Pela fé Moisés, apenas nascido, foi ocultado por seus pais, durante três meses, porque viram que a criança era formosa; também não ficaram amedrontados pelo decreto do rei (Hb. 11:23).
As parteiras, porém, temeram a Deus, e não fizeram como lhes ordenara o rei do Egito, antes deixaram viver os meninos (Êx. 1:17).
Se o nosso Deus, a quem servimos, quer li-vrar-nos, ele nos livrará da fornalha de fogo ardente, e das tuas mãos, ó rei. Se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses, nem adoraremos a imagem de ouro que levantaste (Dn. 3:17, 18).
Daniel, pois, quando soube que a escritura estava assinada, entrou em sua casa, e, em cima, no seu quarto, onde havia janelas abertas da banda de Jerusalém, três vezes no dia se punha de joelhos, e orava, e dava graças, diante do seu Deus, como costumava fazer. (Dn. 6:10).
Tendo eles partido, eis que aparece um anjo do Senhor a José em sonho e diz: Dispõe-te, toma o menino e sua mãe, e foge para o Egito, e permanece lá até que eu te avise; porque Herodes há de procurar o menino para o matar (Mt. 2:13).
Então Pedro e os demais apóstolos afirmaram: Antes importa obedecer a Deus do que aos homens (Atos 5:29).
A submissão é absoluta, mas a obediência é relativa
A submissão é uma questão de atitude, enquanto a obediência é uma questão de conduta. Pedro e João responderam ao concílio religioso dos judeus: "Julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos antes a vós outros do que a Deus" (Atos 4:19). Seu espírito não foi rebelde, uma vez que ainda se submetiam àqueles que estavam em posição de autoridade. A obediência, entretanto, não pode ser absoluta. Algumas autoridades têm de ser obedecidas; enquanto outras não deveriam, especialmente em questões que atingem os fundamentos cristãos — tais como crer no Senhor, pregar o evangelho e assim por diante. Os filhos podem fazer sugestões a seus pais, mas não devem demonstrar uma atitude de insubmissão. A submissão tem de ser absoluta. Às vezes a obediência é submissão, enquanto que, noutras ocasiões, uma incapacidade de obedecer ainda pode ser submissão. Mesmo quando fazemos uma sugestão, deveríamos manter uma atitude de submissão.
Atos 15 serve de bom exemplo de como a igreja se reúne. Durante a reunião pode haver sugestões e debates, mas uma vez tomadas as decisões todos devem tomar conhecimento e se submeter.
A medida da obediência às autoridades delegadas
Se os pais se recusarem a permitir que seus filhos se reúnam com os santos, os filhos devem manter uma atitude de submissão embora não precisem necessariamente obedecer. Isto se parece com o modo pelo qual os apóstolos responderam ao concílio dos judeus. Quando foram proibidos pelo concílio de pregar o evangelho mantiveram um espírito de submissão no tribunal: mesmo assim, continuaram obedecendo à ordem do Senhor. Não desobedeceram com discussões e gritaria; apenas calma e mansamente discordaram. Não deve absolutamente haver uma palavra injuriosa nem uma atitude de insubordinação para com as autoridades governantes. Aquele que reconhece a autoridade será delicado e respeitoso. Será absoluto em sua submissão tanto no coração como na atitude e em palavras. Não haverá sinais de rispidez ou rebeldia.
Quando a autoridade delegada (homens que representam a autoridade de Deus) e a autoridade direta (o próprio Deus) entram em conflito, a pessoa pode prestar submissão mas não obediência à autoridade delegada. Vamos resumir isto em três pontos:
1. A obediência está relacionada com a conduta: é relativa. A submissão relaciona-se com a atitude do coração: é absoluta.
2. Só Deus recebe obediência irrestrita sem medida; qualquer pessoa abaixo de Deus só pode receber obediência restrita. 3. Se a autoridade delegada emitir uma ordem claramente em contradição com a ordem de Deus, deverá receber submissão mas não obediência. Temos de nos submeter à pessoa que recebeu autoridade delegada de Deus, mas devemos desobedecer à ordem que ofende a Deus.
Se seus pais quiserem que você frequente um lugar onde um cristão prefere não ir mas não um lugar onde a questão do pecado esteja envolvida, então a questão fica aberta à discussão. A submissão é absoluta, enquanto que a obediência pode ser uma questão de consideração. Se os pais o obrigarem a ir, vá. Mas se não insistirem, então está livre para não ir. Deus há de libertá-lo do seu ambiente se você, na qualidade de filho, mantiver a devida atitude.
Exemplos na Bíblia
1. As parteiras e a mãe de Moisés, todas desobedeceram ao decreto de Faraó preservando a vida de Moisés. Mas foram consideradas mulheres de fé.
2. Os três amigos de Daniel recusaram-se a adorar a imagem de ouro erigida pelo rei Nabucodonosor. Desobedeceram à ordem do rei, mas submeteram-se ao fogo do rei.
3. Ignorando o decreto real, Daniel orou a Deus; não obstante submeteu-se ao julgamento do rei sendo lançado na cova dos leões.
4. José pegou o Senhor Jesus e fugiu para o Egito para evitar que a criança fosse morta pelo rei Herodes.
5. Pedro pregou o evangelho embora fosse contra a ordem do concílio governante, pois declarou que importava antes obedecer a Deus do que aos homens. Mas submeteu-se quando foi levado à prisão.
