A PALAVRA DA CRUZ.

MORRER COM O SENHOR PARA O PECADO
Quando o Senhor Jesus Cristo foi crucificado, Ele não apenas morreu pelos pecadores, abrindo-lhes um vivo caminho para que obtenham a vida eterna e se acheguem a Deus, mas também morreu com os pecadores sobre a cruz. Se a eficácia da cruz fosse meramente no aspecto da substituição par que os pecadores tivessem a vida eterna e fossem salvos da perdição, a maneira da salvação de Deus não seria completa, porque uma pessoa que é salva por crer em Jesus Cristo (veja Atos 16) ainda vive no mundo e ainda existem muitas tentações. Além disso, o diabo freqüentemente a engana e a natureza pecaminosa dentro dela opera continuamente.
Apesar de haver recebido a salvação, ela ainda não está livre do pecado nesta era. Ela não tem o poder para vencer o pecado. Portanto, em Sua salvação, o Senhor Jesus teve de levar a cabo ambos os aspectos: salvar o homem da punição do pecado e também salvar o homem do poder do pecado. Quando o Senhor Jesus morreu pelos pecadores na cruz, Ele libertou o homem da punição do pecado: o eterno fogo do inferno. Quando morreu com os pecadores na cruz, Ele libertou o homem do poder do pecado: o velho homem está morto, e ele já não é escravo do pecado. O pecado não vem de fora, mas de dentro. Se o pecado viesse de fora, então ele não teria muito poder sobre nós.
O pecado habita em nós. Portanto, ele é mortal para nós. A tentação vem de fora, enquanto o pecado habita em nós. Uma vez que todos no mundo são descendentes de Adão, todos têm a natureza adâmica. Essa natureza é antiga, velha, corrupta e imunda; é uma natureza pecaminosa. Desde que essa "mãe" do pecado está dentro do homem, ao virem tentações do lado de fora, o que está dentro reage ao que está fora, e o resultado são os muitos pecados. Por termos orgulho em nosso interior (embora, por vezes, oculto), tão logo venha uma tentação exterior, surge a oportunidade de ficar orgulhoso, e tornamo-nos orgulhosos. Por termos ciúme interiormente, tão logo venha uma tentação externa, achamos os outros melhores do que somos e ficamos enciumados. Por termos temperamento agitado interiormente, assim que vem uma tentação exterior, perdemos a calma. Todos os pecados que o homem comete provêm do velho homem interior.
Esse velho homem é verdadeiramente indigno, irreparável, imutável, incorrigível e incurável. A maneira de Deus lidar com o velho homem é crucificá-lo. Deus quer dar-nos algo novo. O velho homem deve morrer. As palavras de Deus encarregam-nos de lavar todos os nossos pecados no precioso sangue do Senhor Jesus. "O sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado" [1 Jo 1:7]. "Àquele que nos ama, e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados" [Ap 1:5].
Os pecados aqui referem-se aos atos pecaminosos cometidos exteriormente por uma pessoa. A Bíblia jamais nos diz que o velho homem interior deve ser lavado. A Palavra de Deus nunca diz que o velho homem deveria ser lavado. (O sangue de Jesus Cristo lava nossos pecados, e não o velho homem.) O velho homem precisa ser crucificado. Essa é a palavra da Bíblia.
Deus realiza tudo nesta era por meio do Senhor Jesus Cristo. Ele precisa punir os pecadores, contudo puniu o Senhor Jesus porque o Senhor Jesus se firmou na posição e em nome dos pecadores. Deus quer que o velho homem morra, mas, em vez disso, fez com que o Senhor Jesus morresse na cruz. Fazendo assim, Ele levou todos os pecadores juntamente com o Senhor para a cruz. Primeiro há uma morte substitutiva, a seguir, uma morte participativa. Essa é a palavra clara da Bíblia. Jesus Cristo é o que "morreu por todos; logo, todos morreram" [2 Co 5:14].
Esse ponto deve ser enfatizado e não deveria ser tratado levemente. Um crente, isto é, uma pessoa salva que confesse que é pecador e que crê em Jesus, deveria lembrar-se que a crucificação de seu velho homem não é uma atividade independente, separada do Senhor Jesus, mas algo feito em união com o Senhor. Quando o Senhor morreu, nosso velho homem morreu juntamente com Ele e Nele. Isso explica o fracasso de muitas pessoas. Muitas vezes os crentes exercitam a própria força para crucificar seu velho homem. Entretanto, descobrem seguidamente que o velho homem ainda está vivo. Eles tentam, na maioria das vezes sem intenção, crucificar o velho homem independentemente, por si próprios, sem Cristo. Isso nunca poderá ser feito. A não ser que alguém morra com o Senhor Jesus, não há a crucificação do velho homem. O velho homem é crucificado juntamente com o Senhor Jesus.
Não morremos por nós mesmos; pelo contrário, morremos junto com o Senhor. Fomos batizados "na sua morte" (Rm 6:3); "fomos unidos com ele na semelhança da sua morte" (Rm 6:5); "já morremos com Cristo" (Rm 6:8); "foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos" (Rm 6:6). Não podemos crucificar a nós mesmos, e não morreremos. Essa "co-crucificação" é um fato consumado; foi cumprida quando o Senhor Jesus foi crucificado. A morte do Senhor Jesus é um fato, que o Senhor Jesus morreu por nós também é um fato e o ser crucificado juntamente com Ele também é um fato. "Foi crucificado com ele", segundo o original, é um verbo de ação contínua; ele está no pretérito perfeito, o que indica que a crucificação do nosso velho homem com o Senhor Jesus é um ato realizado uma vez por todas, quando o Senhor morreu. Mas qual é o resultado de morrer com o Senhor ? Qual é o alvo ? Sabemos de Romanos 6:6 que o resultado é que o corpo do pecado seja destruído, e o alvo é que não mais sejamos escravos do pecado. Usemos uma ilustração para explicar esse fato. Existem três coisas: o velho homem, o pecado e o corpo do pecado. O pecado é como um senhor, o velho homem é como um mordomo e o corpo é como um fantoche. O pecado não tem a autoridade e poder para assumir a responsabilidade sobre o corpo do pecado ou de conduzi-lo ao pecado. O pecado dirige o velho homem; quando o velho homem consente, o corpo torna-se o fantoche. Desse modo, enquanto nosso velho homem estiver vivo, ele permanece no meio. O corpo está do lado de fora e o pecado do lado de dentro. O pecado interior tenta o velho homem, cuja concupiscência é incitada. Isso faz com que o velho homem dê a ordem ao corpo para pecar e envolver-se em transgressões. O corpo é muito flexível; tudo o que você lhe disser que faça, ele fará. É algo que não tem domínio sobre si mesmo. Por ele mesmo, nada pode fazer; ele só age segundo as ordens do velho homem. Quando o Senhor nos salva, Ele não leva nosso corpo à morte nem destrói a raiz do pecado. Antes, Ele crucificou nosso velho homem com Ele na cruz.
