Os Atributos Inerentes de Deus


Os Atributos Inerentes de Deus

Escrito por Vários autores    
10/07/2007 
Deus é diferente! Este livro destaca a diferença entre o Criador e as criaturas e, ao mesmo tempo, mostra como esta diferença garante a salvação e a segurança do Seu povo ... Os autores desta obra querem conduzir-nos à contemplação daquelas qualidades de Deus que pertencem somente a Ele, e assim incentivar-nos a ter mais reverência e humildade na adoração.

Prefácio
Na chamada “oração sumo-sacerdotal” que o Senhor Jesus dirigiu a Seu Pai, Ele diz: “E a vida eterna é esta: que Te conheçam, a Ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17:3).

Não há maior conhecimento do que o conhecimento de Deus e de Seu Filho Jesus Cristo, do qual está escrito: “Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse O revelou” (Jo 1:18).

Embora “tanto o Seu eterno poder, como a Sua divindade” (Rm 1:20) têm sido revelados na criação, é somente por meio da Sua Palavra, mediante o poder do Espírito Santo, que podemos chegar ao conhecimento de Deus.

Será que nós, como cristãos, não temos perdido a apreciação da glória, grandeza e majestade de Deus? Um estudo cuidadoso dos atributos inerentes de Deus, Sua Onisciência, Sua Onipresença, Sua Onipotência, Sua Imutabilidade e Sua Eternidade, como apresentados neste livro, elevará os nossos pensamentos acerca de Deus e fará com que os nossos corações se curvem em adoração perante Ele.

É com muito prazer que recomendo a leitura deste livro, que trata de assuntos freqüentemente negligenciados. O livro foi escrito por meus estimados irmãos, William Banks, Thomas Bentley, Sandy Foster, Edward Griffiths e Ian Jackson. Eu já tive o privilégio de ter comunhão com todos eles no ministério da Palavra.

David E. West

Leicester, Inglaterra. Julho de 2001.

Prefácio do tradutor
Deus é diferente! Este livro destaca a diferença entre o Criador e as criaturas e, ao mesmo tempo, mostra como esta diferença garante a salvação e a segurança do Seu povo. Esta obra não trata de todos os atributos de Deus, mas somente dos que são inerentes e incomunicáveis, isto é, os que pertencem exclusivamente às Pessoas divinas. Há outros atributos, como amor, santidade, justiça, etc. que se encontram com perfeição somente em Deus, mas também se vêem refletidos ou reproduzidos, embora que imperfeitamente, nas Suas criaturas — principalmente naquelas que têm nascido de novo. Portanto, tais atributos “comunicáveis” não são o assunto deste livro. Os autores desta obra querem conduzir-nos à contemplação daquelas qualidades de Deus que pertencem somente a Ele, e assim incentivar-nos a ter mais reverência e humildade na adoração.

É difícil encontrar um livro como este que trata deste assunto tão profundo com tanta clareza e brevidade. Os cinco autores, bem como o escritor do prefácio original, são ministrantes da palavra de Deus bem conhecidos e respeitados no Reino Unido.

A maioria das citações bíblicas são da versão “Almeida Corrigida Fiel” da Sociedade Bíblica Trinitariana. A sigla ARA indica a versão Almeida Revista e Atualizada no Brasil; ARC, a versão Almeida Revista e Corrigida; VR, a versão Revisada; VB, a versão Brasileira.

Terry J. Blackman

A onisciência de Deus
Por William M Banks

Introdução
O assunto dos atributos de Deus já foi abordado no passado em muitas obras eruditas. Porém, para encontrar estudos com profundidade teológica sobre este assunto é necessário voltar vários séculos! Escritores modernos têm a tendência de pular este assunto importante, talvez por causa da sua complexidade, e também talvez porque não há muitos que mostram interesse sincero por ele.

