O MINISTÉRIO DO APÓSTOLO - Parte 1

CONSIDERAI A JESUS
Iniciamos nosso estudo do ministério apostólico no Novo Testamento considerando a
Jesus (Hb 3:1). Ele é o apóstolo supremo. Nele vemos um ministério apostólico de estatura
completa.
A palavra apóstolo significa literalmente, um "enviado", e é derivada do radical
"enviar". Não contém em si nenhum pensamento de propósito ou função. Seu significado é
simplesmente o de "alguém que é enviado".
Há uma palavra equivalente no hebraico que amplia um pouco nossa compreensão
do vocábulo apóstolo. Na parte do Talmud que trata da lei oral há uma passagem que diz:
"Se aquele que reza o tefilloh (oração judaica) cair no erro, será mau presságio para
ele, e se ele for o agente (apóstolo) da congregação, será mau presságio para aqueles que
assim o designaram, porque o agente se assemelha àquele que o designou."
O apóstolo se assemelha àquele que o designou. Vemos que se um homem fizer
orações e depois cair em erro, trará vergonha sobre si mesmo. Se o homem que caiu no
erro for o agente, ou apóstolo, de uma congregação, então trará vergonha sobre a
congregação por causa desta ligação: o apóstolo se assemelha àquele que o designou. O
apóstolo é mais do que um simples mensageiro. Ele se identifica com aquele que o enviou.
O registro mais antigo desta palavra no grego está nos escritos de Heródoto, e se
refere a um arauto enviado para conseguir armistício. Trata, claramente, de um homem com
autoridade para executar negócios no lugar daquele que o enviou. Thayer, em sua
discussão sobre a ligação entre as duas palavras gregas que significam "enviar", diz que
pempo é um termo mais genérico, ao passo que a palavra que estamos examinando,
apostello, é um termo que geralmente sugere um enviado autorizado ou oficial.
Ligando estas definições, vemos que a palavra apóstolo é muito rica. Sugere que
Jesus Cristo foi "enviado por parte do Pai", não como um simples mensageiro, mas como
alguém que se identificava com o Pai, e que veio representar aquele que o enviara.
PARA TRAZER A SALVAÇÃO
O propósito do seu apostolado é descrito em muitas passagens do Novo Testamento.
João destaca um motivo especial. "Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que
julgasse o mundo; mas para que o mundo fosse salvo por ele" (Jo 3:17, veja também 1 Jo
4:9,10,14).
Jesus foi enviado para tratar do pecado da humanidade e introduzi-la na vida e na
salvação. Numa definição ainda mais simples, Jesus disse: "Eu vim para fazer a vontade
daquele que me enviou" (Jo 5:30). Jesus, o apóstolo, se preocupava em executar a vontade
daquele que o enviou.
PARA EDIFICAR A CASA DE DEUS
Em Hebreus 3 há mais um motivo para seu apostolado. Esta passagem inteira fala
sobre a edificação da casa de Deus. Jesus não veio somente para trazer salvação aos
homens e às mulheres, mas veio assegurar que aqueles que haviam recebido a vida fossem
edificados juntos como uma habitação de Deus. "Considerai o Apóstolo e Sumo Sacerdote...
Jesus", que edificou a casa (Hb 3:1-3). Ele foi enviado para tratar do pecado dos homens,
para levá-los à salvação e à vida, e finalmente para culminar sua missão edificando uma
casa onde Deus pudesse morar, uma casa que Deus pudesse encher com sua presença.
Note o exemplo de Moisés que também é citado nesta passagem em Hebreus. Ele foi
fiel na casa de Deus. Em Atos 7 vemos que Moisés tinha um ministério de salvação. Ele foi
enviado para ser um libertador (v. 35). Ele também tinha uma outra missão. Deveria
construir um lugar de orada para Deus segundo o modelo que Deus havia mostrado no
monte (v. 44). O ministério apostólico de Moisés envolvia não só a redenção mas também a
edificação da casa de Deus. Moisés aqui é uma figura do objetivo final de Deus, uma casa
não feia por mãos humanas, mas edificada com pedras vivas.
MISSÃO NÃO-TERMINADA
Baseando-nos em Atos 3, podemos concluir que o ministério apostólico de Jesus
ainda não foi consumado e que não se encerrou com a ressurreição. Neste capítulo vemos
que Jesus é enviado mais uma vez - para abençoar Israel, e também para abençoar todas
as nações (vv. 25,26). Mas como Jesus poderia ser enviado após ressuscitar dos mortos?