Qual é o resultado de crucificar o velho homem? O resultado é "que o corpo do pecado fosse destruído". No original grego, "destruído" significa "desempregado". Isso quer dizer que sem o velho homem, o corpo do pecado não pode fazer mais nada. Inicialmente, o corpo do pecado funcionava diariamente seguindo as ordens do velho homem. É como se pecar se houvesse tornado a sua ocupação. Tudo o que fazia era cometer pecados. O velho homem amava demasiadamente o pecado; queria pecar, andava por pecar e gostava muito de fazer coisas pecaminosas; o corpo seguia o velho homem para pecar e tornar-se o corpo do pecado. Agora que Senhor lidou com o velho homem e o crucificou, o corpo do pecado fica desempregado; não há mais trabalho para ele fazer. Quando o velho homem estava vivo, a profissão e a ocupação do corpo do pecado era cometer pecados todos os dias. Graças ao Senhor, esse velho homem sem esperança foi crucificado! O corpo do pecado também perdeu seu trabalho! Apesar de o pecado ainda existir e ainda tentar ser o senhor, contudo não sou mais seu escravo. Embora vez ou outra o pecado tente energizar o corpo para que peque, ele não pode obter sucesso, porque o Espírito Santo tornou-se o Senhor dentro do novo homem. Como resultado, o pecado é incapaz de ativar o corpo novamente para pecar. Portanto, o alvo da crucificação do velho homem e o desemprego do corpo do pecado em Romanos 6:6 é que "não sirvamos o pecado como escravos".
Vimos estes três itens: um fato: "que nosso velho homem foi crucificado com ele", um resultado: "que o corpo do pecado seja destruído", e um objetivo: "que não sirvamos o pecado como escravos". Esses três estão interligados e não podem ser separados. Conhecemos o fato, o resultado e o objetivo. Mas como podemos obter isso? Quais as condições necessárias para ter a experiência de morrer juntamente com o Senhor? É crer. Não há outra condição senão crer.
A maneira de receber a morte substitutiva do Senhor Jesus é a mesma de morrer juntamente com Ele. Pela fé, e não por obras, toma-se parte no resultado da morte substitutiva do Senhor Jesus, que é a absolvição da punição eterna. De semelhante modo, pela fé toma-se parte no resultado de morrer com o Senhor Jesus, que é a nossa libertação do pecado. É um fato que o Senhor Jesus já morreu por você; também é um fato que você já morreu com Ele. Se não crer na morte de Cristo por você, não poderá participar da eficácia desta morte: a absolvição da punição. Se você não crer na sua morte com Cristo, da mesma forma não poderá receber a eficácia da morte com Ele: a libertação do pecado. Todos os que crêem na morte substitutiva de Cristo estão salvos, e todos que crêem na sua morte com Cristo venceram. Tomar parte na morte do Senhor Jesus, seja na morte substitutiva ou na morte participativa, requer fé. Deus requer que creiamos. Precisamos crer na morte do Senhor por nós e em Sua morte conosco. Romanos 6:11 diz: "Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado". A palavra "considerar" é extremamente importante. Freqüentemente gostamos de "perceber" se nosso velho homem morreu. Gostamos de "sentir" se ele morreu. Se tentarmos perceber ou sentir, nosso velho homem, em nossa experiência, nunca morrerá. Ele não morre por nossa "percepção" ou "sentimento". Quanto mais "percebemos", mais notamos que ele não está morto, e quanto mais "sentimos", mais vemos que ele ainda está vivo. O velho homem não é crucificado por "perceber" ou "sentir"; ele experimenta crucificação por meio do "considerar". Que é considerar?
"Considerar" é um ato de fé; "considerar" é a aplicação da fé; "considerar" é o julgamento da vontade e a execução da vontade. "Considerar" é completamente contrário a "perceber" e "sentir". "Perceber" e "sentir" têm a ver com os sentimentos da pessoa, enquanto "considerar" tem a ver com fé e vontade. Portanto, a crucificação do nosso velho homem não é algo que devamos sentir. É errado dizer: "Eu não sinto que meu velho homem esteja morto". Se o velho homem morreu ou não, independe do seu sentimento; depende de você considerar isso ou não.
Como "consideramos"? Considerar-se morto ao pecado é considerar-se já crucificado. É considerar que seu velho homem já foi crucificado, e que a cruz do Senhor Jesus é a cruz para seu velho homem; é considerar que a morte do Senhor Jesus é a morte do seu velho homem, e também que a época da morte do Senhor Jesus há mil e novecentos anos é a época em que o seu velho homem morreu. O velho homem já foi crucificado com Cristo. Isso é um fato, um fato consumado. Aos olhos de Deus, ele está morto. Agora consideramos que ele está morto. Se considerarmos em nosso coração as coisas nas quais cremos, Deus as cumprirá. Além disso, deveríamos exercitar a vontade para considerar-nos mortos para o pecado. Se fizermos isso, não mais seremos escravos do pecado. Considerar é tanto um ato como uma atitude. O ato é questão de momento, enquanto a atitude é algo que alguém mantém todo o tempo. O ato é uma ação momentânea acerca de determinado assunto, enquanto a atitude é uma avaliação duradoura acerca de algo. Devemos considerar-nos mortos para o pecado. Isso significa que deveríamos dar um passo definido para considerar-nos mortos para o pecado. Após isso, deveríamos continuamente manter a atitude de estar morto para o pecado. O ato é o início e a atitude é a continuação. Deveríamos ter ao menos um momento diante de Deus onde, de modo definitivo, a partir daquele exato dia e hora, consideramos a nós mesmos mortos. Após essa consideração específica, deveríamos diariamente manter a atitude de consideração definitiva, atitude que declara a nós mesmos mortos para o pecado. O fracasso de muitas pessoas é este: embora se considerem mortas ao pecado e tenham recebido a palavra de morrer com o Senhor na cruz, acham que essa questão é uma vez por todas e, uma vez que fizeram essa consideração, não terão problemas a partir de então. Pensam que da mesma forma que alguém está morto quando seu corpo morre, assim é com a morte do velho homem de alguém. Elas não percebem que o mesmo não é verdade na esfera espiritual. Precisamos considerar-nos mortos com Cristo cada dia e cada hora. Sempre que um crente pára de considerar, seu velho homem, na experiência, não estará morto. Essa é a razão de muitas pessoas acharem que seu velho homem parece ter ressuscitado. Se isso fosse algo que pudesse ser resolvido uma vez por todas, não precisaríamos mais estar vigilantes. Entretanto, sabemos que precisamos estar atentos. Vigilância é algo que necessitamos exercitar a todo o momento. De semelhante modo, considerar o velho homem morto é algo contínuo e ininterrupto. Se os filhos de Deus estiverem mais cônscios disso, evitarão muitos fracassos.