As obras mais antigas são muito eruditas, embora a linguagem é um tanto antiquada. Porém, vale a pena estudá-las. Esta presente contribuição deve muito a uma dessas importantes obras1. Stephen Charnock, do século XVII, era evidentemente um homem não só de imensa capacidade espiritual mas também intelectual. Ele possuía uma compreensão profunda das questões doutrinárias da Bíblia e escrevia com uma reverência genuína. Portanto, não tenho vergonha de dizer que este artigo deve muito à sua obra.

Definição
É sempre necessário definir os termos, especialmente ao se tratar de um assunto raramente abordado. O que é um “atributo”? E o que significa “onisciência”?

Um “atributo” é, obviamente, uma qualidade atribuída a uma pessoa ou objeto. É uma qualidade que pertence inerentemente à pessoa ou coisa que está sendo considerada. “Os atributos de Deus são aquelas qualidades ou perfeições da Sua natureza que são a sua necessária característica e expressão“[2]. Todos os atributos divinos se encontram em igual perfeição, e num certo sentido, são parte integral do próprio Deus. Todavia para compreendermos estes atributos, eles geralmente são mencionados separadamente em linguagem humana, para podermos entender um pouco do seu significado. Um destes atributos é a onisciência.

Para resumir, “onisciência” é “o conhecimento de todas as coisas”, especialmente no contexto universal. Não há nada que não seja do conhecimento de Deus. “O Seu entendimento é infinito” (Sl 147:5). Ele sabe, porque é o primeiro e o último, o Alfa e o Ômega! Ele sabe, não por experiência, mas como atributo Seu, inerente e absoluto.

Sendo assim, consideramos permissível empregar a palavra “conhecimento” e seus derivados e sinônimos no lugar de “onisciência”, e em algumas partes deste capítulo faremos isso.

Este assunto é dos mais solenes e profundos. Não há nada fora do alcance da percepção de Deus, desde o funcionamento do átomo até a perfeição do universo; desde o pensamento íntimo até o ato exterior; desde o motivo até o movimento; desde o passado até o futuro. “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus!” (Rm 11:33).

A natureza e o alcançe do conhecimento de Deus
É essencial, desde o início, apreciarmos a natureza da onisciência de Deus. Lembrança se relaciona com o passado. Preciência se relaciona com o futuro. Conhecimento se relaciona com o presente. Este conhecimento presente se relaciona com sabedoria e prudência. “A sabedoria é a flor do conhecimento, e o conhecimento é a raiz da sabedoria“1.

Lembrança
Vemos o conceito de lembrança no caso de Noé. “E lembrou-se Deus de Noé” (Gn 8:1). Não que Ele tivesse se esquecido do Seu servo justo durante os dias do dilúvio! O verbo indica que Deus sabia plenamente de todos os detalhes das circunstâncias por que Noé passava e deu-lhe uma assistência especial e pessoal, o tempo todo. Vemos a mesma coisa também em relação a Sansão (Jz 16:28), Ana (I Sm 1:11), Abraão (Gn 19:29) e o ladrão penitente na cruz (Lc 23:42). Hoje também a mesma lembrança opera em favor dos Seus servos aflitos!

Deus disse a Israel por intermédio de Amós: “De todas as famílias da terra só a vós vos tenho conhecido” (Am 3:2). Não que Seu conhecimento fosse limitado! Mas Seu cuidado e amor especiais tinham sido derramados abundantemente sobre eles, e em troca disto Deus esperava alguma resposta. Privilégio sempre traz consigo responsabilidade. Assim também hoje: “O Senhor conhece os que são Seus” (II Tm 2:19), e há uma responsabilidade correspondente: “qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade” (II Tm 2:19). É bom quando a compreensão conduz à aprovação.

Por outro lado, quando Deus deixa de aprovar diz-se que Ele não conhece: “Em verdade vos digo que não vos conheço” (Mt 25:12), ou, “Nunca vos conheci” (Mt 7:23). “Não é uma falta de conhecimento por falta de entendimento, mas por vontade“1. O fato dEle dar a razão por rejeitá-los, isto é, por conhecer as suas obras, (“…apartai-vos de Mim, vós que praticais a iniqüidade” — Mt 7:23), indica que se trata de um ato de vontade divina.

