A autoridade do corpo (a Igreja)

Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim tam­bém com respeito a Cristo. Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escra­vos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito. Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos. Se disser o pé: Porque não sou mão, não sou do corpo; nem por isso deixa de ser do corpo. Se o ouvido dis­ser: Porque não sou olho, não sou do corpo; nem por isso deixa de o ser. Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde o olfato? Mas Deus dispôs os membros, colocando cada um deles no corpo, como lhe aprouve. Se todos, porém, fossem um só membro, onde estaria o corpo? O certo é que há muitos membros, mas um só corpo. Não podem os olhos dizer à mão: Não precisa­mos de ti; nem ainda a cabeça, aos pés: Não preciso de vós (1 Co. 12:12-21).

Se teu irmão pecar (contra ti), vai argui-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão. Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça. E, se ele não os atender, dize-o à igreja; e, se recusar ouvir também a igreja, considera-o como gentio e publicano. Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra, terá sido ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra, terá sido desligado no céu (Mt. 18:15-18).

A autoridade se expressa de maneira mais completa no corpo

A mais ampla expressão da autoridade de Deus se encontra no corpo de Cristo, sua Igreja. Em­bora Deus tenha estabelecido o procedimento da autoridade neste mundo, nenhum daqueles rela­cionamentos (governantes e povo, pais e filhos, maridos a esposas, senhores e servos), pode dar à autoridade sua expressão mais ampla. Conside­rando que as muitas autoridades governantes na terra são todas institucionais, sempre há a pos­sibilidade da aparência de subordinação sem que haja realmente sujeição do coração. Não há modo de averiguar se as pessoas estão seguindo uma ordem do governante com sinceridade ou simples­mente estão prestando obediência de boca. Tam­bém é difícil dizer se os filhos estão atendendo aos pais de todo o coração ou não. Por isso a sujeição à autoridade não pode ser exemplificada pelo modo como os filhos estão sujeitos aos pais, os servos aos sem: senhores, ou o povo aos go­vernantes. Contudo a  autoridade de Deus não pode ser estabelecida sem sujeição, nem poderia se a sujeição não fosse do coração. Então, nova­mente, todos esses exemplos de sujeição ficam dentro do raio de ação dos relacionamentos hu­manos; consequentemente são temporais e estão sujeitos à separação. Portanto fica claro que a sujeição absoluta e perfeita não se pode encontrar neles.
Só o relacionamento entre Cristo e a igreja pode expressar totalmente a autoridade e a obe­diência. Pois Deus não chamou a igreja para ser uma instituição; ordenou que fosse o corpo de Cristo. Frequentemente pensamos que a igreja é uma reunião de crentes com a mesma fé ou um ajuntamento de corações amorosos, mas Deus a vê de maneira diferente. Ela não representa só a mesma fé e o amor unido, mas muito mais, como se fosse um só corpo.
A igreja é o corpo de Cristo, enquanto Cristo é o Cabeça da igreja. Os relacionamentos de pais e filhos, senhores e servos, e até mesmo ma­ridos e esposas, todos podem ser interrompidos, mas o corpo físico não pode ser separado de sua cabeça; são um para sempre. Do mesmo modo, Cristo e a igreja também não podem nunca ser separados. A autoridade e a obediência encontra­das em Cristo e na igreja são de uma natureza tão perfeita que ultrapassam todas as outras ex­pressões de autoridade e obediência.
Apesar do amor que os pais têm para com seus filhos, estão sujeitos ao uso ilegal de sua autori­dade. Semelhantemente, os governos podem emi­tir ordens erradas ou os senhores podem abusar de sua autoridade. Neste mundo, a autoridade, assim como a obediência, são todas imperfeitas. Isto explica por que Deus desejou estabelecer uma autoridade perfeita e uma obediência per­feita em Cristo e na igreja, sendo ele o Cabeça e ela o corpo. Os pais podem às vezes magoar seus filhos, os maridos às esposas, os senhores aos servos, e os governos ao povo. Mas nenhuma cabeça fará mal ao seu próprio corpo; a autorida­de da cabeça não está sujeita a erro, mas é per­feita. Do mesmo modo, a obediência do corpo à cabeça é perfeita. Logo que a cabeça concebe uma idéia, os dedos se movem naturalmente, harmo­niosamente, silenciosamente. A intenção de Deus para nós é que prestemos obediência completa; ele não se satisfará até que sejamos colocados no mesmo grau de obediência do corpo para com a sua cabeça.
Isto vai muito além do que pode ser repre­sentado pelo relacionamento entre marido e es­posas, uma vez que maridos e esposas são en­tidades separadas. Mas em Cristo os dois são um: Ele é a obediência e também a autoridade. São um nele. Isto difere do mundo, porque nesse cam­po de ação a autoridade e a obediência são duas coisas separadas. Isto não acontece com o corpo e a cabeça; os movimentos do corpo exigem pouco esforço da cabeça; o corpo se movimenta com graça ao menor impulso da cabeça. Este é o tipo de obediência que satisfaz a Deus, não a sujeição que os filhos têm aos pais ou esposas aos maridos, mas como o corpo tem para com a cabeça. Como isto difere da sujeição pela subjugação!
Depois que uma pessoa aprende mais sobre a obediência, verá a diferença entre a ordem de Deus e a vontade de Deus. A primeira é uma palavra enunciada por Deus enquanto a última é uma idéia concebida pela mente de Deus. A ordem tem de ser enunciada mas a vontade pode silenciar. O Senhor Jesus agia de acordo com ambas, a vontade e a palavra de Deus.
Do mesmo modo Deus vai operar em seu povo até que o relacionamento entre Cristo e a igreja siga o mesmo padrão do relacionamento entre Deus e o seu Cristo. Deus deve continuar tra­balhando até que obedeçamos a Cristo assim co­mo Cristo obedece a Deus. A primeira fase do trabalho divino é fazer-se ele mesmo o Cabeça de Cristo. A segunda fase é tornar Cristo o Ca­beça da igreja. Deus vai trabalhar até que obe­deçamos à sua vontade instantaneamente sem mesmo haver necessidade de sermos disciplinados pelo Espírito Santo. A terceira fase é tornar o reino deste mundo no reino de nosso Senhor e do seu Cristo. A primeira fase já foi realizada, a terceira está por vir. Atualmente nos encontra­mos na fase do meio. Seu cumprimento é abso­lutamente essencial para a vinda da terceira fase. Estamos aqui para obedecer a fim de que Deus possa realizar sua vontade, ou para desobedecer e assim atrapalhar a obra de Deus? Deus tem procurado estabelecer sua autoridade no univer­so, e a chave disso é a igreja. A igreja está no meio, servindo de pivô. Nisto, Deus nos reveste com muito maior glória. Sobre os nossos ombros está a responsabilidade de manifestar autoridade.