Tomar essa atitude não é um exercício mental, mas uma avaliação permanente de nós mesmos na vontade. Deveríamos ser capazes de considerar-nos mortos quer consciente, quer inconscientemente. Os filhos de Deus sempre encontram dificuldades em fazê-lo. Por vezes, acham que "se esqueceram" de considerar-se. Eles têm feito uso do órgão errado. Considerar é um exercício da vontade, e não uma luta na mente. Se você vence ou não, depende de ter ou não tomado a atitude de considerar-se morto. Isso não depende de ter ou não lembrado de considerar-se. Se você exercita a vontade pelo Espírito Santo em manter essa atitude de morte, descobrirá que consciente ou inconscientemente essa atitude estará com você. A atitude será sempre a mesma quer se lembre ou não. Naturalmente, a mente tem sua posição, mas não deveríamos deixar a mente influenciar a vontade. A vontade deve controlar a mente e levá-la a auxiliar a vontade em manter essa atitude.
Portanto, cada dia e hora, consciente ou inconscientemente, não importando o que façamos, devemos sempre firmar-nos no fundamento da cruz e considerar nosso velho homem morto. Aqui reside o segredo de vencer o pecado e o diabo. O pecado e o diabo estão relacionados entre si. Se o pecado não pode ser nosso rei, espontaneamente o diabo não terá terreno em nosso coração.
Se os crentes perceberem e receberem a verdade da cruz, não haverá tantos que retrocedem e fracassam. Uma vitória duradoura não pode ser separada de uma permanência duradoura no fundamento da cruz.
Entretanto, isso não significa dizer que após termos "considerado" o velho homem morto na conduta e na atitude, o pecado dentro de nós será eliminado e anulado. Uma vez que ainda estejamos no corpo, o pecado ainda estará conosco. Dizer que o pecado pode ser anulado nesta vida não é o ensinamento da Bíblia. Podemos mortificar nosso velho homem crendo na cruz do Senhor no Gólgota e podemos fazer o corpo do pecado ficar sem poder, definhar e ficar paralisado como morto, mas nunca poderemos fazer o pecado ser anulado. Sempre que formos descuidados, desatentos e não firmados no terreno da morte do Gólgota, nosso velho homem estará ativo e exercerá sua autoridade e poder novamente. Satanás busca oportunidades o dia todo para ativá-lo. Onde quer que haja uma brecha, ele tentará recuperar a posição original.
Sendo esse o caso, quanto precisamos estar vigilantes e alertas para que o velho homem nunca tenha um dia para ressuscitar novamente! Mas isso não é muito difícil? Certamente a carne considera isso difícil. Portanto, para que a cruz opere nos que crêem, eles devem ter o poder do Espírito Santo. A cruz e o Espírito Santo nunca podem ser separados. A cruz torna possível aos crentes vencer o pecado; o Espírito Santo torna real na vida dos crentes o que a cruz realizou. Um crente que quer ser libertado dos pecados não deve fazer provisões para a carne; ele deve ser vigilante e estar pronto para pagar qualquer preço. Ele deveria ter menos esperança em si e mais confiança no Espírito Santo. Para o homem isso é impossível; para Deus, nada é impossível.
A morte da cruz é diferente de qualquer outro tipo de morte. Esse tipo de morte é o mais doloroso e demorado. Portanto, se verdadeiramente considerarmo-nos mortos e tomarmos a cruz do Senhor como nossa, ela será dolorosa e miserável no tocante à carne. O Senhor Jesus ficou suspenso na cruz por seis horas antes de morrer; Sua morte foi muito lenta. Na vida dos cristãos, as experiências de co-crucificação pertencem muitas vezes a esse período de seis horas. Quando o Senhor Jesus estava na cruz, Ele tinha o poder de descer se assim desejasse. O mesmo é verdade para os que são crucificados com o Senhor. Sempre que alguém permitir que seu velho homem deixe a cruz, este a deixará. O velho homem está pendurado na cruz mediante a consideração da pessoa. Se alguém mantiver a atitude de que o velho homem está morto, este ficará tão sem forças quanto um morto. Mas uma vez que a pessoa relaxe, o velho homem será ativado. Muitos filhos de Deus freqüentemente querem saber por que seu velho homem fica ressuscitando. Eles se esquecem que a morte de crucificação é lenta.
Satanás está muito atento; ele aproveita toda oportunidade para ressuscitar o velho homem e fazer com que os crentes cometam pecados. Toda vez que estamos desapercebidos, sua tentação e engano vêm. Quando exteriormente a tentação e o engano vêm, o velho homem em nosso interior é rápido em reagir. Nessa hora, a pessoa deve voltar-se uma vez mais ao fundamento da cruz e uma vez mais considerar-se morta. Ela deve aguardar (por meio da sua consideração) que o Espírito Santo lhe aplique o poder da cruz, até que a tentação perca seu poder de atração. Todo crente deveria ter essa experiência extraordinária. Quando estiver a ponto de ser derrotado, ele deve ir novamente à cruz e considerar-se morto; por meio disso ele provará um poder que entra nele, que o guarda e fortalece para resistir à tentação. Entretanto, não é verdade que algumas vezes consideramos seguidamente e ainda assim não vemos nenhum resultado, e pecamos? Essa é a experiência de muitos. Isso mostra que seu "considerar" tem algum problema. Se você tiver realmente considerado, certamente encontrará um extraordinário poder que entra em você. Lembremo-nos de que esse "considerar" não é dizer com a boca: "Estou morto, estou morto"; tampouco é pensar na mente: "Estou morto, estou morto". E o julgamento da sua vontade ao se considerar morto e manter essa atitude de consideração com um coração que crê. Podemos dizer que essa é uma decisão na vontade, por meio da qual declaramos: "Estou morto". Em outras palavras, primeiro você está desejoso de morrer, então considera a si mesmo morto. Precisamos aprender a considerar com a vontade e com fé.