A lembrança divina de todas as coisas é absoluta. Ele é o Deus dos “sete olhos” (Zc 3:9) com visão e entendimento perfeitos.

Presciência
Deus não somente se lembra de todas as coisas passadas, Ele também sabe tudo que está por vir. (É neste sentido que a palavra presciência é usada aqui. A doutrina neotestamentária específica de presciência será abordada mais tarde.) Para Deus o tempo não é barreira. Para Ele existe um só presente eterno. Ele é o “Eu Sou”, antes do tempo, acima do tempo e além do tempo. Há um sentido, portanto, em que nada é futuro para Ele. Por outro lado, sem Ele nada pode ser futuro.

Ele não poderia exercer a responsabilidade pelo governo do Universo sem ter conhecimento do futuro. Não é verdade que Ele sabia o que iria acontecer no caso de José? “Vós bem intentastes mal contra mim; porém Deus o intentou para bem, para fazer como se vê neste dia …” (Gn 50:20), foram as palavras que José disse a seus irmãos. Tudo estava sob o controle divino. E que diremos de Moisés, Sansão, Ezequiel, e muitos outros? Deus não controlou as circunstâncias dos primeiros anos das suas vidas para garantir que os Seus propósitos fossem executados, tanto em relação a eles como em relação à nação?

Além disso, a predição do futuro torna evidente o Seu conhecimento íntimo do mesmo. O que é incompreensível para nós, está claro e patente Àquele cujos olhos são “como chama de fogo” (Ap 1:14). É com ironia que as seguintes palavras são dirigidas aos supostos deuses dos pagãos: “Anunciem-nos as coisas que hão de acontecer; … fazei-nos ouvir as coisas futuras. Anunciai-nos as coisas que ainda hão de vir, para que saibamos que sois deuses!” (Is 41:22-23). Deus sabe e anuncia as coisas que hão de acontecer! Os ídolos não as sabem; portanto, não são deuses!

Deus pôde predizer a fome no Egito, o cativeiro na Babilônia, a rejeição dos judeus, e o chamamento dos gentios. Além disso, Ele pôde até dar o nome das pessoas que executariam os Seus decretos, séculos antes do seu acontecimento; por exemplo: I Re 13:2; Is 44:28. Como é interessante que, no primeiro caso, o instrumento usado para destruir o altar de Jeroboão não foi nenhum outro senão Josias, filho de Amom (II Rs 21:26)! Durante séculos nenhum dos reis de Judá havia chamado seu filho de Josias. No entanto, foi justamente aquele rei que promovia a idolatria (e tinha liberdade para escolher qualquer nome para o seu filho), que deu ao seu filho o próprio nome predito, de antemão, por Deus, como o nome do rei que derrubaria o altar da idolatria.

O lugar do nascimento de Cristo, a sua maneira, e a ocasião também foram especificamente revelados séculos antes (Mq 5:2; Is 7:14 e Dn 9:25-27), isto sem mencionar os detalhes da Sua vida e morte.

Conhecimento
O escritor aos Hebreus diz categoricamente que “todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos dAquele com quem temos de tratar” (Hb 4:13). Não há nada oculto aos Seus olhos! Toda criatura, desde a menor até a maior, desde a mais exaltada até a mais desprezada, é conhecida dEle. “Conheço todas as aves dos montes; e minhas são todas as feras do campo” (Sl 50:11). Ele providencia alimento para os corvos e “seus filhotes” (Jó 38:41). Ele numera as nuvens com a Sua sabedoria (Jó 38:37), chama as estrelas pelos seus nomes (Sl 147:4), isto é, Ele conhece todos os seus mínimos detalhes; sua órbita, temperatura, composição, etc. Deus conhece intimamente as maravilhas do Universo que os cientistas estão somente começando a descobrir!