Ele foi enviado através do ministério da igreja.
O APOSTOLADO NA IGREJA
A ressurreição de Jesus causou transformação no ministério apostólico. Aquele
ministério exclusivo de Jesus e dos doze agora é ampliado. O que fora limitado
geograficamente à Palestina, agora se torna universal. É significativo que em Efésios 4 é o
Senhor ressurreto quem concede o dom de apostolado à igreja. Isto aconteceu depois da
ressurreição de Jesus. Ele ascendeu e deu dons aos homens - primeiro, aos apóstolos. A
missão apostólica de Jesus está por completar-se, pois depois de sua ressurreição ela ainda
continua nos apóstolos do Novo Testamento, naqueles que foram enviados para representálo.
A mensagem que eles levaram foi: "Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem
cancelados os vossos pecados, a fim de que da presença do Senhor venham tempos de
refrigério, e que envie ele o Cristo, que já vos foi designado, ao qual é necessário que o céu
receba até aos tempos da restauração de todas as cousas" (At 3:19-21a).
A MISSÃO DE JESUS...
Aqui está a última expressão do apostolado de Jesus, sua última comissão. Temos
aqui um tremendo panorama. Deus enviou Jesus Cristo, que completou a obra da redenção
e ressurgiu de entre os mortos. O ministério apostólico entra, então, numa nova dimensão
com os apóstolos da igreja e culmina com a comissão final de Cristo para trazer a
restauração de todas as coisas.
Tanto o ministério dos doze, quando o da companhia que os seguiu, devem ser vistos
como uma extensão do ministério apostólico de Jesus. É o seu apostolado que está sendo
incorporado neles. Ele está sendo enviado nos seus apóstolos. Vê-se isto mais
especificamente no evangelho de João. "Em verdade, em verdade vos digo: Quem receber
aquele que eu enviar, a mim me recebe" (Jo 13:20a). Aquele que recebe o enviado, recebe o
próprio Cristo.
...CONTINUADA POR SEUS APÓSTOLOS
"Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo" (Jo 17:18;
20:21). Vemos em João 17:21 que um propósito da comissão é "para que o mundo creia que
tu me enviaste". O envio dos apóstolos não somente estendia o envio de Jesus Cristo, mas
também o justificava e confirmava. A prova do apostolado de Cristo é o apostolado da igreja
e se não houver um apostolado na igreja, não haverá nenhum testemunho do apostolado de
Jesus. A tarefa principal dos apóstolos hoje ainda é trazer salvação e construir a casa do
Senhor.
Tenho me referido aos doze e àqueles que os seguiram como uma extensão do
ministério de Cristo. Já foi dito muitas vezes que o ministério apostólico cessou com os doze,
mas há evidência abundante no Novo Testamento de uma extensão de apostolado além dos
doze. Em Efésios 4 vemos o apostolado como um dom do Senhor ressurreto, ao passo que
os doze foram designados antes dele ressuscitar dos mortos.
Há pelo menos oito pessoas no Novo Testamento que são chamadas apóstolos:
Barnabé e Paulo, Timóteo e Silas, Andrônico e Júnias, Apolo e Tiago. Em 1 Coríntios 15 os
doze são colocados em contraste com os demais apóstolos (vv. 5,7,8). Em 2 Coríntios 11:13
e em Apocalipse 2:2 há referências aos falsos apóstolos. Se o apostolado fosse limitado aos
doze, seria fácil demonstrar quem era falso.
É evidente, então, que há outros apóstolos no Novo Testamento, mas vamos
observar a relação entre ele e os doze. Em muitas maneiras os doze foram singulares.
Foram singulares em ser os primeiros apóstolos a representar o apostolado de Cristo. Eles
não foram singulares por serem os únicos. Há sempre uma singularidade atribuída aos
primeiros e é exatamente isto que se vê nos doze.