Se realmente nos firmarmos em Romanos 6:11, sempre teremos a experiência de ser libertados do pecado. Quando um crente toma essa atitude pela primeira vez, Satanás tentará de propósito causar um tumulto e fará com que ele sinta que as coisas são difíceis demais para controlar. Nessa hora, ele deve calmamente confiar no Espírito Santo para que aplique nele o poder da cruz. Não se debata, não fique ansioso, não pense que a tentação é grande demais e não superestime o inimigo por causa disso. Você deve considerar-se morto para o pecado. A cruz tem o poder de vencer o mundo. Nas vezes que infelizmente falharmos, deveremos levantar-nos ainda mais e crer mais no poder da cruz. O Espírito Santo conduzi-lo-á para a vitória no Senhor Jesus. Irmãos, "o pecado não terá domínio sobre vós, pois (...) estais debaixo (...) da graça" [Rm 6:14]!

II. MORRER COM O SENHOR PARA O EGO
Em nossa experiência, morrer para o ego é mais profundo e mais avançado que morrer para o pecado. Normalmente os filhos de Deus prestam muita atenção a vencer pecados. Eles sofrem muito aborrecimento do pecado. Sabem muito bem como, após pecar, sua vida regenerada se preocupa com o maligno e com a amargura do pecado. Eles provaram muito disso e esperam muito vencer o pecado e não mais ser escravos do pecado. Portanto, após ter recebido a luz e ter compreendido como morrer com o Senhor e como considerar-se mortos para o pecado, eles confiam no poder do Espírito Santo e começam seriamente a considerar-se mortos e a permitir que a vitória da cruz se expresse em seu coração e por meio dele. Contudo, sempre falta algo: depois de ter a experiência de vitória sobre o pecado, acham que essa experiência é o padrão mais elevado da vida e nada pode ser mais elevado.
Eles dão atenção excessiva aos pecados. Como resultado, uma vez que os tenham vencido, dão-se por satisfeitos. É correto que prestemos atenção aos pecados e é correto que os crentes não negligenciem os pecados. A vitória sobre pecados é a base de toda justiça e é a chave para o viver cristão adequado. Se o pecado tiver domínio sobre nós, não poderemos esperar por qualquer progresso espiritual. Mas isso não significa que possamos parar na vitória sobre o pecado, e traçar um limite e designar um fim ao nosso avanço. Devemos saber que isso é apenas o primeiro passo da regeneração de um cristão. Ainda há um longo caminho diante de nós. Não o considere um fim! Após vencer os pecados, o problema imediato que se apresenta aos cristãos é como vencer o "ego".
Os crentes freqüentemente entendem mal o verdadeiro significado de "ego". Alguns o confundem com pecado. Consideram o ego como pecado e acreditam que ele deveria ser levado à morte. Naturalmente, o ego e o pecado têm muito a ver um com o outro, mas o ego não é o pecado. Muitos utilizam a medida com que medem o pecado para medir cada comportamento exterior. Qualquer coisa que consideram errada é por eles condenada como pecado e consideram-na como ego e como a "mãe" do pecado, e que deve ser crucificada. Eles pouco compreendem que por mais que o ego seja ruim, ele nem sempre é mau. É verdade que tudo o que provém da "mãe" do pecado é pecado, e é corrompido e sujo, e é também verdade que o que é expresso pela "mãe" do pecado por meio do ego não pode de modo nenhum ser bom. Entretanto, às vezes, quando o ego é expresso, ele pode parecer muito bom aos olhos do homem e pode parecer muito virtuoso, muito amável e muito justo. Se tomarmos a medida com que medimos o pecado para medir o ego, certamente eliminaremos a parte má do ego e manteremos a parte boa; boa, é claro, segundo a concepção do homem. Pelo fato de os crentes não perceberem a fonte do ego e não compreenderem que este pode produzir o que tanto Deus como o homem condenam como mau, assim como o que é reconhecido pelo homem como bom, eles permanecem na esfera do "ego" e deixam de entrar no desfrute da vida plena e rica de Deus. Satanás é muitíssimo sutil; ele oculta esse fato e mantém os crentes em trevas, levando-os a se contentar com a experiência da vitória sobre o pecado e parar de buscar uma experiência mais
elevada: a da vitória sobre o ego.
A vida do ego é exatamente a vida natural. A vida natural foi afetada pela queda de Adão e tornou- se muito corrompida. Pela queda de Adão, o homem adquiriu a natureza pecaminosa. Esta está intimamente entrelaçada com a vida natural, que é o ego. Nosso ego é exatamente o nosso eu; é o que constitui nossa personalidade individual. Em outras palavras, é a nossa alma. Por ser a natureza pecaminosa tão intimamente relacionada ao ego, é difícil separar os dois em suas operações, isto é, em seus atos de pecado. Eles são tão unidos que tão logo a "mãe" do pecado se mova, o ego concorda e executa, e o homem comete pecados exteriores.
É claro, nunca poderemos fazer uma separação muito clara entre o ego e o pecado. Em um incrédulo, o ego e o pecado são um, e é muito difícil separá-los. O ego já é capaz de transgredir por si mesmo. Mas o pecado, sendo tão poderoso, afeta o ego, domina-o, subjuga-o e obriga-o a vir com mais idéias para pecar. Sob a influência da queda de Adão, o ego já está corrompido ao máximo. Agora quando ele colabora com o pecado, os dois têm pouco motivo para conflito. Mesmo que algumas vezes a consciência faça um protesto muito fraco, é tão curto e fraco que desaparece num instante. O ego e o pecado cooperam mutuamente tão bem que, em pessoas não-regeneradas, ambos estão misturados. Para eles, o pecado é exatamente o ego encarnado. Para eles, o ego é simplesmente os muitos males que aparecem na vida humana caída; é simplesmente a raiz, os ramos e as folhas do pecado. Para eles, o ego não é somente a origem do pecado, mas a própria vida do pecado. Para eles, o pecado é o ego, e o ego é o pecado. Após um homem ser regenerado, no estágio inicial de sua vida cristã, ele ainda acha difícil na experiência fazer distinção entre o pecado e o ego. Mais tarde, à medida que recebe mais graça de Deus e a obra da cruz e o poder do Espírito Santo tornam-se mais evidentes nele, ele começa a separar o pecado do ego. Ao longo do caminho na vida cristã, os filhos de Deus são gradativamente capazes de diferenciar o ego do pecado. Os que têm a experiência de Romanos 6:11 perceberão que embora um homem possa ter vencido o pecado, pode ainda não ter vencido o ego.