Além disso, Deus conhece as atividades das Suas criaturas. “Não vê Ele os meus caminhos, e não conta todos os meus passos?” (Jó 31:4). Ele os pesa e os avalia conforme os padrões divinos. As palavras faladas pelo rei da Síria no seu “quarto de dormir”, eram conhecidas por Deus e foram reveladas ao Seu profeta Eliseu (II Rs 6:12). Contudo, Ele não somente sabe o que os homens fazem, mas também o que teriam feito se as circunstâncias de suas vidas tivessem sido diferentes. Por exemplo, Abimeleque teria cometido pecado se Deus não o tivesse impedido: “Eu te tenho impedido de pecar contra Mim; por isso não te permiti tocá-la” (Gn 20:6).

Ele sabe como homens e mulheres que nunca ouviram o Evangelho reagiriam se lhes fosse concedida a oportunidade. “Ai de ti, Corazim! ai de ti, Betsaida! porque, se em Tiro e em Sidom fossem feitos os prodígios que em vós se fizeram, há muito que se teriam arrependido, com saco e cinza” (Mt 11:21). Tal conhecimento é maravilhoso demais para nós!

Deus conhece também os pensamentos das Suas criaturas. Não há nada que seja inescrutável para Ele. As inclinações, os motivos e os raciocínios mais íntimos são todos conhecidos dEle. Ele avalia o seu significado. “Tu, ó justo Deus, provas os corações e os rins [o homem interior]” (Sl 7:9). Ele é apto “para discernir os pensamentos e intenções do coração” (Hb 4:12). O homem não consegue esconder-se atrás de fingimento ou desculpa. O olho de Deus vê tudo. “O inferno e a perdição estão perante o Senhor; quanto mais os corações dos filhos dos homens?” (Pv 15:11). O Deus que conhece o estado de todos os mortos, conhece também os pensamentos dos vivos! “Nenhum segredo em qualquer alma no inferno está escondido dEle“1. Além disso, Ele não somente conhece os pensamentos, mas também sabe a fonte de onde provêm os pensamentos. “Tu … de longe entendes o meu pensamento” (Sl 139:2). O processo todo do pensamento, desde o seu início até sua execução (“onde a ave que voa há de pousar“[1]) é conhecido dEle. Os motivos da mente, tanto os bons como os maus, todos são conhecidos dEle. Por exemplo, Pedro podia dizer: “Senhor, Tu sabes tudo; Tu sabes que eu Te amo” (Jo 21:17); por outro lado Deus também sabia que nos dias de Noé “toda a imaginação dos pensamentos do  coração era só má continuamente” (Gn 6:5). É claro que sem este conhecimento Deus não seria um justo juiz. “Eu, o Senhor, esquadrinho o coração e provo os rins; e isto para dar a cada um segundo os seus caminhos e segundo o fruto das suas ações” (Jr 17:10).

O conhecimento de Deus em salvação
No contexto da salvação (usando este termo no seu sentido mais amplo), a onisciência de Deus é considerada como sendo desde a eternidade. Portanto, num certo sentido, todos os detalhes podem ser considerados como pertencendo ao futuro, do ponto de vista humano. A onisciência não pode ser compreendida de outra maneira. O fato da palavra “presciência” ser usada neste sentido não deve nos surpreender.

Porém, a idéia que esta palavra transmite é muito mais do que saber de antemão. Isto de fato é verdade, (como já foi mostrado anteriormente), mas limitar a palavra a este sentido seria restritivo demais. No Novo Testamento, o verdadeiro significado de qualquer palavra sempre se obtém por considerar cada ocorrência no seu contexto.

