A primeira reação de Moisés para com a rebelião: prostrou-se
Não houve nenhuma rebelião, da parte dos israelitas, mais séria do que a registrada em Números, capítulo 16. O líder da rebelião foi Core, filho de Levi, com Datã e Abirão, filhos de Rúben, apoiados por duzentos e cinquenta líderes da congregação.
Reuniram-se e com palavras fortes atacaram Moisés e Arão (versículo 3). A calúnia de Números 12 foi apenas da parte de Arão e Miriã, e ainda assim foi mais oculta. Mas aqui a rebelião foi coletiva e o ataque contra Moisés e Arão foi franco e direto. Portanto, nesta situação, vamos prestar especial atenção a: 1) Qual foi a posição e atitude pessoal de Moisés? e 2) Como Moisés reagiu diante da crise, como respondeu aos rebeldes?
A primeira reação de Moisés foi esta: "caiu sobre o seu rosto" (versículo 4). Esta é a atitude exata que todo servo de Deus deveria ter. O povo estava nervoso e muitos falavam, mas só Moisés se prostrou ao chão. Aqui novamente colocamo-nos diante de alguém que conhece a autoridade. Sendo verdadeiramente dócil, não tinha nenhum sentimento pessoal. Nem se defendeu nem ficou irritado. A primeira coisa que fez foi cair sobre o seu rosto. Então lhes disse: "O Senhor fará saber quem é dele, e quem o santo que ele fará chegar a si: aquele a quem escolher fará chegar a si" (versículo 5). Não foi necessário lutar. Moisés não se atreveu a dizer algo de si mesmo, porque sabia que o Senhor mostraria quem era dele. Seria melhor permitir que Deus fizesse a distinção. Moisés tinha fé e assim atreveu-se a confiar tudo a Deus. O Senhor faria o seu julgamento na manhã seguinte quando todos comparecessem diante dele com incenso. As palavras de Moisés foram mansas mas de peso: "Basta-vos, filhos de Levi." Foi o suspiro de um velho que conhecia Deus muito bem (versículo 7).
Exortação e Restauração
Moisés exortou a Coré com palavras para restaurá-lo. Ele sabia a seriedade do assunto e realmente estava preocupado com os rebeldes. Não só suspirou mas exortou-os também, dizendo:
"Ouvi agora, filhos de Levi: Acaso é para vós outros cousa de somenos que o Deus de Israel vos separou da congregação de Israel, para vos fazer chegar a si, a fim de cumprirdes o serviço do tabernáculo do Senhor e estar perante a congregação para ministrar-lhe . .. Ainda também procurais o sacerdócio? Pelo que tu e todo o teu grupo juntos estais contra o Senhor; e Arão, que é ele, para que murmureis contra ele?" (versículos 8-11).
Exortação não e uma expressão de senhorio; antes, exibe mansidão. Aquele que persuade diante de ataques é verdadeiramente uma pessoa mansa. Mas aquele que permite que as pessoas permaneçam no erro sem nenhuma intenção de restaurá-las mostra que tem um coração duro. Não exortar numa situação dessas seria falta de humildade; obviamente daria idéia de orgulho. Moisés estava pronto a exortá-los quando atacado e, então depois, deu aos seus caluniadores toda uma noite para que se arrependessem.
Moisés lidou com os rebeldes separadamente. Primeiro com Coré, o levita, depois com Datã e Abirão. Enviou alguém para buscar Datã e Abi-rão mas eles recusaram-se, claramente indicando que nada mais tinham a ver com Moisés (versículo 12). Na atitude de Moisés vemos que aqueles que representam autoridade procuram a restauração, não a divisão, mesmo depois de serem rejeitados. Aqueles homens rebeldes acusaram Moisés de tê-los tirado de uma terra que manava leite e mel (versículo 13). Que acusação absurda. Já tinham se esquecido de que em vez de leite e mel no Egito eram forçados a fazer tijolos e às vezes até mesmo sem o fornecimento de palha. Aqueles rebeldes não foram diferentes dos dez espias que, depois de ver claramente a abundância de Canaã, recusaram-se a entrar nela, e ainda acusaram Moisés. Sua rebeldia atingiu o ponto que não tem retorno. Nada restava além do julgamento. Por isso Moisés ficou muito
zangado e procurou o Senhor para uma revelação de fatos (versículo 15).
Deus veio para julgar. Não só consumiria Core, que era o principal instigador, mas também a congregação que seguira a Core. Mas Moisés caiu com o rosto em terra e rogou pela congregação (versículo 22). Deus atendeu sua oração e poupou a congregação mas ordenou que todos se afastassem das tendas dos culpados. Então julgou Core, Data e Abirão.