Para os crentes que são avançados em vida, a vitória sobre o pecado é fácil, ao passo que a vitória sobre o ego é muito difícil. Se um crente tem a experiência plena da vitória sobre o ego, terá obtido a vida que os apóstolos tiveram.
A vida do ego é exatamente a vida da alma. O ego é a nossa personalidade e tudo o que nela está contido. Dele provêm a opinião pessoal, gostos, pensamentos, desejos, preconceitos, amor e ódio. A vida do ego é o poder pelo qual alguém vive. Devemos ter em mente que o ego é simplesmente a nossa pessoa acrescida de gostos e desgostos. Essa vida é o poder natural pelo qual realizamos o bem e trabalhamos. O ego é uma vida, pois vive nos crentes cujo ego não foi removido. Mesmo nos crentes que morreram para o ego, este freqüentemente tenta ressuscitar. A vida do ego centraliza-se no próprio ego da pessoa.
Após os crentes receberem o tratamento da cruz com relação ao pecado, o corpo do pecado será neutralizado e não será mais capaz de agir. Entretanto, devido à falta de atenção à vida do ego, esta ainda vive. Nesse estágio, a vida do ego é semelhante à vida de Adão antes da queda. Não era espiritual porque não fora transformada pelo fruto da árvore da vida, e não era carnal, pois não havia pecado. Ela pertencia a si mesma, e, sendo assim, podia pecar se o quisesse, e ser espiritual se o quisesse. A vida dos crentes nesse período é muito semelhante a isso. Não é espiritual porque seu espírito ainda não é livre e não alcançou um andar segundo a vida mais elevada de Deus. Não é carnal porque a pessoa recebeu a consumação da cruz e se considera morta para o pecado. Ela pertence ao ego, é anímica, natural e não transformada. Se não for cuidadosa, cairá e será contaminada pelo pecado da carne. Se prosseguir e proclamar a consumação da cruz, tornar-se-á completamente espiritual. Contudo, se os crentes permanecerem na esfera do ego, cairão na maioria das vezes e muitas vezes tornar-se-ão carnais.
Nesse período, os crentes estão na condição mais vulnerável da vida cristã. Por um lado, devem proteger-se de cair; por outro, devem decidir-se a ter algumas obras práticas justas. O perigo, então, é fazer o bem por esforço próprio. Não necessariamente é algo óbvio; por vezes, pode estar muito obscuro e oculto. Algumas vezes leva longo tempo para Deus mostrar aos crentes que eles ainda estão no ego e ainda tentam cumprir a vontade de Deus por esforço próprio. O ego inclui muitas coisas. Vontade, emoções, amor e inteligência estão no seu domínio. O ego é a própria pessoa. A vida do ego é o poder pelo qual vivemos. O ego é também a alma; é um órgão. A vida do ego é a vida da alma, é o poder que motiva esse órgão. Quando um homem está no ego, a vida do ego comunicará poder, isto é, o próprio poder do ego, para diversas partes do homem: a vontade, as emoções, o amor, a inteligência etc, e fará com que o homem pratique o bem e trabalhe. Sua vontade é suficientemente forte para resistir as tentações exteriores.
Suas emoções alegram a pessoa e a levam a pensar que Deus está muito próximo dela. Seu amor ao Senhor é profundo e sincero. Sua inteligência leva-a a produzir muitos ensinamentos bíblicos maravilhosos e muitos métodos de realizar a obra de Deus. Mas, por fim, tudo é feito pelo ego e não pela vida espiritual de Deus. Nesse período, Deus muitas vezes concede graça especial aos crentes para que recebam muitos dons maravilhosos. Ao perceber que todos esses dons provêm de Deus, espera-se que o homem se volte completamente de si mesmo para Deus. Entretanto, na experiência, o que um crente faz é totalmente o oposto do que Deus pretende. Não apenas não se volta inteiramente a Deus, como tira vantagem desses dons para proveito próprio. Como resultado, esses dons tornam-se uma ajuda para prolongar a vida do ego. Portanto, Deus tem de trabalhar muitos dias e anos até que essa pessoa desista de si mesma e se volte inteiramente a Ele.
Após um crente ser trazido por Deus a uma compreensão profunda da maldade do ego, ele estará disposto a levar o ego à morte. Mas qual é a maneira de o ego morrer? Não há outra maneira senão a cruz. Devemos ler duas passagens da Bíblia para entender a relação entre a cruz e o ego.
"Estou crucificado com Cristo" (Gl 2:19b). "Se alguém quer vir após Mim, a si mesmo se negue, tome cada dia a sua cruz e siga-Me" (Lc 9:23).
O que Gálatas 2:19 fala é algo que foi cumprido uma vez por todas. Após perceber que nosso ego precisa ser levado à morte, deveríamos então, pela fé, reconhecer de modo definitivo que "estou crucificado com Cristo". A palavra no texto original é egó, o "eu", a pessoa. Além da cruz, certamente não há outro caminho para levar o ego à morte. Devemos atentar também para as palavras "com Cristo". A crucificação do ego não é um ato independente dos crentes. Os crentes não devem cravar o ego na cruz por si mesmos, com a própria força. A crucificação do ego deve ser junto com Cristo e em conjunto com Cristo. Isso não quer dizer que ajudamos Cristo a colocar o ego na cruz. Pelo contrário, significa que Cristo já cumpriu esse fato, e agora eu apenas o reconheço e creio na sua realidade. Aqui o ponto principal é Cristo. Essa é a razão de se dizer: "Estou crucificado com Cristo", e não "Cristo está crucificado comigo". Não que queiramos levar o ego à morte e que Cristo vem meramente acompanhar-nos. Pelo contrário, foi Cristo que na morte carregou toda nossa "pessoa", nosso ego, para a cruz e pregou-o ali. Portanto, não crucifico o ego novamente, mas simplesmente reconheço o fato. A palavra "estou" nos mostra que é um fato e não um desejo. Uma vida que morre para o ego é possível, real e atingível. Os apóstolos nos tempos antigos alcançaram esse tipo de vida; o ego deles passou no teste. Portanto, é-nos possível obtê-la também. Entretanto, devemos lembrar-nos que é "crucificado com" e não "crucificado sozinho".
