O MINISTÉRIO DO APÓSTOLO - Parte 2

 Minha preocupação é despertar os cristãos contemporâneos a esperar que os
apóstolos modelem a vida da igreja nos nossos dias. Estou plenamente convicto de que a
redescoberta da verdade em relação aos ministérios apostólico e profético desempenhará
um papel de importância vital no estabelecimento e crescimento do corpo de Cristo até a
plenitude, em preparação para a volta de Jesus. Será também um passo essencial que
desencadeará o grande e último impulso evangelístico antecedente a este glorioso clímax da
história.
Todo resquício de incredulidade com respeito ao aparecimento de apóstolos deve ser
eliminado, para podermos vigiar e orar com fé a fim de que os homens designados por Deus
possam surgir com poder. Estes homens passarão pela igreja subjugando as forças
malignas que dividem os santos e os despem da sua verdadeira glória. Eles unirão e
libertação um exército que, sob o domínio de Deus, cumprirá o seu propósito nestes últimos
dias.
Se os apóstolos realmente funcionarem desta forma, será porque eles entenderam de
fato uma lição simples e fundamental a partir do exemplo de Jesus. Eles saberão que um
homem somente poderá exercer autoridade quando em primeiro lugar ele mesmo se
submetido a uma autoridade (Lc 7:6-8). Jesus aprendeu esta submissão quando era menino,
por ocasião do primeiro aparecimento do seu dom evidente durante o seu diálogo no templo
(Lc 2:46-47). Ele tratou imediatamente dos negócios do seu Pai celestial através de sua
submissão aos seus pais terrenos que acabavam de cometer o erro de deixá-lo sozinho em
Jerusalém. Com tal obediência ele cresceu rapidamente em estatura e sabedoria (Lc
2:51,52; Fp 2:5-9). Os líderes da igreja também aprenderão a se submeter ao Pai, através
da sua submissão uns aos outros, mesmo em fraqueza, crescendo na graça para com Deus
e os homens. Desta forma eles adquirirão o direito de levantar outros homens de autoridade
dentre aqueles que aprenderam a reconhecer e a confiar no ministério. Assim o corpo se
tornará sadio outra vez, sendo renovado internamente através daquilo que cada junta
contribui (Ef 4:16).
OS PRIMEIROS E OS ÚLTIMOS APÓSTOLOS
A maré de restauração dentro da igreja continua a crescer, apesar dos intervalos
aparentemente demorados entre as ondas. Quase sem ser percebido, ano após ano, dia
após dia, Deus prossegue com precisão inexorável no seu programa de atrair a si próprio
todas as coisas, inundando a criação com o seu amor.
A vazante da maré durou uns trezentos ou quatrocentos anos até chegar à penumbra
da "idade escura" na história da igreja. Em seguida ela se acomodou no conforto duvidoso
da religião formal. Porém, durante os últimos quatro séculos, no final desta era, os ventos de
luz e revelação estão soprando novamente, tão fortes como antes. A enchentes poderosas
do seu amor estão novamente inundando vidas secas e vazias.
Estes surtos de bênção foram iniciados quando os grandes tradutores da Bíblia se
puseram a trabalhar, colocando suas vidas em perigo a fim de dar a palavra de Deus às
multidões uma linguagem inteligível e compreensível. Isto desencadeou logo a revelação de
uma série de verdades gloriosas, tal como justificação pela fé, santidade, responsabilidade
social, o sacerdócio de todos os cristãos, o batismo no Espírito Santo e recentemente a
verdade com respeito ao corpo de Cristo e à estrutura da igreja. Não é necessário estudar
muito tempo para descobrir que o processo desta restauração é semelhante ao declínio que
o processo desta restauração é semelhante ao declínio e decadência da igreja, sem sentido
contrário. Nos últimos três ou quatro séculos temos recuperado grande parte do terreno que
havia sido perdido.