Sinais indispensáveis que acompanham o obediente
Como podemos julgar se uma pessoa é obediente à autoridade? Pelos seguintes sinais:
1. Uma pessoa que reconhece a autoridade naturalmente vai procurar descobrir a autoridade aonde quer que vá. A igreja é o lugar onde a obediência pode ser aprendida, uma vez que não há uma coisa tal como a obediência neste mundo. Só os cristãos podem obedecer, e eles também precisam aprender a obedecer, não externamente, mas de coração. Uma vez aprendida esta lição de obediência, o cristão vai procurar e encontrará a autoridade em qualquer lugar.
2. Uma pessoa que tomou conhecimento da autoridade de Deus é mansa e delicada. Foi amansada e não consegue ser dura. Tem receio de estar errada e por isso é delicada.
3. Uma pessoa que verdadeiramente reconhece a autoridade jamais deseja estar em posição de autoridade. Não tem idéia nem interesse de se tornar autoridade. Não tem prazer em dar conselhos, nem prazer em controlar os outros. O verdadeiro obediente está sempre com receio de cometer um erro. Mas, que pena! quantos ainda aspiram a ser conselheiros de Deus! Só aqueles que não reconhecem a autoridade desejam ser autoridade.
4. Uma pessoa que entrou em contato com a autoridade mantém sua boca fechada. Está sob controle. Não se atreve a falar levianamente porque há nela um senso de autoridade.
5. Uma pessoa que entrou em contato com a autoridade é sensível a todo ato de anarquia e rebelião à sua volta. Percebe como o princípio da anarquia encheu a terra e até mesmo a igreja. Só aqueles que experimentaram a autoridade podem levar outros à obediência. Irmãos e irmãs precisam aprender a obedecer à autoridade; caso contrário a igreja não dará nenhum testemunho sobre a terra.
Manutenção da ordem é reconhecer a autoridade
Se os homens não entrarem em contato vivo com a autoridade, é impossível estabelecer a obediência e a autoridade que emana do princípio da obediência à autoridade. Por exemplo, se você colocar dois cães juntos será inútil tentar estabelecer um deles como autoridade e o outro para obedecer. Só um contato vivo com a autoridade pode resolver os problemas que surgem da falta de obediência à autoridade. E logo que alguém ofende a autoridade, perceberá instantaneamente que ofendeu a Deus. É coisa fútil apontar o erro para alguém que jamais viu a autoridade. Não, primeiro leve-o a reconhecer a autoridade e, então, mostre-lhe sua falta. Ajudando os outros, entretanto, você deve tomar o cuidado de você mesmo não cair em rebelião.
Ora, será que Martinho Lutero acertou quando se levantou e defendeu o princípio fundamental da justificação pela fé? Sim, pois estava obedecendo a Deus quando defendeu a verdade. Do mesmo modo está certo que nós também defendamos a verdade, como por exemplo o testemunho da unidade da igreja local, abandonando o terreno denominacional. Vimos o corpo de Cristo e a glória de Cristo; e assim não podemos assumir nenhum outro nome que não seja o de Cristo. O nome do Senhor é importante. Por que não dizemos "salvos pelo sangue" mas "salvos pelo nome do Senhor"? Porque o nome do Senhor fala também de sua ressurreição e ascensão. "E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos" (Atos 4:12). Somos batiza-dos em nome do Senhor, e nos reunimos em seu nome também. Portanto a cruz e o sangue sozinhos não podem resolver o problema das denominações. Mas quando percebemos a glória do Senhor que subiu, não podemos mais insistir em ter outro nome que não seja o do Senhor. Então só podemos levantar o nome do Senhor, recusando ter qualquer outro nome. As denominações organizadas de hoje são uma afronta à glória do Senhor.
Vida e autoridade
A igreja é mantida por duas coisas essenciais: vida e autoridade. A vida interior que recebemos é uma vida de submissão, que nos capacita a obedecer à autoridade. Dificuldades dentro da igreja raramente se encontram em questões de desobediência externa; na maioria das vezes relacionam-se com uma falta de submissão interna. Mas o princípio governante de nossa vida tem de ser a submissão, exatamente como o dos pássaros é voar e dos peixes, nadar.
"A unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus" que encontramos em Efésios 4:13, parece ainda se encontrar tão distante; mas na realidade não está tão distante se reconhecemos a autoridade. Os santos podem ter opiniões diferentes e ainda assim não é preciso que haja insubordinação, pois mesmo com opiniões diferentes podemos, não obstante, nos submeter uns aos outros. Assim, somos um na fé. Atualmente já temos a vida que habita em nós e já percebemos algo do princípio governante dessa vida; portanto, se Deus for misericordioso conosco, vamos avançar rapidamente. A vida que recebemos não é só para resolver o pecado — o lado negativo — mas principalmente para obedecer — o lado vital e positivo. Quando o espírito da rebeldia nos abandonar, então o espírito da obediência será rapidamente restaurado à igreja, e o sublime estado de Efésios 4 será então introduzido. Se todas as igrejas locais andassem nesse caminho da obediência, o glorioso fato da unidade da fé apareceria realmente diante de nossos olhos.
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