Separados do Senhor nada podemos fazer. Crucificar o ego com a força do ego é uma tarefa impossível e jamais pode ser feita. Se não estivermos unidos com o Senhor em Sua morte, nosso ego nunca morrerá. Em Sua morte, Cristo sozinho levou à cruz toda a velha criação, junto com cada parte dela. Se tentarmos encontrar outra maneira fora da maneira do Senhor e tentarmos realizar qualquer coisa fora do que Ele cumpriu, não somente seremos tolos, mas também desperdiçaremos o tempo.
Portanto, não devemos fazer nada a não ser achegar-nos ao Senhor em plena certeza de fé e reconhecer a Sua realização como sendo nossa; em seguida devermos orar para que o Espírito Santo aplique em nós a obra da cruz do Senhor e expresse essa mesma obra a partir de nós.
Devemos achegar-nos diante de Deus para repreender o ego e oferecer tudo a Deus. Pelo Espírito do Senhor, deveríamos levar à morte tudo o que está incluído na vida do ego. Devemos dizer a Deus: "De agora em diante não mais eu, não mais minha aparência, opiniões, gostos ou preconceitos. Porei tudo isso na cruz. Começando de hoje, viverei somente de acordo com a Tua vontade. Ó Senhor! És Tu, e não eu". Deveríamos submeter-nos ao Senhor dessa maneira enquanto levamos à morte tudo o que temos. Porém isso não significa que de agora em diante nosso ego foi exterminado. Ele não pode e não será exterminado; ele sempre existirá. Por que, então, dizemos para pregar o ego na cruz? Aqui precisamos saber algo importante: a questão diante de nós é a que tem relação com a vida espiritual. Para esse tipo de pergunta, devemos enfatizar mais a experiência espiritual do que mera precisão literária. Existem muitas coisas que parecem contradizer-se a outras na semântica e parecem totalmente incompatíveis. Contudo, elas se ajustam muito harmoniosamente e não têm embaraço de nenhuma espécie na esfera da vida espiritual. Isso é o que ocorre aqui. Segundo o significado literário, se o ego já está morto, como não pode ser exterminado? Devemos saber que a palavra "morto" aqui refere-se a um tipo de processo na experiência espiritual. O fato de o ego estar morto não significa que de agora em diante não existe; significa que daqui para frente se submeterá a Deus e não permitirá que seus gostos e desgostos tomem conta, mas permitirá que a cruz crucifique e elimine todos os seus pensamentos e atividades egoístas. Fazer com que a vida do ego pare de dirigi-lo significa que o viver que se origina da vida do ego está morto e não há mais vida do ego e viver do ego, e somente a casca do ego permanece. O ego inclui a vontade, as emoções, a inteligência etc. Isso não quer dizer que ao crer que nosso ego foi crucificado com Cristo, nossa vontade, emoções, intelecto etc. serão anulados! Ninguém pode aniquilar as poucas faculdades que compõem seu ser apenas crendo que foi crucificado com o Senhor! Morrer com o Senhor simplesmente significa não mais permitir que o ego seja o dono, não agir mais segundo a própria vontade, emoções e pensamentos, e não mais permitir que a vida do ego tenha maneira própria; significa permitir que o Senhor Espírito governe tudo o que o ego engloba, de modo que a pessoa obedecerá a vida de Deus no seu interior. Uma vez que o ego não está morto, ele não se submeterá ao Espírito Santo. Uma vez que o ego saia da cruz, imediatamente reassumirá sua velha postura. Os crentes não têm nem o poder nem a maneira de subjugar a si mesmos. Gálatas 2:19-20 esclarece muito esse ponto: "[Eu] [o ego] estou crucificado com Cristo (...) e esse viver que agora tenho na carne". A Bíblia não fala claramente aqui? Na primeira sentença Paulo deixa muito claro que seu ego foi crucificado, contudo na segunda não diz ele que o ego ainda existe ? Portanto, a crucificação do ego não implica a sua eliminação; pelo contrário, significa a interrupção das suas atividades e a permissão de que o Senhor seja o Mestre. Isso deve estar muito claro.
O que foi dito acima foi alcançado uma vez por todas. É, porém, suficiente apenas crer uma vez que fomos crucificados com Cristo? Acaso isso irá resolver o problema uma vez por todas? Isso nos leva à segunda passagem da Bíblia: "A si mesmo se negue, tome cada dia a sua cruz e siga-Me" (Lc 9:23). Esse versículo ressalta que as três coisas que deveríamos fazer são, na verdade, apenas uma dividida em três passos. O primeiro passo é negar o ego. Negar significa rejeitar, descartar, ignorar e não reconhecer a interpelação de alguém. O significado de negar o ego é simplesmente não permitir que ele seja o senhor. Esse passo é um ato definido; é crer especificamente que "estou crucificado com Cristo". Para preservar o trabalho desse passo, devemos levar a cabo o segundo passo, que consiste em "cada dia" tomar a cruz. Isso significa que, uma vez que entregamos o ego à cruz voluntariamente e o impedimos de ser o senhor, devemos, então, continuar a negá-lo diariamente.
Negar o ego deve ser "diariamente" e ininterruptamente. Essa questão não pode ser realizada uma vez por todas. O Senhor precisa conceder-nos uma cruz diária para carregar. O ego é muito ativo e Satanás, que tira vantagem do ego, também é incansável. A todo o momento, o ego procura uma oportunidade de restaurar-se e jamais deixar escapar a menor chance que seja. Assim, é de suma importância que tomemos a cruz diariamente. É nisso que os crentes precisam ser vigilantes.
