corpo sob con­trole, para que este se torne acostumado à fadiga.
O que significa correr a corrida? Significa fa­zer alguma coisa excepcional. Normalmente, ca­minhamos gradativamente, dando um passo após o outro, mas na corrida temos que apressar o pas­so. Portanto o corpo é chamado para exercer um esforço extra. Como regra, podemos permitir-nos oito horas de sono; porém, quando o serviço de Deus exige estas horas, devemos estar preparados para reduzir nossas horas de descanso; é quando isto ocorre, que devemos esmurrar o corpo. Quan­do nosso Senhor achou seus discípulos dormindo, depois de ter-lhes seriamente pedido que vigias­sem, Ele expôs o problema: "O espírito, na verda­de, está pronto, mas a carne é fraca". De que adianta ter um espírito pronto se a carne é impo­tente para fazer o que o espírito deseja? Se a car­ne está fraca, mesmo um espírito pronto não po­de manter você acordado. Se você deve vigiar com o Senhor quando Ele pede, você irá precisar de um corpo pronto tanto quanto um espírito pronto. O corpo não é um estorvo, é um servo que neces­sita de treinamento para servir bem; e o treina­mento tem que ocorrer sob circunstâncias, costu­meiras para que então, este esteja sempre pronto para satisfazer a exigência de circunstâncias ex­traordinárias.
Nicodemos veio ao Senhor à noite, e o Senhor podia conversar com ele sem cansaço, apesar da hora. Os evangelhos relatam que às vezes o Se­nhor podia passar noites inteiras em oração. Ele estava preparado para permitir que o seu ministé­rio vencesse o Seu sono; e nós precisamos estar preparados para fazer o mesmo. Não estamos in­centivando os obreiros cristãos a cultivarem o há­bito de passar noites em oração. Trocar a noite pelo dia e constantemente passar as horas da noi­te em oração é estragar o corpo e a mente, pois isto é anormal; contudo, perguntamos; é normal para os servos do Senhor nunca sacrificarem seu sono por causa da Sua obra? Se, neste caso do sono, fizermos habitualmente a vontade do corpo, ele irá recusar quando tentarmos impor-lhe qual­quer restrição, para satisfazermos alguma exigên­cia especial da obra.
O mesmo princípio se aplica no problema de comida e bebida.
Sob circunstâncias especiais, nosso Senhor podia abster-se de comida, mas quando não havia necessidade de abstinência, Ele podia comer bem. Seu corpo tinha que obedecê-Lo. Algumas pessoas dependem tanto de comida, que não podem trabalhar se tiverem que ir com fome. Sem dúvida, precisamos de comida e não ousamos ignorar nossas necessidades físicas; toda­via, o corpo deve estar treinado para ficar sem alimento quando as circunstâncias exigirem.
Você se lembra da ocasião quando o Senhor sentou-Se ao lado do poço de Jacó para descan­sar um pouco e foi trazido face a face com uma mulher em grande necessidade. Era hora de co­mer, mas o Senhor ignorou sua própria necessi­dade física e pacientemente mostrou a ela como que sua necessidade espiritual podia ser solucio­nada. Se chegarmos famintos em algum lugar e não conseguimos fazer nada até que nos alimente­mos, nossos corpos não estão nos servindo como devem. Sem sermos extremistas, certamente de­veríamos ter controlado-lhes até o ponto mínimo de deixarmos de lhes dar uma refeição, por causa da obra, para que eles não nos vencessem através de suas insistentes súplicas por comida.
No terceiro capítulo do evangelho de Marcos, lemos que o Senhor estava cercado por tão gran­de multidão de necessitados, que nem tinha opor­tunidade para comer. Seus, parentes reagiram pro­curando tirá-lo da multidão, pois diziam que es­tava fora de Si; mas Ele não podia fazer outra coisa senão renunciar por hora Suas próprias ne­cessidades físicas, por causa da urgente necessi­dade da multidão. Se você ou eu nunca pudermos perder uma refeição quando a obra exige nossa atenção imediata, então faremos um trabalho pou­co eficaz. Em tais ocasiões devemos frear nossos corpos por medo que eles consigam a superiori­dade e os interesses do Senhor sofram. A bíblia determina claramente que os cristãos devem jejuar quando a situação exige. Algumas vezes a situação pede oração prolongada que não deixa tempo para comer, e quando encontramos uma situação que não aceitará a oração separada do jejum, devemos, temporariamente, recusar as exi­gências racionais do corpo.