Para o corpo obedecer à cabeça é a coisa mais natural e agradável

Deus providenciou para que a cabeça e o corpo participassem de uma só vida e natureza. Portanto, é a coisa mais natural para o corpo obe­decer à cabeça. Na verdade, nesse relacionamento a desobediência estaria fora de lugar. Por exem­plo, é normal que a mão se levante quando a cabeça dá a instrução; se a mão falhar em obe­decer, algo está errado! Do mesmo modo, o es­pírito de vida que Deus nos deu é exatamente o mesmo que o Senhor tem; portanto a natureza de nossa vida é a mesma da vida dele. Assim, não existe possibilidade de discórdia e desobe­diência.
Em nossos corpos físicos alguns movimentos são conscientes enquanto outros são automáticos, porque a cabeça e o corpo estão tão unidos que a obediência inclui tanto o que é consciente quan­to o automático. Por exemplo, pode-se respirar profundamente de maneira consciente ou respi­rar naturalmente sem nenhum esforço consciente. Nosso coração bate automaticamente; não espera que se dê uma ordem. Esta é a obediência da vida. A cabeça solicita a obediência do corpo sem alarde ou compulsão, sem nenhum conflito, e em perfeita harmonia. Mas hoje em dia há pessoas que só obedecem ordens. Isto não é apropriado, pois por trás da ordem jaz a vontade, e a von­tade é a lei da vida. A obediência perfeita só pode ser reconhecida quando se obedece à lei da vida. Nada aquém daquilo que um corpo presta à sua cabeça pode ser chamado de obediência. A obediência forçada não segue o padrão da obe­diência.
O Senhor nos colocou em seu corpo onde exis­te união e obediência perfeitas. É verdadeiramen­te maravilhoso ver a mente do Espírito Santo operando nos membros, que nem sequer estão conscientes de serem membros diferentes por­que seu relacionamento é tão indivisível e sua coordenação tão harmoniosa. Às vezes nem sequer precisamos pensar na coordenação das funções dos vários membros. Está verdadeiramente além das palavras humanas descrever a harmonia que existe entre os diversos membros. Mas cada um de nós tenha o cuidado de não ser um mem­bro doente, causador de problemas. Vivendo sob a autoridade de Deus estaremos habilitados a obedecer com mais naturalidade.
Resumindo, a igreja é o lugar não só da co­munhão dos irmãos e irmãs mas também o local da manifestação da autoridade.