Em segundo lugar, foram singulares pelo fato de serem doze apóstolos. O número
doze não é exclusivo, mas simbólico. Liga-nos ao povo de Deus do Velho Testamento. Os
doze filhos de Jacó não foram designados para limitar sua descendência, mas para serem
as primícias da mesma. Nos doze temos um símbolo ligando a nova comunidade com a
velha. Eles foram as primícias de uma nova humanidade, as primícias da nova habitação de
Deus. Foram singulares por serem os primeiros. Foram singulares por serem o elo entre o
povo de Deus da velha aliança e o da nova aliança. Foram singulares em ser as primícias de
uma nova humanidade. Aqui sua singularidade termina, e seu ministério essencial é
continuado por muitos outros.
A FORMAÇÃO DE UM APÓSTOLO
1 - ORAÇÃO
Vamos agora à origem e preparação do ministério apostólico. Lucas registra como o
ministério dos doze começou. "Naqueles dias retirou-se para o monte a fim de orar, e
passou a noite orando a Deus. E quando amanheceu, chamou a si os seus discípulos e
escolheu doze entre eles, aos quais deu também o nome de apóstolos" (Lc 6:12,13). Da
oração se originou o ministério apostólico. Não se ouve falar muito sobre oração para gerar
ministérios, mas há uma necessidade vital disto em nossa época. Jesus orou e tenho
certeza que ele ainda está orando para que surjam apóstolos. Precisamos alinhar as nossas
orações com as dele e então veremos algumas respostas. A oração é um alicerce para o
surgimento de um apóstolo.
2 - DISCIPULADO
Note que ele os chamou de entre a companhia de discípulos. O discipulado é também
um requisito para ser um apóstolo. Quando Paulo se refere ao seu apostolado em Romanos
1, ele começa assim: "Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo". Se nós
não nos qualificarmos na escola do discipulado, certamente não vamos nos qualificar na
escola do apostolado. É do meio dos discípulos, dos escravos de Jesus, que ele chama o
apóstolo.
Todos nós temos consciência do preço do discipulado. "Se alguém quer ser meu
discípulo, dia a dia tome a sua cruz e siga-me" (Lc 9:23). Se tudo que é envolvido no
discipulado não for trabalhado profundamente em nosso espírito e em nossa experiência,
não podemos começar a pensar em apostolado.
3 - O CHAMADO DE DEUS
Quero enfatizar mais um fato - que era Jesus quem chamava. O apostolado é um
ministério que nenhum homem pode tomar sobre si. Nem é um ministério que um homem
pode colocar sobre outro. Jesus chama; se ele não chamar, não haverá apostolado. A igreja
pode, com seus meios normais, impor as mãos em um homem após outro para uma
sucessão apostólica, mas o apostolado não vem assim. É uma extensão do Senhor
ressuscitado, não uma extensão da mão do homem. Os ministérios podem surgir de
maneiras diferentes; vemos, por exemplo, os apóstolos convidando a igreja para apontar
homens para cuidar dos problemas das viúvas. Não é assim com o apostolado. Ele chama.
Vez após vez Paulo reafirma que ele é um apóstolo de Jesus Cristo, não pela vontade do
homem mas pelo mandamento de Deus.
4 - ALÉM DO DISCIPULADO
A passagem paralela no evangelho de Marcos diz que "Jesus subiu ao monte e
chamou os que ele mesmo quis, e vieram para junto dele. Então designou doze para
estarem com ele e para os enviar a pregar" (Mc 3:13,14). Ele os designou para estarem com
ele. É uma frase tão simples, mas diz tudo. Dentre aqueles que haviam se provado na
escola de discipulado, ele, por vontade divina, escolheu alguns para estarem com ele. Isto
sugere claramente uma intimidade de relacionamento que transcende o discipulado. Foi dito
dos apóstolos do Novo Testamento que os homens notaram que eles haviam estado com
Jesus (At 4:13). O apóstolo é um homem que tem uma comunhão íntima com aquele que o
envia. Isto é o que o Senhor tinha em mente quando ele disse, "Vós sois meus amigos, se
fazeis o que eu vos mando. Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o
seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho
dado a conhecer" (Jo 15:14,15).
O discipulado do servo ainda continua, mas agora é absorvido numa amizade maior,
uma intimidade maior com Jesus Cristo. É repartir todas as coisas "que eu tenho ouvido de
meu Pai". "Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós
outros, e vos designei para que vades" (v.16). Ele os chamou para que estivessem com ele,
para que ele pudesse enviá-los.