Deveríamos "cada dia" e momento após momento tomar a cruz que o Senhor nos tem dado; e ainda continuamente reconhecer que a cruz do Senhor é nossa e não dar qualquer espaço para o ego nem permitir que ele assuma qualquer posição. O terceiro passo é seguir o Senhor; isto é positivamente honrá-Lo como Senhor e obedecer completamente a Sua vontade. Dessa maneira, o ego não terá chance nem possibilidade de se desenvolver. Esses três passos estão totalmente baseados e centralizados na cruz. O primeiro passo, de negar o ego, é do lado negativo. O segundo passo, de tomar a cruz, é negativamente positivo. O terceiro passo, de seguir o Senhor, é do lado positivo.
O ensinamento nessas duas passagens não deve ser desvinculado um do outro. Se os tomarmos e os praticarmos juntos, teremos a experiência de vencer o tempo todo. Entretanto, devemos permitir que o Espírito Santo faça Sua própria obra em nós e permitir que a obra consumada da cruz seja trabalhada em nós.
Nosso pensamento em geral é que estamos muito desejosos de dar a Cristo nossas coisas más, sujas, pecaminosas e satânicas e tê-las pregadas na cruz com Ele. Estamos muito dispostos a livrar-nos das coisas más do ego. Entretanto, nosso problema freqüente é que achamos que deveríamos manter as coisas boas do ego.
Na visão de Deus, o ego está totalmente corrompido e é afetado profundamente pela queda de Adão. De acordo com Deus, Ele não pode curar a vida do ego nem melhorá-la. Não há outra maneira senão crucificá-la com Cristo. O mundo está disposto a deixar que tudo se vá e até mesmo se dispõe a sacrificar seu próprio dinheiro e tempo; contudo, encontra muita dificuldade em negar o ego e crucificá-lo. Sempre consideramos que o ego não é de todo mau. Esse é o ponto de vista humano. É claro que o homem natural não tem a intenção de preservar somente sua bondade. Entretanto, inconscientemente e involuntariamente, ele preserva o lado bom do ego e leva à morte o lado mau. Pouco nos damos conta de que o ego ou está totalmente vivo ou totalmente morto. Se a parte boa do ego é mantida viva, não há garantia de que a sua parte má esteja morta. Portanto, os crentes têm uma lição séria a aprender aqui. Eles devem estar dispostos a crucificar com Cristo tanto a parte boa como a parte má do ego. O ego natural de muitas pessoas é honesto por nascimento. Alguns são muito pacientes, outros são amáveis. É muito difícil para elas levar todo o ego à morte. No subconsciente, elas mantêm sua honestidade, paciência e amor, e deixam que as outras coisas erradas sejam crucificadas com o Senhor. Esses crentes devem aprender de Deus a perceber que eles mesmos não são confiáveis. Somente então submeter-se-ão ao Senhor. Podemos aprender uma lição de Pedro nesse ponto. Antes de experimentar a morte e ressurreição de Cristo e o preencher do Espírito Santo, Pedro realmente pensava que seu amor pelo Senhor fosse correto. Entretanto, sua promessa de "morrer com o Senhor" foi cumprida? A falha de Pedro foi causada pela sua total confiança em si mesmo; ele confiou em na própria bondade. Contudo não percebeu isso. Afinal, é difícil perceber o ego. Devemos confiar na avaliação que Deus faz de nós e colocar o ego na cruz.
Se considerarmos a avaliação de Deus sobre o mundo, ficaremos mais seguros desse fato. Deus disse: "Não há justo, nem um sequer" (Rm 3:10). Para o mundo, realmente não há nenhum justo? Existem uns poucos justos de acordo com o ponto de vista do mundo! O motivo de Deus considerar nenhum justo é que toda justiça deles é produzida por eles mesmos. O ego é profundamente cultivado pela natureza de Adão. "Acaso pode a fonte jorrar do mesmo lugar o que é doce e o que é amargoso?" (Tg 3:11). O homem pensa possuir o que o inundo aceita como justiça. Contudo, "desconhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à que vem de Deus" (Rm 10:3). Os que se acham justos não são justos; são também pecadores destinados à perdição. Somente os que receberam toda a pessoa do Senhor Jesus são justos.
Podemos examinar outro trecho da Palavra que nos diz como a bondade da vida do ego deve ser levada à morte antes que alguém possa produzir bons frutos. Essa passagem, entretanto, lida mais com a vida do ego do que propriamente com o ego.
"Se o grão de trigo, não cair na terra, e morrer, fica ele só; mas se morrer, produz muito fruto" (Jo 12:24). Aqui o Senhor fala aos que Nele crêem. Essa é a razão de essa palavra ser um chamamento. "Se alguém Me serve, siga-Me" (Jo 12:26). Após dizer essas palavras, Ele não nos deixou em trevas, mas continuou explicando: "Quem ama a sua vida da alma perde-a; e quem odeia a sua vida da alma neste mundo, guardá-la-á para a vida eterna [no original, a vida espiritual]." O ensinamento aqui é que a vida do ego deve ser levada à morte.
A vida é muito preciosa. Pode-se sofrer a perda de tudo, menos da vida. Contudo, aqui está um chamamento para perder nossa vida. Nossa vida do ego foi-nos concedida pelo nascimento; é legítima e é boa. Contudo, aqui o Senhor requer que a levemos à morte.
Que é essa vida? É uma vida natural, uma vida que temos em comum com todos os animais, uma vida com mobilidade. Nosso intelecto, amor e emoções são todos dominados por essa vida. Cada habilidade do corpo é controlada por ela. Cada parte do nosso ser é controlada por ela. Apesar de não ser errado exercitar o intelecto, amor e emoções, essa vida dominante, essa vida que provém do nascimento natural, não é espiritual. A menos que a vida espiritual se torne a expressão e a força motriz de todas as habilidades dos crentes, um crente "perderá" sua vida, isto é, ele nunca produzirá fruto.