A palavra traduzida “presciência”, tanto na forma verbal como na forma substantiva, se encontra sete vezes no Novo Testamento. Duas destas ocorrências (At 26:5 e II Pe 3:17) expressam conhecimento humano baseado numa experiência anterior, portanto não vamos considerá-las aqui. As outras cinco ocorrências nos ajudam a compreender o significado da palavra. As referências, na forma verbal, se encontram em Rm 8:29, Rm 11:2 e I Pe 1:20. As referências, como substantivo, se encontram em At 2:23 e I Pe 1:2. A consideração de cada uma revela alguns detalhes interessantes.

Talvez a referência mais importante para termos uma verdadeira compreensão do significado desta palavra se encontra no contexto de I Pe 1:20. Aqui, nosso Senhor é descrito como o “Cordeiro … o qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido [literalmente, “pre-conhecido“], ainda antes da fundação do mundo”. Obviamente, seria desnecessário para o apóstolo indicar que o Pai conhecia o Cordeiro antes da fundação do mundo no sentido de mera presciência. Além disso, seria impróprio para Pedro meramente informar seus leitores desse fato. Isso não os ajudaria no desenvolvimento da sua compreensão no contexto do argumento que o apóstolo está desenvolvendo. Ele está exortando por um estilo de vida consistente com o Evangelho no qual tinham crido e com a redenção que tinham provado. O fato do Cordeiro ser conhecido pelo Pai “antes da fundação do mundo” não seria base suficiente de exortação. Isto seria um fato reconhecido pelos leitores.

Contudo, apreciar que o Deus triúno tinha planejado todos os aspectos da redenção nos “conselhos da eternidade” e que os tinha realizado para o bem deles, no tempo, por um mandado definido da vontade divina, é diferente. Sem dúvida é isto que o apóstolo afirma aqui. O “pre-conhecer” foi realmente a declaração do propósito divino de realizar o plano de redenção para o bem da humanidade, mediante a morte do “Cordeiro”. Ele “pre-conheceu” porque Ele tinha preordenado! “Aqui a presciência de Deus é apresentada como a causa do sacrifício do Seu Filho — porque Ele o tinha planejado e decretado“[3].

É perfeitamente correto, tanto pelo contexto das passagens como pelo significado da palavra, utilizarmos a mesma idéia nas outras duas referências que empregam a forma verbal — Rm 8:29 e 11:2. Em Rm 8:29 o apóstolo diz: “Os que dantes conheceu também predestinou para serem conformes à imagem de Seu Filho”. O conhecimento, ou mais precisamente, o pre-conhecimento, não é de fatos mas de pessoas! Como disse o falecido irmão A. E. Leckie: “Não é que Ele conhecia fatos a respeito de mim, mas sim que Ele me conhecia a mim”. Ele também disse: “Deus sabe de antemão porque Ele preordenou todas as coisas”.

Em Rm 8:29-30 o apóstolo está expondo o propósito eterno de Deus em relação ao bem-estar do Seu povo. Este propósito possui uma “perspectiva eterna” conduzindo à glorificação. O propósito divino é uma corrente de cinco elos inquebráveis — contribuíndo juntamente “todas as coisas” para o bem daqueles que amam a Deus (v. 28). E tudo começa com a presciência que nos conduz através da predestinação, do chamamento e da justificação até a glorificação! É claro que as expressões “os que” (no v. 29), “aos que” (três vezes no v. 30), referem-se a pessoas; como também as três ocorrências de “a estes também” no v. 30. Com estas expressões o apóstolo está enfatizando cuidadosa, clara e concisamente que são pessoas que estão em vista — e isto desde a eternidade! O própósito divino desde a eternidade era a bênção concedida a pessoas no tempo presente e para toda a eternidade! O fato dos cristãos serem “… conformes à imagem de Seu Filho, a fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos”, não está baseado em qualquer coisa que fariam, mas sim, unicamente na Sua presciência.