Agora quero expor as principais características de um ministério apostólico. Vejo três
aspectos principais:
1 - INICIADOR
Em primeiro lugar, um apóstolo exerce um ministério iniciador. Ele expressa iniciativa
não humana, mas divina. Deus usa o apóstolo para realizar seus próprios começos no
desenvolvimento do plano da salvação. Vemos isto quando os doze foram enviados. A
iniciativa de alcançar as cidades de Israel com o evangelho do reino de Deus não estava
com a multidão dos discípulos em geral, mas com os doze apóstolos particularmente. Foram
eles os primeiros a sair pregando o reino de Deus. Mais tarde, vemos que ele designou mais
setenta, porém foram os doze quem tomaram a iniciativa.
No dia de Pentecoste foram os apóstolos que tomaram a iniciativa de interpretar o
acontecimento. Lucas diz que Pedro se levantou com os onze. Mais tarde quando as
multidões viram a Pedro e ao resto dos apóstolos dizendo: "Que faremos?", foram os
apóstolos quem deram a resposta, apesar de 120 pessoas terem sido cheias do Espírito.
Na evangelização dos gentios foi um ministério apostólico que rompeu a barreira de
separação entre o judeu e o gentio, barreira essa construída através de séculos de tradição.
Pedro diz: "Deus escolheu que através de minha vida, os gentios ouvissem". Foi o apóstolo
Pedro quem introduziu uma nova fase no programa divino de salvação e mais tarde seu
ministério foi seguido e ultrapassado pelo ministério do apóstolo Paulo. O ministério
apostólico toma o primeiro passo no programa de Deus, o primeiro passo numa nova
direção, numa nova dimensão. Paulo estava resoluto a pregar Cristo onde ele ainda não
havia sido pregado. Ele queria ser o iniciador, ele queria ser o primeiro.
Eu digo iniciador em vez de pioneiro porque há algumas situações hoje onde não
acho que possamos nos considerar pioneiros, mas o ministério necessário ainda é
apostólico. Por exemplo, podemos ir a muitas cidades e povoados em nossa terra hoje e
encontrar sinais de que o evangelho já fora pregado ali. Há igreja; salvação se encontra ali.
Mas ainda pode haver um ar de morte prevalecendo no lugar. Faz-se necessário um
ministério apostólico para reconquistar a iniciativa para Deus. Esta é uma função apostólica.
É Deus usando o apóstolo para tomar a iniciativa a fim de que seus propósitos de salvação
possam fluir novamente entre os homens e as mulheres.
2 - ALICERÇADOR
Em segundo lugar, o ministério apostólico é alicerçador. Este é mais um passo além
do iniciador. É importante que nós iniciemos a ação, mas no caso de algumas pessoas,
depois da iniciativa, a direção da ação é determinada puramente pelo acaso. É bom ter
pessoas iniciando alguma coisa, mas o apóstolo, além de saber iniciar, sabe também
assegurar que os propósitos de Deus atrás daquela iniciativa sejam realizados. Isto é vital. O
apóstolo leva os propósitos de Deus a serem demonstrados visivelmente, e assim o alvo é
alcançado, e a missão é cumprida. Esta diferença pode ser vista no caso de Filipe. Filipe
saiu com uma mensagem poderosa e almas foram salvas, mas parecia estar faltando
alguma coisa nos convertidos - algo que Filipe sozinho não pôde suprir. É somente quando
os apóstolos levam estas pessoas para uma experiência no Espírito, e batizam-nas no corpo
de Cristo, que há uma igreja. Aí está a diferença: alguém pode tomar iniciativa, mas é
preciso também saber colocar os alicerces.
O apóstolo não somente colocava os alicerces, mas ele mesmo era o alicerce. São os
próprios apóstolos que são dados à igreja, não somente seus ministérios. Eles mesmos são
o dom de Deus e os fundamentos. Vemos isto em Mateus 16:16-18. Algumas pessoas são
tão ansiosas para provar o erro dos Católicos Romanos que chegam a afirmar com toda
certeza que a pedra é a confissão de Pedro e de maneira alguma pode ser o próprio Pedro.
Creio que precisamos dar o devido valor a Pedro. Parece-me que o Senhor está dizendo
que não só a confissão de Pedro, mas o próprio Pedro, faz parte do alicerce da igreja.