Na igreja primitiva, a perda de autoridade, ou a autoridade sendo colocada nas mãos
das pessoas erradas, produziu divisões, que resultaram por sua vez num esvaziamento de
poder. Conseqüentemente as necessidades do corpo e da alma não podiam mais ser
solucionadas, e os milagres cessaram. O brilho do sol do evangelho foi obscurecido pelas
nuvens da apatia, e do mundanismo que se infiltrava nas vidas dos santos. Até mesmo as
Escrituras foram enterradas sob as palavras de uma língua morta que, tal qual folhas caídas
do outono, ocultam a vereda da verdade. Somente uma linha fina de graça, envolvida
amorosamente em torno de alguns poucos corações acesos, traçava o caminho em frente,
ao longo do inverno de apostasia.
Se ignorarmos estes fatos, e sentarmos apaticamente de lado, esperando para ver o
que Deus fará depois, como algum "profeta de poltrona", negaremos nossas
responsabilidades cristãs. PRecisamos corresponder ao perdão de Deus estendido a nós
por nossa culpa em tudo isto, e assim se tornará nosso prazer buscá-lo novamente até que
ele derrame o Espírito em chuvas serôdias (Os 10:12). O Senhor Jesus sempre sai ao
encontro de almas famintas e sedentas com sua graça renovadora, primaveril (Mt 5:6).
Firmemos nossos corações, portanto, na posição de restauração. Resolvamos, pela fé,
prosseguir com Deus, custe o que custar. Assim começaremos a ouvir o que o Espírito está
dizendo à nossa geração. Com seu auxílio descobriremos meios práticos de aplicar a
verdade às nossas famílias e grupos de comunhão.
Quando a igreja nasceu no dia de Pentecostes, o Senhor havia criado uma estrutura
delicada para sustentar o corpo, e permitir o crescimento. Ele queria um homem maduro
com o qual pudesse completar a obra de edificar o reinos dos céus na terra. Ele queria um
povo unido que, assim como o seu próprio Filho, o obedecesse e o servisse com fidelidade,
a fim de manifestar o seu amor a um mundo que caminhava para a morte. A estrutura não
foi alterada. O Senhor está operando neste instante para nos trazer à mesma vida e modelo
que os cristãos primitivos possuíam. Ele deseja que nós avancemos além daquele ponto, a
uma plenitude que nunca foi experimentada pela maioria.
Com relação à restauração, o que desapareceu primeiro tornará a aparecer em último
lugar, a fim de cumprir o plano celestial. Jesus é, ele próprio, evidentemente, tanto o
Primeiro quando o ultimo; o Alfa e o Ômega (Ap 1:11); o Autor e o Consumador (Hb 12:2); o
Alicerce e a Pedra Superior (1 Co 3:11; Mt 21:42). Aquele que deixou a cena de ação
primeiro será o último a voltar; é seu privilégio e nosso gozo, e aguardamos
esperançosamente este grande acontecimento.
Logo depois de si próprio, Jesus colocou "primeiro" os apóstolos (1 Co 12:28); quando
estes homens morreram, eles deixaram um vácuo de autoridade no qual entraram homens
errados. Os presbíteros líderes, ou bispos, das maiores congregações se fortaleceram cada
vez mais, preenchendo a posição que até então pertencia aos apóstolos. Uma organização
central emergiu preparando o caminho para um líder central, ou papa. Estes bispos não
foram concedidos por Cristo à igreja (Ef 4:11), nem receberam dons para seu trabalho, e
assim a decadência iniciou-se, sendo seguida por centenas de anos de escuridão. Apesar
de tudo isto podemos louvar ao Senhor, porque enfim o seu povo começa a ser preparado
novamente para receber o ministério apostólico que lançará os alicerces da última casa, cuja
glória excederá a da primeira (Ag 2:9). O Espírito da verdade tem sido acolhido, e podemos
estar certos de que ele nos guiará a toda a verdade (Jo 16:13).
Portanto, os apóstolos vêm em primeiro lugar, e também no fim, como arquitetos
peritos que têm visto as plantas, e são dotados por Deus com a capacidade de edificar a sua
obra nas bases certas, com a contribuição dos outros ministério.