Resistir à autoridade dos membros é resistir à cabeça

Embora a autoridade do corpo às vezes seja manifestada diretamente, muitas vezes ela se ma­nifesta de maneira indireta. O corpo não está apenas sujeito à cabeça; além disso, seus diver­sos membros ajudam-se mutuamente e estão su­jeitos uns aos outros. As mãos direita e esquerda não têm comunicação direta; é a cabeça que as movimenta. A mão esquerda não tem capacidade de orientar a mão direita, e vice-versa. A mão também não tem capacidade de ordenar aos olhos que olhem, mas simplesmente notifica à cabeça e deixa que a cabeça ordene aos olhos. Por isso, todos os diversos membros estão igualmente liga­dos à cabeça. Faça o que fizer um membro, tudo se atribui à cabeça. Quando meus olhos olham, sou eu que estou olhando; e o mesmo acontece com o andar e o trabalhar. Podemos, portanto, concluir que frequentemente julgar o membro é julgar a cabeça. A mão não pode ver; tem de aceitar o julgamento do olho. Se a mão pedir à cabeça para olhar, ou se a mão pedir para ver por si mesma, seria pedir de maneira errada.
Mas é justamente aí que jaz a falta comum dos filhos de Deus. Precisamos reconhecer nos outros membros a autoridade da Cabeça. A fun­ção de cada membro é limitada; o olho vê, a mão trabalha, e o pé caminha; devemos, portanto, aprender a aceitar as funções dos outros mem­bros. Não devemos recusar a função de qualquer membro. Se o pé rejeitasse a mão, seria o mesmo que rejeitar a Cabeça. Mas se aceitamos a auto­ridade de um membro, é o mesmo que aceitar a autoridade da Cabeça. Através da comunhão todos os outros membros podem constituir a mi­nha autoridade. Embora a função da mão no corpo físico seja tremenda, ela tem de aceitar a função do pé no momento em que precisar andar. A mão não pode ver cores, por isso tem de aceitar a autoridade do olho. A função de cada membro constitui a sua autoridade.



As riquezas de Cristo são autoridade

É impossível fazer de cada membro um corpo completo; cada um de nós tem de aprender a permanecer na posição de membro e aceitar as operações dos outros membros. O que os outros vêem e ouvem é como se eu visse e ouvisse. Acei­tar as operações dos outros membros é aceitar as riquezas da Cabeça. Nenhum membro pode dar-se ao luxo de ser independente, uma vez que cada um é membro do corpo; tudo o que fizerem os outros membros é considerado como operação de todos os membros e portanto operação do corpo.
O problema de hoje é que a mão insiste em ver, mesmo depois que o olho já viu. Cada um deseja ter tudo em si mesmo, recusando aceitar a provisão dos outros membros. Isto cria pobreza para o próprio membro e também para a igreja. A autoridade é apenas uma outra expressão das riquezas de Cristo. Só aceitando as funções dos outros — aceitando sua autoridade — recebe-se a riqueza de todo o corpo. Submeter-se à auto­ridade dos outros membros é possuir suas rique­zas. A insubordinação cria pobreza. "Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso" (Mt. 6:22); se o teu ouvido é bom, todo o corpo ouvirá.
Geralmente interpretamos mal a autoridade como algo que nos oprime, nos magoa, nos per­turba. Deus não tem um conceito assim. Ele usa autoridade para suprir nossas falhas. Sua moti­vação para instituição da autoridade é conceder--nos suas riquezas e suprir as necessidades dos fracos. Ele não quer que você fique anos a fio esperando e atravesse muitos dias negros e cheios de sofrimento antes que seja capaz de ver por si mesmo. A essa altura você poderá ter levado muitos para as trevas. Na verdade, você se trans­formaria num cego guiando cegos. Que prejuízos Deus sofreria por seu intermédio! Não, primeiro ele opera na vida de outro, e opera de maneira total, para poder colocar essa pessoa como auto­ridade sobre você para que você aprenda a obe­diência e possua o que nunca possuiu antes. A riqueza dessa pessoa se torna sua riqueza. Se você fizer vista grossa a este procedimento divino, ainda que viva cinquenta anos ficará muito atrás do que aquela pessoa alcançou.
A maneira pela qual Deus nos garante a sua gra­ça é dupla; às vezes, embora seja raro, concede-nos a sua graça diretamente; na maioria das ve­zes ele no-la concede indiretamente — isto é, Deus coloca sobre nós irmãos e irmãs na igreja que são mais desenvolvidos espiritualmente para que aceitemos o julgamento deles como nosso.
Com isto nos tornamos aptos a possuir as rique­zas deles sem que passemos por dolorosas expe­riências. Deus depositou muita graça na igreja, mas ele dispensa a cada membro alguma graça em particular, tal como cada estrela tem a sua própria glória. Assim, a autoridade apresenta as riquezas da igreja. A riqueza de cada membro é a riqueza de todos. Rebelar-se é preferir o ca­minho da pobreza. Resistir à autoridade é rejei­tar os meios da graça e da riqueza.