Essa vida do ego é bela e atrativa. Nosso Senhor utiliza o trigo como ilustração. A casca de um grão de trigo é muito atrativa. Sua cor é dourada. Embora seja belo, ele é inútil se permanecer meramente como grão. Ele deve ser separado (ou ir junto) de seus companheiros e cair na terra, um lugar escuro, oculto e de sofrimento, e morrer ali. Quando morre, ele perde a beleza e tudo o que tem. Não será mais um objeto de admiração do homem como antes. Se verdadeiramente estivermos dispostos a morrer, e se realmente morrermos, perderemos os muitos elogios do homem. Nossa beleza natural será destruída. Primeiramente, poderíamos ter tido a inteligência de apresentar muitos novos argumentos e teorias. Quando o ego morre, temos de aguardar direção e liderança do Senhor, e não ousamos depender mais da própria inteligência. Antes podíamos ter tido amor e ter amado a muitos, podíamos motivar-nos a amar o Senhor. Quando o ego morre, teremos de deixar o amor do Senhor amar por meio de nós e permitir ao Espírito Santo permear nosso coração com o amor do Senhor. Não ousaremos ser motivados pelo amor natural. Antes podíamos ter tido emoções e podíamos estar jubilosos, irados, tristes e alegres à vontade; podíamos ter comunhão com o Senhor por intermédio dos sentimentos e podíamos sentir Sua alegria. Com a morte do ego, teremos de deixar o Senhor controlar nossas emoções. Ficaremos tristes quando o Senhor estiver triste. Ficaremos alegres quando o Senhor estiver alegre. Teremos de deixar o Senhor ter liberdade em nós. Mesmo que por vezes percamos o sentimento do Senhor, ainda teremos de permanecer fiéis e não mudaremos de atitude. Não ousaremos mudar por causa das emoções. O que antes nos parecia proveitoso será considerado como perda por causa de Cristo. Ao morrer com o Senhor para o pecado, abandonamos as coisas ilícitas. Ao ser crucificados com o Senhor para o ego, abandonamos as coisas lícitas.
Esse, sem dúvida, é um passo difícil de dar. Estreita é a porta e apertado o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que a encontram.
Que tipo de morte é essa? É a morte da cruz. O Senhor mesmo disse isso (Jo 12:33). Portanto, não temos qualquer escolha a não ser cair na terra prontamente e morrer. Devemos morrer alegremente com o Senhor e participar da comunhão da Sua cruz. Cada dia, deveríamos manter uma atitude de odiar a vida do ego para preservá-la para a vida eterna, isto é, dar fruto para a vida eterna e produzir muitos grãos. Isso não é algo da noite para o dia. Se fosse assim, teria sido fácil. Mas a palavra do nosso Senhor é: "Quem odeia a sua vida da alma neste mundo". Devemos odiar nossa vida do ego uma vez que vivemos no mundo. Se praticarmos isso incessantemente, nosso ego será despojado do seu poder. Não devemos considerar a palavra "morte" levianamente. Não é suficiente ser um grão de trigo sozinho. Como filho de Deus nascido de novo (Mt 3:38), a pessoa é meramente um bebê e não pode fazer muito por Deus. Não basta cair na terra, pois mesmo se alguém estiver disposto a sofrer e ser escondido, ainda não está morto e ainda é um único grão; ainda não existe aumento. A morte é o último e mais importante passo. A morte destranca a porta da vida. A .morte é o único requisito para dar fruto. A morte é indispensável. E, contudo, quantos a têm de fato experimentado? A morte põe fim a toda atividade; é o término da nossa vida humana. Depois da morte, não resta lugar para a atividade da vida do ego. Essa não é uma morte hesitante, porque o Senhor disse que deveríamos "odiar" essa vida do ego. Odiar é uma espécie de atitude; é uma atitude duradoura. Portanto, deveríamos voluntariamente levar essa vida à morte; deveríamos ter plena compreensão da pobreza dessa vida e odiá-la.
Qual o resultado da morte dessa vida? O resultado são os muitos grãos. O motivo, o real motivo de o Senhor não poder usar-nos é que trabalhamos pelo nosso intelecto, amor etc. Essa vida da alma é de nível inferior; não é de nível elevado. Sendo assim, dificilmente poderá dar fruto. Embora tenha alguns méritos, somente "o que é nascido do Espírito é espírito". A vida do ego, e tudo o mais que a acompanha, é completamente inútil. Se realmente colocarmos a nós mesmos, nossa vida do ego, isto é, tudo o que podemos fazer e tudo o que somos, completamente na cruz do Senhor, veremos como o Senhor nos usará. Se estivermos vazios interiormente, não haverá qualquer barreira para a água viva de Deus jorrar de nós. Esse tipo de dar fruto é diferente do tipo comum de dar fruto, pois o fruto que produzimos são "muitos". O nosso dar fruto depende totalmente da nossa morte.
Portanto, crentes, assim como nosso ego nos havia preenchido, assim também agora Cristo nos deve preencher. Caso contrário ainda não teremos recebido a salvação plena. A chave para receber a salvação e a chave para ser salvos é ser libertados do ego. É fácil um crente que vive no ego cair em pecado. Essa é a razão pela qual para morrer completamente para o pecado, deve-se morrer completamente para o ego. Cristo não é apenas o Salvador que nos livra do pecado; é também o Salvador que nos salva do ego. Morrer para o ego é a única vereda para o viver espiritual. Contudo, além de Deus, ninguém pode levar nossa vida do ego à morte. Entretanto, se não estivermos dispostos, Deus nada pode fazer. A atividade do ego algumas vezes está completamente oculta sob um véu espiritual. Um crente pode não reconhecê-la de imediato por si mesmo. Essa é a razão de Deus ter de remover o véu por meio de todos os tipos de circunstâncias exteriores para que o crente venha a conhecer a si mesmo. A coisa mais difícil é uma pessoa conhecer a si mesma. Não nos conhecemos. E por isso que temos de passar pela mão disciplinadora de Deus antes de perceber a maldade do ego. Se na experiência não morremos para o ego, não obtivemos nenhum progresso real na vida espiritual. Se você e eu estivermos dispostos a deixar o Espírito Santo do Senhor aplicar a morte do ego a nós e operá-la em nós hoje, veremos grande progresso em nossa vida.
Irmãos! Possamos declarar juntos em unanimidade: "Não seja como Eu quero, e, sim, como Tu [o Pai] queres" (Mt 26:39)!
O artigo acima lida com questões relativas à vida espiritual. Que o leitor não considere isso como uma espécie de teoria. Deve-se comparar a experiência espiritual com as palavras ditas aqui. Fazendo isso, entender-se-á essas palavras. Todos somos bebês em Cristo. Que o Senhor nos dirija passo a passo. Se não temos a experiência da morte do ego, é melhor dizer que não a temos. Contudo, nunca devemos tomar a vida do ego como se fosse a vida espiritual. Que Deus nos abençoe!

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