Enquanto a Sua presciência é individual em Romanos 8, no cap. 11 é nacional. A última ocorrência da forma verbal se encontra em Rm 11:2: “Deus não rejeitou o Seu povo, que antes conheceu”. Os conselhos de Deus serão realizados também em relação à nação de Israel. Havia um remanescente nos dias de Elias — “Sete mil homens, que não dobraram os joelhos a Baal” (v. 4). Havia um remanescente quando Paulo escreveu: “Assim … também agora neste tempo ficou um remanescente, segundo a eleição da graça” (v. 5). Haverá também uma plenitude de bênção divina no futuro! “Todo o Israel será salvo … porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento” (vs. 26 e 29). Haverá ainda um futuro maravilhoso para a nação de Israel — embora imerecido. Os conselhos de Deus serão plenamente realizados!

As ocorrências da forma substantiva confirmam a mesma verdade acima mencionada. A primeira se encontra em At 2:23. O apóstolo Pedro diz do Senhor Jesus: “A este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, prendestes, crucificastes e matastes pelas mãos de injustos”. Eis aqui um mistério profundo! “Entregue pela … presciência de Deus”; “prendestes … pelas mãos de injustos”. Temos aqui, claramente, muito mais do que o mero fato de Deus saber de antemão que mãos de injustos prenderiam Seu Filho. A Sua presciência e determinado conselho estão intimamente ligados. As deliberações do “conselho” divino determinaram que o Filho de Deus morreria na cruz do Calvário. Este fato não foi somente conhecido de antemão mas foi preordenado! De que outra maneira poderiam os homens prende-lO? Eles eram totalmente incapazes de determinar a hora da Sua morte (veja, por exemplo, Lc 4:29-30). Isto estava na Sua própria mão. Contudo, aqueles injustos são os responsáveis pela Sua morte e prestarão contas a Deus por isso, no final. A predição da Sua morte “não foi a causa do pecado deles”, entretanto o seu pecado foi previsto.

A última referência em I Pe 1:2 concorda com o que precede. Os “estrangeiros dispersos” foram “eleitos segundo a presciência de Deus Pai”. A sua “santificação do Espírito, para a obediência” no tempo, foi o resultado do propósito de Deus em eleição, na eternidade. A salvação é toda de Deus! “A Jeová pertence a salvação” (Sl 3:8, VB), e fora da Sua iniciativa não haveria nenhum povo para Deus. Assim, “o crer deles não é a causa da sua eleição. A eleição é a causa do seu crer”. O falecido irmão Jack Hunter usava uma definição interessante: “A eleição garante para Deus um povo onde, de outra maneira, não haveria povo nenhum”.

Implicações práticas de onisciência — em relação a Deus
Até aqui temos considerado este assunto objetivamente. A verdade tem sido definida e analizada. Temos abordado sua natureza e medida e implicações na área da salvação. Não seria apropriado excluir as implicações subjetivas. Qual será a utilidade deste assunto na prática? Que instrução podemos tirar desta verdade tão importante?

As implicações são claramente diversas e profundas. Algumas serão examinadas detalhadamente. Se Deus é onisciente, então Ele é Supremo na área da criação como também na da redenção. Ele é o Soberano do universo. Ele é digno de adoração.

Deus é supremo
Ele sabe todas as coisas independentemente[1]. “Quem … como Seu conselheiro O ensinou?” (Is 40:13). Deus é a fonte, o manancial de todo o conhecimento. A Ele toda a criatura é sujeita.

Ele sabe todas as coisas infalivelmente[1]. As palavras de Isaías novamente confirmam a verdade: “O Senhor dos Exércitos jurou, dizendo: Como pensei, assim sucederá, e como determinei, assim se efetuará” (Is 14:24). Também: “Eu sou Deus …não há outro semelhante a Mim … O Meu conselho será firme, e farei toda a Minha vontade” (Is 46:9-10). Este mesmo Deus ainda está em controle. Seu conselho infalível será realizado — nada acontece por acaso — Ele ainda está assentado no trono!