TRÊS COMISSÕES DE APÓSTOLOS
Um estudo breve da palavra demonstrará que houve três tipos de comissões de
apóstolos nas Escrituras: o Apóstolo e Sumo Sacerdote do nossa chamamento, os apóstolos
do Cordeiro, e os numerosos apóstolos do Espírito.
Jesus é, sem dúvida, o Apóstolo dos apóstolos (Hb 3:1), descendo do seu trono
celestial a fim de criar uma nova ordem de vida através da sua morte e ressurreição. Ele deu
à luz a igreja.
Ninguém poderia ter feito isto, além de Cristo: foi sua obra peculiar. Ele escolheu doze
homens para segui-lo durante sua vida terrestre; estes apóstolos do Cordeiro (Ap 21:14)
estavam com ele desde o princípio. Depois do Pentecoste outros foram separados pelo
Espírito Santo para aumentar e continuar a obra de alcançar o mundo com o evangelho do
reino (At 13:2).
A palavra "apóstolo" significa simplesmente um "enviado". O que é mais importante
aqui é saber se um homem realmente foi enviado, quem está enviando, e para onde ele está
sendo enviado. Você poderá notar que Jesus foi enviado pelo Pai, os doze foram enviados
pelo Filho, e muitos foram enviados pelo Espírito Santo até que a obra de Deus seja
completada (Ef 4:11-13). Cada um tinha limitações impostas à comissão. Pedro foi enviado
aos judeus, Paulo aos gentios (Gl 2:7,8). Até Jesus recebeu fronteiras pelo Pai, que o enviou
às ovelhas perdidas da casa de Israel (Mt 15:24). Os homens de Deus não recebem uma
comissão de forasteiro, mas cada um deve operar dentro dos limites da sua autoridade (2
Co 10:13-16).
É necessário que entendamos que a grande comissão de "Ide a todo o mundo" não
foi um convite aberto a uma super-corrida, aberta a todos, para atravessar todo o mundo.
Pelo contrário, foi uma chamada para que cada um tomasse o seu lugar numa equipe que, a
partir de uma base central, se espalharia para cobrir toda a terra com expressões locais e
vivas das boas novas.
Precisamos perceber que nem todos são chamados como evangelistas ou homens de
primeira linha. A grande maioria devia trabalhar "atrás dos bastidores" para sustentar
aqueles que foram enviados para afastar os poderes das trevas e estabelecer o reino em
cada local. A igreja só irá completar esta tarefa quando cada homem, conhecendo seu lugar,
e deixando de lado seu individualismo, dedicar toda a sua força e talento um esforço unido
no Espírito Santo.
Lembre-se da oração sacerdotal do Senhor em João 17. Lembre como Jesus fez uma
aliança de levar um povo à glória e à união para que o mundo pudesse ver como ele tem
compartilhado a sua vida com os homens. Os doze se dedicaram a cumprir este clamor do
coração do seu Senhor. Assim fará todo aquele que for enviado com o mesmo Espírito que
anseia no nosso interior. Isto tem que acontecer, irá acontecer, em uma geração; Jesus verá
o fruto do trabalho (da dor) da sua alma e ficará satisfeito. Agora podemos fazer a oração
que ele nos ensinou (Lc 11:2) com fé, cooperando com ele - Venha o teu reino, seja feita a
tua vontade assim na terra como no céu.
APÓSTOLOS DESAPARECIDOS
Um problema grave que impede muitos cristãos sinceros de entenderem a verdade
em relação aos ministérios apostólicos é um ensinamento conhecido de algumas pessoas
como a "teoria dos apóstolos desaparecidos". Este ensinamento é responsável por grande
parte da falta de entendimento hoje.