Uma outra exigência do corpo é o conforto. Não ousamos achar erro num obreiro que desfrute d'uma medida de comodidade quando as circuns­tâncias o permitem; no entanto, o que devemos lamentar, é da incapacidade do mesmo responder ao chamado do trabalho, por este não estar provi­do do conforto ao qual ele estava acostumado. Os servos do Senhor devem ser capazes de desfru­tar do relaxamento em condições mais fáceis, quando Ele assim ordena; e, aqueles que, apesar do fato de estarem confortavelmente situados, comumente esmurram o corpo, estarão mais capazes de se adaptar à circunstâncias de grande descon­forto do que aqueles cuja comodidade é inferior a daqueles, mas não têm se habituado a trazer Deus corpos à sujeição.
Em relação à vestimenta, não devemos dar indevida atenção. O Senhor Jesus, referindo-se a João Batista, disse que se alguém quisesse ver uma pessoa elegantemente vestida, nele não haveria ne­nhuma boa aparência; o lugar para ser visto era no palácio real. Alguns cristãos, contudo, têm estabelecido para si um padrão demasiadamente alto no que se refere à vestimenta, e insistem em sem­pre concordar com isto.
Asseguramos que o fato de vestirmos roupas de má aparência não signifi­ca que estamos glorificando ao Senhor; sim, de­vemos, quando possível, estar limpos, asseados e convenientemente vestidos; todavia, não devemos esquecer do exemplo que nos foi dado por Paulo, o qual, por causa do Senhor, podia deixar que tudo lhe faltasse.
Relatando suas próprias experiências, ele escreve: "em fome e sede, em jejuns muitas ve­zes; em frio e nudez" (II Coríntios 11:21).
Em tempos de doenças ou fraquezas o corpo faz exigências mais severas do que antes, e sob tais circunstâncias, muitos obreiros cristãos se des­culpam de não poderem trabalhar. Como podia Paulo ter feito o trabalho que lhe foi confiado se tivesse hesitado ao se sentir incompetente? E, o que teria acontecido com o ministério de Timóteo, se ele tivesse tratado seu corpo com delicadeza, quando sofria de suas "freqüentes enfermidades"? É necessário que tomemos um cuidado razoável de nós mesmos, na doença e na saúde, mas isto não anula a necessidade de esmurrarmos o corpo e reduzi-lo à escravidão. Mesmo em ocasiões de doença e dor intensa, Se o Senhor assim o orde­na, podemos recusar a dar ouvidos aos seus cla­mores e obedecê-Lo. Se queremos ser úteis para Ele, é imperativo que ganhemos total senhorio so­bre este nosso corpo.
Este principio deve ser aplicado, tanto para o desejo sexual como também para todas as outras súplicas do corpo. Se somos servos de Cristo, então Sua obra deve ter prioridade sobre as demais cou­sas. Em I Coríntios 4:11-13, Paulo diz: "Até a presente hora sofremos fome, e sede, e nudez; e somos esbofeteados, e não temos morada certa, e nos afadigamos, trabalhando com as nossas pró­prias mãos. Quando somos injuriados, bendize­mos; quando perseguidos, suportamos; quando ca­luniados, procuramos conciliação: até agora temos chegado a ser considerados lixo do mundo, escó­ria de todos". É óbvio que os muitos sofrimentos de Paulo não foram resumidos a um período iso­lado de sua vida, e que nenhum deles conseguiu impedir o serviço para o seu Senhor. No sexto capítulo desta mesma epístola, do versículo 12 até o fim, ele refere-se a dois problemas — o proble­ma de alimento e o problema sexual; e deixa bem claro que somos servos do Senhor, não do corpo. Depois, no capítulo sete, ele trata do assunto se­xual com mais detalhes e no capítulo oito, do assunto de alimento, enfatizando o seu parecer de que não estamos sob a obrigação de fazer a von­tade da carne, pois pertencemos a Cristo e deve­mos servi-Lo. Por sua causa precisamos aprender a dizer "Não" para as nossas súplicas físicas, e te­remos que reforçar o nosso "Não" com tratamen­tos suficientemente drásticos, para que estabele­çamos o fato de que as rédeas estão nas nossas próprias mãos. O Senhor é o criador do corpo e Ele o criou com certos impulsos que são perfeita­mente corretos; contudo, Ele criou o corpo para ser nosso servo, não nosso senhor, e até que isto seja estabelecido, não poderemos servi-Lo como devemos.
Mesmo uma pessoa como Paulo temia que pu­desse ser expulsa da corrida, e perder o prêmio; portanto ele tomou a precaução de subjugar seu corpo através de constantes esmurros. E, o que podemos dizer do nosso Senhor, que se privou da mais alta glória e se pôs nas profundezas da ver­gonha e do sofrimento? Por amor d'Ele, não orde­naremos que este corpo nos sirva, para que assim, O sirvamos sem embaraços? Não lhe ordenaremos que seja forte na força de Sua vida ressurreta? Ele não tem dito; "Se habita em vós o Espírito da­quele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo que, ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos vivificará também os vossos corpos mor­tais, por meio do seu Espírito que em vós habita"?

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