Ele sabe todas as coisas imutavelmente. Isto é confirmado pelo sábio que escreveu no livro dos Provérbios: “Muitos propósitos há no coração do homem, porém, o conselho do Senhor permanecerá” (Pv 19:21). O coração do homem tem “muitos propósitos”. Seu conselho muda de acordo com a mudança das circunstâncias. O conselho divino não é assim — este é imutável e digno de confiança. Portanto, devemos dar ouvidos ao Seu conselho “para que sejas sábio nos teus últimos dias” (ARC).

Deus é soberano
A onisciência de Deus está inexplicavelmente ligada à Sua soberania. Sem este atributo Deus não poderia ser o justo governador do Universo. Toda a criação estaria fora de controle sem nenhuma orientação Paterna e dinâmica. Ele sabe o que precisamos comer, beber e vestir! “De certo vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas” (Mt 6:32).

O juízo final está nas Suas mãos. Ele “trará à luz as coisas ocultas das trevas, e manifestará os desígnios dos corações” (I Co 4:5). Quão felizes somos porque “Deus, o Juiz de todos” (Hb 12:23) estará no trono naquela ocasião — nada será desconhecido a Ele, tudo estará perfeitamente equilibrado, não haverá nenhuma injustiça — o veredicto final será perfeito! Veja o Salmo 1:5-6. A justiça não pode ser exercida sem a onisciência.

Deus é digno de adoração
A adoração está baseada na dignidade do que é adorado e na relativa falta de dignidade do adorador. Sem dúvida a onisciência é um dos grandes assuntos que revela aos nossos corações a dignidade de Deus. Ao mesmo tempo a nossa correspondente indignidade, por causa do nosso conhecimento limitado, logo se torna evidente. Sendo assim humilhados na presença de um Deus tão grandioso deveria produzir uma atitude de admiração. E admiração inevitavelmente conduz à adoração!

A onisciência de Deus é um assunto profundo demais para a mente humana. Porém, este mesmo fato é mais uma razão por que uma atitude de adoração deve ser o resultado. De fato, a própria essência da oração é colocar a nossa vontade em conformidade com a vontade divina. É fazer com que os Seus pensamentos sejam os nossos pensamentos. Assim a onisciência deve produzir em nós um espírito de dependência em Deus que tudo sabe! Na verdade, oramos porque Deus realmente sabe — não para informá-lO de alguma coisa que não é do Seu conhecimento!

Implicações práticas de onisciência — em relação aos homens
Este assunto também pode ser considerado de várias maneiras. Pode servir como um verdadeiro desafio, mas também como um consolo real. O desafio vem pela apreciação de que Deus conhece as nossas falhas; o consolo vem pela apreciação de que Deus conhece as nossas necessidades e que “Ele sabe o caminho por que ando” (Jó 23:10, VR).

O desafio deste assunto
Há no conhecimento de Deus uma perfeição que, na prática, podemos negar de várias maneiras. Por exemplo, podemos permitir algum pecado achando que o homem não o vê, mas nos esquecemos que Deus tudo vê. Como poderiamos deixar de aprender dos tristes atos de Davi — não somente no caso de Bate-Seba, mas também no caso de Urias, o heteu? Estava oculto aos olhos dos homens? Deus tudo sabia! Não é de se admirar que, quando lhe foi revelado o seu pecado, Davi clamou em contrição amarga: “Contra Ti, contra Ti somente pequei, e fiz o que é mal à Tua vista” ( Sl 51:4). “Os pecados ocultos são mais contra Deus do que contra os homens“[1]. Devemos nos lembrar que Ele “passeia pelo circuito dos céus” (Jó 22:14).

Essa perfeição também poderia ser negada pela confissão parcial de pecados diante de Deus. Você se lembra do caso de Acã e da admoestação que Josué lhe dirigiu? “Faze confissão perante Ele; e declara-me agora o que fizeste, não mo ocultes” (Js 7:19). Quão solene — que desafio! “Omitir alguns fatos na confissão … é realmente negar … o conhecimento de Deus“[1].