Paulo nos dá uma interpretação de Mateus 16 em Efésios 2:19, onde ele se refere à
casa de Deus sendo edificada no alicerce dos apóstolos e profetas, sendo Cristo Jesus a
pedra principal de esquina. Em sua visão da nova Jerusalém, João viu os doze alicerces
com os nomes dos doze apóstolos. O próprio Paulo pôde falar daqueles que eram colunas
da igreja em Jerusalém - Cefas, Tiago e João. Eram homens que havia subido a um lugar de
importância e preeminência unicamente porque Deus havia colocado um peso e uma
responsabilidade sobre eles. Deus os havia feito alicerces e a obra dependia deles.
Não queremos apoiar o domínio de um só homem ou perpetuar um sacerdócio
denominacional. Nem desejamos enfatizar tanto o sacerdócio dos crentes que se torne
impossível os líderes surgirem, os apóstolos serem reconhecidos, e os homens de Deus se
tornarem alicerces da igreja. Em alguns lugares tornamo-nos tão ansiosos para fugir dos
cultos à personalidade que quando um homem começa a aparecer e se torna óbvio que a
obra está sendo edificada em volta dele, nós imediatamente queremos reduzi-lo a tamanho
normal. Talvez Deus queira levantá-lo um pouquinho mais.
O apóstolo também sabe como construir nos alicerces e como estruturar a igreja. Há
um paralelo maravilhoso entre Mateus 16 e 1 Coríntios 3:9, onde temos uma referência ao
edifício de Deus. Depois no versículo 10 diz: "Segundo a graça de Deus que me foi dada,
lancei o fundamento como prudente construtor". Jesus disse: "Sobre esta pedra edificarei
minha igreja". E Paulo diz: "Lancei o fundamento como prudente construtor". Seu ministério
é um com o ministério de Jesus. Mas ele não está preocupado somente em lançar o
alicerce; ele se preocupa igualmente com aquilo que é edificado sobre ele. "...e outro edifica
sobre ele. Porém cada um veja como edifica".
3 - SUPERVISOR
A terceira característica do apóstolo é seu ministério de supervisor. "Porque está
escrito no Livro dos Salmos: Fique deserta a sua morada; e não haja quem nela habite; e:
Tome outro o seu encargo" (At 1:20). A palavra para encargo é episkope, a mesma palavra
que podemos traduzir em outro lugar pela palavra "bispo". Tome outro o seu episcopado.
Esta palavra já era muito significativa na época em que foi escrito o livro dos Atos dos
Apóstolos. É usada na Septuaginta, em Números 7:2, onde há uma referência aos príncipes
de Israel que presidiam ao censo. Também em Números 4:16: "Eleazar, filho de Arão, o
sacerdote, será supervisor, terá a seu cargo o azeite da luminária, o incenso aromático, a
contínua oferta dos manjares e o óleo da unção, sim, será supervisor de todo o tabernáculo,
e tudo o que nele há, o santuário e os móveis".
O livro de Reis se refere aos superintendentes da casa do Senhor, cujo cargo era
receber o dinheiro recolhido para reparar e reconstruir o templo e distribuí-lo aos carpinteiros
e pedreiros e a todos que trabalhavam na casa do Senhor para restaurá-la. Neemias
escreve sobre o superintendente dos levitas. Os judeus então já estavam familiarizados com
esta expressão. Eles sabiam que a superintendência era uma função do príncipes ou líderes
de Israel, e uma função daqueles que tinham um cargo sobre a casa de Deus.
É esta mesma idéia que é desenvolvida no uso do termo no Novo Testamento. "É
necessário, portanto, que o bispo... governe bem a sua própria casa, criando os filhos sob
disciplina, com todo respeito; pois se alguém não sabe governar a própria casa, como
cuidará da igreja de Deus?" (1 Tm 3:2-5). "Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós...
pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangidos, mas
espontaneamente, como Deus quer; ...nem como dominadores dos que vos foram
confiados" (1 Pe 5:1-3).
Nestas duas referências vemos o piskope no seu ambiente local. O apóstolo funciona
na capacidade de um presbítero para a igreja universal, enquanto o presbítero se limita a
uma localidade. O apóstolo é enviado com aquele mesmo ministério essencial para toda a
igreja de Deus. Há três setores principais onde a superintendência do apóstolo atua.