Nenhum espírito de julgamento
Enquanto Deus se preparava para julgar os rebeldes, Moisés declarou: "...o Senhor me enviou a realizar todas estas obras, que não procedem de mim mesmo" (versículo 28). Até onde iam seus próprios sentimentos, não tinha intenção de julgar ninguém que se rebelara contra ele. Provou ser o verdadeiro servo de Deus quando insistiu que aquelas pessoas não tinham pecado contra ele mas contra Deus. Que possamos aprender como tocar o espírito do homem. Vemos que em Moisés não havia a menor intenção de julgar. Agiu em obediência a Deus porque era o servo de Deus. Não tinha sentimentos pessoais exceto que achava que tinham pecado contra Deus. Além disso explicou que o Senhor o comprovaria através de uma coisa nova (versículo 30). Assim Deus executou um grande julgamento para estabelecer a autoridade de Moisés. Três famílias foram destruídas e duzentos e cinquenta e seis líderes foram consumidos pelo fogo (versículos 27-35).
O caminho da rebeldia leva ao Seol; rebelião e morte estão ligadas. Autoridade é algo
que Deus estabelece; todos aqueles que ofendem suas autoridades estabelecidas desprezam a Deus Mas em Moisés encontramos uma autoridade delegada que nunca tinha sua própria opinião nem um espírito julgador.
Intercessão e expiação
Embora toda a congregação de Israel testemunhasse que a terra se abriu e engoliu as
famílias rebeldes, e embora fugissem aterrorizados, seu medo era apenas quanto ao castigo, não de Deus. Falharam em compreender Moisés; seus corações permaneceram intocados. Por isso, após uma noite de reflexão, rebelaram-se outra vez no dia seguinte (versículo 41). Se a pessoa não tem um encontro com a graça de Deus, sua condição interior permanece a mesma.
Toda a congregação murmurou contra Moisés e Arão, declarando: "Vós matastes o povo do Senhor" (versículo 41). Vamos agora observar toda a história de como essas autoridades delegadas reagiram diante de tal atitude contra elas.
Humanamente falando, Moisés deveria ficar zangado com o ataque. Claramente, o acontecido fora obra de Deus; por que murmuravam contra ele? Por que não murmuraram contra Deus em lugar de se voltarem contra sua autoridade delegada? Mas a reação de Deus foi mais rápida do que a de Moisés e Arão. Eis que a nuvem cobriu a tenda e a glória do Senhor apareceu (versículo 42). Deus veio para julgar a congregação, e assim ele disse a Moisés e Arão que se afastassem do meio do povo. Foi como se Deus dissesse a Moisés e Arão: sua oração de ontem foi um erro, hoje vou aniquilar toda a congregação.
Não obstante Moisés e Arão caíram sobre seus rostos pela terceira vez (versículo 45). O senso espiritual de Moisés era tão aguçado que percebeu imediatamente que este problema poderia ser solucionado só pela oração. O pecado de ontem não fora tão declarado como o de hoje. Rapidamente disse a Arão que pegasse o seu incensário, fosse à congregação e fizesse expiação por eles (versículo 46). Moisés certamente era a pessoa indicada para autoridade delegada. Ele sabia que consequências trágicas poderiam advir ao povo de Israel, e ainda esperava que Deus fosse gracioso em perdoar. Seu coração estava cheio de amor e compaixão, o anseio de alguém que verdadeiramente conhece a Deus. Moisés não era sacerdote, por isso pediu a Arão que fosse rapidamente fazer expiação pelo povo. Eis aí intercessão mais expiação. A praga já tinha começado entre o povo; Arão agora se colocou entre os mortos e vivos; o resultado foi que a praga foi interrompida. Aqueles que morreram da praga foram quatorze mil e setecentas pessoas (versículo 49). Se Moisés e Arão estivessem menos alertas, certamente muito mais gente teria morrido.
A graça expiadora que vemos em Moisés foi admiravelmente semelhante à que vemos no seu Senhor. Preocupou-se com o povo de Deus e assumiu a responsabilidade pelos obedientes e rebeldes. Uma pessoa que só se preocupa consigo mesma e que geralmente se queixa da responsabilidade que tem pelos outros, não serve para representar autoridade! O modo pelo qual uma pessoa reage mostra o tipo de pessoa que é. Muitos pensam em apenas salvar as aparências e são extremamene sensíveis à crítica dos outros. Todos os seus pensamentos são egocentralizados. Moisés, entretanto, era fiel em toda a casa de Deus. Possivelmente se a casa de Deus sofresse, Moisés, na sua carne ficaria satisfeito; mas ele não teria sido um servo fiel. Um servo fiel, embora pessoalmente rejeitado e desprezado, carrega o fardo de muitos. Os israelitas
rebelaram-se contra Moisés, mas Moisés assumiu seus pecados; eles se lhe opuseram e rejeitaram, mas ainda assim intercedeu por eles. Se nos preocuparmos apenas com nossos próprios sentimentos não seremos capazes de assumir os problemas dos filhos de Deus.
Portanto, confessemos nosso pecado, reconhecendo que somos demasiadamente pequenos e duros. O desejo de Deus para nós é que tenhamos graça em nós. Sejamos tais que Deus tenha permissão de julgar em todas as coisas. A graça para com os outros é o caráter de todo aquele que está em posição de autoridade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentario sera moderado, não use linguagem ofensiva!