Também não devemos esquecer das implicações práticas deste desafio para o serviço da igreja local. Será que a nossa adoração provém de “lábios enganosos” (Sl 17:1) — há contradição entre o coração e a língua? Ou provém de um coração cheio e transbordando de coisas boas — o resultado da nossa meditação? (Contraste Sl 45:1 com Sl 78:36). Deus sabe! Será que nutrimos pretextos hipócritas para nos isentarmos do serviço de Deus? Tudo é conhecido dEle! Podemos talvez enganar os outros — não podemos enganar a Deus!

É também, com certeza, um incentivo para a obra do Evangelho — uma verdade que desafia o pecador. Não podemos esconder nenhum segredo de Deus — considere Adão, Jonas, Acã e Geazi.

A hipocrisia também não lhe protege — pense em Judas, Herodes e os fariseus. O pecado não diminui com o passar do tempo — pense em Amaleque (I Sm 15:2) e Efraim (Os 13:12). Não há apelo contra uma decisão injusta — “O olho do Seu conhecimento dirige a mão da Sua justiça“[1]. Veja Sl 10:14.

O consolo deste assunto
Não seria apropriado concluir sem considerarmos este importante aspecto do assunto. Sem dúvida há grande consolo para o povo de Deus nas palavras do salmista: “Ele conhece a nossa estrutura; lembra-se de que somos pó” (Sl 103:14). Portanto, o Deus onisciente é digno de ser o objeto da nossa confiança. Podemos depender dEle! Ele nos conhece! Que tragédia seria se Ele não conhecesse as nossas circunstâncias. Mas cada circunstância é conhecida dEle, que disse: “Eu sou o bom Pastor, e conheço as Minhas ovelhas, e das Minhas sou conhecido” (Jo 10:14). Todos nós somos conhecidos intimamente, plenamente e pessoalmente — “O Senhor conhece os que são Seus” (II Tm 2:19).

Que diremos das aspirações secretas, das orações silenciosas, dos fardos inesprimíveis, dos corações quebrantados, das perseguições imerecidas, das grandes aflições que há entre o povo de Deus? Suas condições são todas conhecidas do Deus onisciente! Ele ouve, Ele entende, Ele cuida. Ele conhece todas as aflições do Seu povo. Não é por isso que o livro dos Salmos tem sido de tanto ânimo para o povo de Deus através dos séculos, e continua sendo o grande recurso dos aflitos?

Esta mesma perfeição é também a base do apelo de cada coração devoto que deseja andar pelo “caminho eterno”. “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos. E vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno” (Sl 139:23-24). Este salmo, como um todo, trata do assunto da onisciência de Deus de uma maneira impressionante. Não é de se admirar que Davi diz: “Tal ciência é para mim maravilhosíssima” (v. 6). É maravilhosíssima para nós também, e este fato fornece a base sobre a qual podemos ter um andar piedoso. “A Sua onisciência não desperta a Sua justiça à vingança, mas a Sua misericórdia à compaixão“1.

Que consolo saber que este Deus é o nosso Deus! “A consideração desta excelsa perfeição deve fazer-nos concordar com Deus e confiar nEle em todas as circunstâncias da vida“[1].

Há duas palavras que trazem a luz de Deus ao coração,

São preciosas tanto na hora alegre como na de aflição:

São palavras poderosas, aptas para toda situação:

“Ele sabe”.

Referências
1. CHARNOCK, S. Discourses upon the existence and attributes of God (Discursos sobre a existência e os atributos de Deus). Baker Book House 1979, ISBN 0-8010-2437-4. 11ª ed., 1993.

2. HOSTE, W. Studies in Bible doctrines. John Ritchie Ltd., 1948.

3. ZODHIATES, S. The complete word study dictionary — New Testament. AMG publishers Chatanooga, TN 37422, 1992.

continuará ...

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