1 - Em primeiro lugar, no setor do ensino. Os discípulos primitivos continuaram firmes
no ensino dos apóstolos (At 4:42) e este ensino providenciava as normas para a igreja
primitiva. Paulo, como um apóstolo, escreveu com a expectativa de que suas epístolas
fossem obedecidas. "Se alguém se considera... espiritual, reconheça ser mandamento do
Senhor o que vos escrevo. Caso alguém não preste obediência à nossa palavra dada por
esta epístola, notai-o; nem vos associeis com ele" (1 Co 14:37; 2 Ts 3:14). Pedro escreve
que nós devemos lembrar o mandamento de nosso Senhor e Salvador pela boca dos
apóstolos (2 Pe 3:2).
Quando surgiu o problema da circuncisão, foram os apóstolos que tomaram a
iniciativa em resolver o que devia ser ensinado para os convertidos gentios (At 15:5,6). Eles
estavam preocupados sobre o ensino a ser administrado ao corpo de Cristo. Precisa haver
apóstolos hoje que se preocupem com os vários ensinos e revelações que estão circulando
por aí e sejam capazes de tratar com eles com a mesma autoridade dos apóstolos
primitivos. Se não houver liderança. o povo de Deus pode cair em confusão. É a
responsabilidade de um apóstolo assegurar o ensino sólido da palavra de Deus e impedir
que o diabo faça destruição através de "ventos de doutrina".
2 - Em segundo lugar, na área de apontar presbíteros. O governos da igreja local era
designado pelos apóstolos. Vemos isto no livro de Atos e em Tito. Eles estavam a par
daquilo que se passava nas igrejas, designavam os presbíteros locais e exerciam uma
superintendência sobre os presbíteros. Seu ministério ajudava a ligar e a unir as igrejas.
3 - O terceiro aspecto é no setor de disciplina. Paulo se preocupava com as situações
locais e quando ouvia sobre dificuldades nas igrejas, ele escrevia, se envolvendo no
problema, mesmo não estando lá fisicamente. Em Corinto ele entregou um irmão a Satanás
para a destruição da carne e chamou a igreja para apoiar seu julgamento. Mais tarde ele
lhes escreveu: "Pelo que vos rogo que confirmeis para com ele o vosso amor. E foi por isso
também que vos escrevi, para ter prova de que em tudo dois obedientes" (2 Co 2:8,9).
"Portanto, escrevo estas cousas, estando ausente, para que, estando presente, não venha a
usar de rigor segundo a autoridade que o Senhor me conferiu para edificação, e não para
destruir" (2 Co 13:10).
AUTORIDADE ESPIRITUAL
Para terminar, quero dizer que a autoridade apostólica é essencialmente espiritual.
"Mas Jesus, chamando-os para junto de si, disse-lhes: sabeis que os que são considerados
governadores dos povos, tem-nos sob seu domínio, e sobre eles os seus maiorais exercem
autoridade. Mas entre vós não é assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre
vós será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós, será servo de todos"
(Mc 10:42-44). Voltamos novamente a esta característica espiritual de estar com Jesus. O
ministério apostólico é realizado debaixo da sombra da comunhão com Cristo. A autoridade
do apóstolo é semelhante à de seu Senhor; é no reino do Espírito. É significativo que Jesus,
quando proclamava que era o Messias, nunca oferecia provas que satisfizessem a todos. Se
o tivesse feito, nunca teria sido crucificado. Os apóstolos procedem da mesma forma. Eles
não têm cartas de recomendação. Não há nenhum conselho eclesiástico atrás deles. Eles
não têm nenhuma roupa eclesiástica para ajudá-los a ser reconhecidos. Seu ministério é
difícil para o homem natural compreender.
O apóstolo é um homem que está em contato íntimo com Jesus. Sua autoridade
provém do seu relacionamento com Cristo. Ele não tem nenhuma autoridade de si mesmo.
Se Paulo fosse pregar outro evangelho ele seria tão maldito e tão impotente quanto qualquer
outro homem. Sua autoridade estava em fazer a vontade daquele que o enviou. Se os
homens resistissem ao seu apostolado, e ele permanecesse com seu coração e vontade
obedientes ao Senhor, mais cedo ou mais tarde sua autoridade seria reivindicada e as bocas
dos adversários silenciadas. Jesus está procurando homens assim. Quem é suficiente para
estas coisas? Nós precisamos pedir a Deus para levantar primeiramente... apóstolos.

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