Eu também já tive uma visão tacanha de Jesus. Sofria de miopia espiritual. Mas faz muitos anos. Na ocasião eu era seminarista, membro de uma das grandes igrejas de Belo Horizonte. O pastor me chamou e pôs diante de mim um grande desafio.
“Jorge, temos no bairro Floramar um salão com capacidade para mais ou menos umas trezentas pessoas, mas a congregação conta apenas com quatro membros. Você tem um mês para tentar levar o trabalho adiante. Se não der resultado, vamos passar o ponto para a Assembléia de Deus”.
Resolvi encarar o desfio. No primeiro dia evangelizei a tarde toda, de casa em casa, convidando as pessoas para a reunião à noite.
À hora do
culto lá estava eu todo elegante: calça com vinco bem forte; paletó xadrez, que
mais parecia um tabuleiro de dama; gravata “língua de vaca” com nó “cabeça de
boi”.
Coloquei os
presentes para se colocarem de pé para a leitura do texto bíblico. Quando
comecei a ler, uma mulher que estava assentada lá atrás, uma das pessoas que eu
havia convidado, veio correndo entre os bancos até a plataforma. Inclinei-me
para atendê-la, supondo que desejasse conversar comigo.
- O quê a
senhor deseja?
Mas ela não
disse palavra. Olhou para mim, retirou da jarra uma das rosas que colocamos ali
de enfeite, e começou a comê-la.
- Pare de
comer essas rosas, falei.
-Não paro,
respondeu com voz sufocada.
(Na ocasião eu
era conselheiro dos jovens. Quando alguém se convertia, levávamos a pessoa para
uma saleta ao lado para dar-lhe algumas orientações básicas. Se porventura, o
diabo se manifestasse, chamávamos o pastor para libertar a pessoa.)
E eu fiquei
ali, vendo-a mastigar as rosas, temeroso, sem saber o que fazer.
“Meu Deus”,
clamei interiormente, “logo na primeira noite, acontece uma coisa dessas. Que
eu faço agora?”
Para minha
surpresa, ela não se contentou só com a flor, e começou a mastigar também o
caule cheio de espinhos. E sua boca começou a sangrar.
- Não faça
isso. A senhora está-se machucando, insisti.
- Faço.
Eu quase disse
a ela: pode levar todas, mas vá se sentar lá no último banco. Melhor ainda
seria a senhora ir lá pra fora.
(mas
tratava-se de uma batalha espiritual. Era o inimigo tentando destruir meu
ministério antes mesmo de eu iniciá-lo.)
“Meu Deus, me
socorre!” clamei outra vez.
A primeira
visitante agindo daquela forma estranha. Os quatro membros curiosos para ver
como se sairia o novo pastor. E eu ali, pasmo.
“Jesus, o que
o Senhor vai fazer agora? Não tenho a mínima idéia de como agir”, orei.
Insisti com a
mulher, mas, ao invés de me atender, ela correu pelo corredor até a saída,
bateu-se contra a parede, e voltou. Pegou outra flor e comeu. Foi e voltou
várias vezes.
-Você não quer
comer essas rosas lá fora?
-Não. É aqui
que eu quero comer.
Naquele
momento foi como se tivesse me dado um “clic”, um minuto de lucidez, só entre
mim e Deus. Temeroso, com os joelhos trêmulos, desci da plataforma e caminhei
na sua direção.
- Em nome de
Jesus, pare de correr e de comer essas flores, ordenei. Espírito maligno, sai
dessa mulher, sai agora.
No mesmo
instante ela caiu, e ficou ali prostrada.
Aproximei-me e
disse:
- Acorda.
Ela se
levantou meio atônita. Ajudei-a a se assentar e não tirei os olhos dela.
Fiquei
deslumbrado. Até então não tinha consciência do poder de Jesus. Descobri que
aqueles chavões que eu acostumava declarar continham uma força que eu
desconhecia. Plavra que eu repetia sem convicção. Foi então quando me
concientizei da visão tacanha que tinha de Jesus. Reconheci que pregava sem a
convicção plena do poder da Palavra. Enautecia uma fé que eu mesmo não
experimentava. Vi que o poder do nome de Jesus não operava só na vida dos
outros, mas através da minha. Até então minha fé se apoiava no Jesus dos
outros.
É esse o seu
caso? Pede oração a todo mundo: pai, mãe, pastor, mas você mesmo não tem uma
experiência com o poder operante de Jesus? Leva uma vida espiritual como que de
muleta, apoiando na fé dos outros? Parece mais um pé de tomate?, todo escorado,
amarrado a estacas para não cair, do contrário se esparrama todo pelo chão?
Você precisa ter uma visão de Jesus como ele é.
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