A idéia de que Paulo foi o último apóstolo não possui base alguma, pois há um com
número de outros apóstolos mencionados nas Escrituras, e ainda outros cuja existência é
subentendida. Podemos achar vários sem maior dificuldade. Por exemplo em Atos 14:4
Barnabé é denominado apóstolo juntamente com Paulo; em Gálatas 1:19 Tiago, irmão do
Senhor, é chamado apóstolo; 1 Tessalonicenses 2:6 refere a Paulo, Silas e Timóteo como
apóstolos. Outras referências necessitarão de mais pesquisa, mas estão aí para serem
encontradas pela mente investigadora. Efésios 4 esclarece que todos os ministérios,
apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres funcionarão até que o corpo de Cristo
chegue à unidade da fé, e à estatura completa de Jesus Cristo. Eu não acho que podemos
afirmar que chegamos àquela posição até agora, no cristianismo. Você poderá notar
também que o evangelista (ministério que, em conjunto com o pastor, está mais em
evidência na igreja hoje que os demais) somente é encontrado duas vezes em todo o Novo
Testamento! Certamente não usaremos este argumento para sugerir que o evangelista
somente era necessário para dar início à igreja, como alguns dizem em relação aos
apóstolos. J. B. Lightfoot diz no seu comentário sobre Gálatas que a palavra apóstolo "não
pe empregada no sentido de ser um termo restrito aos doze".
HOMENS COMUNS HOJE
Colocando assim os apóstolos numa posição elevada, tem se tornado impossível
reconhecer o apostolado em homens normais que vivem em nossos dias. Jesus realmente
chamou simples pescadores e transformou-os em fundadores da igreja. Ele quer fazer a
mesma coisa novamente, porém nós nos privamos deste ministério vital através de uma
humildade falsa e de incredulidade. Esperando que todos os apóstolos se assemelhem a
Paulo, temos perdido o benefício de um Timóteo ou de um Barnabé. O Senhor quer mudar
tudo isto, à medida que nos encorajamos uns aos outros, reconhecendo todos os dons e
vocações no corpo de Cristo.
Os dois extremos de catolicismo e protestantismo têm falhado igualmente em produzir
a qualidade certa de autoridade na igreja. Um, conferindo a um só homem a autoridade
absoluta, e o outro dando a cada indivíduo o direito de governar na igreja. Este nunca foi o
caminho de Deus. Ele pretendia que, através de oração e reconhecimento, pudéssemos ver
uma pluralidade de liderança emergir em cada nível de autoridade, que se tornaria evidente
à medida que um grupo de pessoas esperasse em Deus, e que se basearia no verdadeiro
reconhecimento dos dons ligado à submissão aos mesmos dons. Isto começará no meio de
grupos de cristãos que, através de comunhão, chegaram a amar e a confiar uns nos outros.
Aquele ministério de um só homem será banido para sempre, e haverá uma verdadeira
segurança na igreja. Os ministérios se respeitarão e se submeterão uns aos outros,
operando em conjunto dentro dos limites da sua vocação. Presbíteros locais serão cobertos
pelos ministérios, e serão eles próprios uma verdadeira cobertura para as ovelhas por causa
da sua confiança mútua.
EFICÁCIA DESAPARECIDA
Com o desaparecimento dos apóstolos e profetas da igreja primitiva, ela perdeu logo
seu poder e sua força de expansão. Surgiram divisões, e como já vimos, ela foi lançada na
noite mais escura da sua história. Com a exceção de breves avivamentos, nem se ouvia
falar de milagres: no entanto, a chama da verdade nunca se extinguiu completamente,
louvado seja Deus! Mesmo assim, por mais que agradeçamos a Deus pelos avivamentos
passados, estes foram freqüentemente operações de salvamento, para que a igreja não
viesse a se apagar, ao invés de uma experiência decisiva para elevar a igreja a um nível
mais elevado. Uma geração precisa nascer, e crescer de maneira constante sob a
autoridade e disciplina dos ministérios e ofícios da igreja, aceitando todas as intervenções de
Deus como meios de alcançar a maturidade e a plenitude da vida em Cristo (Ef 4:11-13).
Verdadeiramente este povo haverá de subir como asas como águias...