Distribuição de funções também é uma delegação de autoridade

Quem se atreveria a desobedecer à autoridade do Senhor? Mas vamos nos lembrar de que a autoridade dos membros que Deus coordenou no corpo também precisa ser atendida. Deus reuniu muitos membros, e é rebeldia total alguém re-cusar-se a ajudar os outros membros. Às vezes o Senhor usa um membro de maneira direta, mas em outras ocasiões ele usa outro membro para suprir a necessidade daquele membro. Quando a cabeça orienta o olho para olhar, todo o corpo tem de aceitar a visão daquele olho como sua visão. Tal distribuição de funções é uma dele­gação de autoridade; isto também representa a autoridade da cabeça. Se os outros membros ti­verem a presunção de ver por si mesmos, estarão sendo rebeldes. Jamais seja tolo a ponto de imaginar-se todo-poderoso.
Lembre-se sempre que você não passa de um membro; você tem de aceitar as operações dos outros membros. Quando você se submete a uma autoridade visível está em perfeita harmonia com a Cabeça, uma vez que o fato de alguém ter o que você precisa constitui sua autoridade. Todo aque­le que tem um talento tem um ministério, e todo aquele que tem um ministério tem autoridade. Só o olho pode ver; portanto, quando houver neces­sidade de visão, você tem de se submeter à auto­ridade do olho e receber o que ele tem para dar. 0 ministério concedido por Deus é autoridade; ninguém pode rejeitá-lo. A maior parte das pes­soas quer receber autoridade direta de Deus, po­rém Deus mais frequentemente estabelece autori­dades indiretas ou delegadas para obedecermos. Através delas recebemos suprimento espiritual.

A vida torna fácil a obediência

Para o mundo, assim como foi para os israeli­tas, é difícil obedecer, porque não há um elo de vida. Mas para nós que temos um relacionamento vital, desobedecer é que é difícil. Há uma unida­de interna — uma vida e um Espírito, o Espírito Santo orientando e controlando tudo. Sentimo-nos felizes e em paz quando nos sujeitamos uns aos outros. Se tentamos colocar todo o fardo sobre os nossos próprios ombros, ficamos cansa­dos. Mas se o fardo é distribuído entre os diversos membros, sentimo-nos em paz. Que tranquilida­de é aceitar as restrições do Senhor. Ficando su­jeitos à autoridade dos outros membros, expe­rimentamos uma grande emancipação. Mas colocarmo-nos no lugar de outros faz com que nos sintamos muito artificiais. A obediência é natural; desobedecer é difícil.
O Senhor chamou-nos para aprender a obe­diência no corpo, na igreja, como também no lar e no mundo. Temos de aprender bem no corpo, para não encontrarmos dificuldades em outros setores. A igreja é o lugar onde temos de começar a aprender obediência. É o lugar do cumprimen­to como também o lugar da provação. Se fracas­sarmos ali, fracassaremos em qualquer lugar. Se aprendemos bem na igreja, os problemas do rei­no, do mundo, e do universo poderão ser resol­vidos.
No passado, tanto a autoridade como a obe­diência eram objetivas, isto é, uma sujeição externa a um poder externo. Hoje a autoridade tornou-se uma coisa viva, algo interno. Autorida­de e obediência encontram-se no corpo de Cristo. Instantaneamente ambos se tornam subjetivos e as duas se mesclam numa só. Eis aí a mais alta expressão da autoridade de Deus. Autoridade e obediência atingem sua consumação no corpo. Vamos nos edificar aqui; não podemos de outro modo. O lugar onde entramos em contato com a autoridade é o corpo. A Cabeça (a fonte da auto­ridade) e os membros (cada um com sua função, ministrando mutuamente como autoridade delegada além de obedecer à autoridade) tudo se en­contra na igreja. Se fracassarmos em reconhecer a autoridade aqui, não há outra saída.

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