Hoje nós temos uma situação semelhante àquela que existia durante os dias dos
juízes. Periodicamente, homens foram levantados especialmente para libertar Israel de
exterminação. Entre estas épocas, aparentemente todo homem fazia o que era reto aos
seus próprios olhos (Jz 21:25). Não havia rei, nem autoridade constante em Israel, e assim o
povo ia de um trauma a outro. Semelhantemente, a igreja tem cambaleado entre um
avivamento e o próximo. Evidentemente estes avivamentos foram dirigidos por homens que
conheciam a Deus, e a sua verdade tem sido descoberta, mas o seu desejo é que o seu
povo seja transformado de um grau de glória a outro superior. Ele ainda anseia para que
conheçamos refinamento constante, encorajados pelos seus despertamentos, até que ele
veja a sua própria imagem na igreja, como num espelho perfeito.
As Escrituras dizem: "...primeiramente apóstolos, segundo profetas, terceiro mestres,
depois operadores de milagres, etc." (1 Co 12:28). O Senhor tem motivos para dar esta
seqüência exata através de Paulo. Serão justamente estes ministérios que lançarão os
alicerces de caráter, sobre os quais poderá ser edificada uma casa de poder. Pode ser
notado em muitos lugares onde houve manifestações de poder sem os alicerces de caráter,
que uma obra tem crescido de noite para o dia, como a abóbora de Jonas. Porém, em razão
da falta de capacidade para resistir aos ataques sutis de Satanás, a obra murcha tão
depressa quanto cresceu. Não é de admirar que tenhamos visto tão pouca bênção
prolongada na igreja. Não é de admirar que tenhamos falhado em consolidar as bênçãos, a
fim de continuarmos rumo aos níveis superiores de experiência e às profundezas do amor
que Deus tem reservado para nós.
Na passagem de Coríntios citada acima, e mais claramente em Romanos 12, os
ministérios, dons sobrenaturais e dons naturais são reunidos e denominados em conjunto de
carismata ou dons da graça. Romanos 12:6 diz: "de modo que, tendo diferentes dons,
segundo a graça que nos é dada..." A palavra dom aqui é carisma, como em 1 Coríntios
12:4, e é aplicada de várias maneiras. Por exemplo, profecia, no v.6, é um dom do Espírito;
ensinar, no v.7 é um dom ministerial; e mostrando misericórdia, no v.8 é um dom de caráter.
Portanto dos dons são todos dons da graça. Os dons do ministério são concedidos por
Jesus, os dons do caráter são formados em nós através de experiência e pela disciplina dos
ministérios, e os dons sobrenaturais são concedidos pelo Espírito Santo, de acordo com sua
vontade para a bênção, desenvolvimento e expansão da igreja. Todos são dons de Deus,
que nós não merecemos. Todos são destinados ao corpo, a fim de que cada junta possa
efetivamente suprir às outras; o todo, então, é edificado e sustentado de dentro para fora.
Sem isto, o programa evangelístico de Mateus 24:14 durante os últimos dias será
impossível. O evangelho do reino não é apenas a mensagem que Jesus morreu na cruz
pelos pecadores; nem mesmo é simplesmente uma mensagem acompanhada por sinais;
antes, é uma mensagem acompanhada por sinais e vidas transformadas. Os poderes das
trevas serão então afastados, confinados e amarrados. Cada canto da terra verá e ouvirá
que Jesus está de fato vivo. Cristo sendo vivo na igreja, será visto pelo mundo; a igreja
sendo viva em Cristo será preservada do derramamento final de juízo. Enquanto trevas
cobrem a terra, sua luz brilhará cada vez com esplendor maior, e perseguição simplesmente
acrescentará combustível ao fogo que está aceso nela. Ela conhecerá gozo transbordante
no meio do sofrimento, e vitória estupenda justamente na hora em que sua derrota é
aparentemente inevitável.
Trabalhemos juntos de acordo com a ordem divina, e juntos conheceremos um
caminhar constante de eficácia sempre crescente.
ALICERCES FIRMES
A obra especial do apóstolo e profeta é a de lançar alicerces. Note, porém, que eles
próprios são os fundamentos, e lançam os fundamentos (Ef 2:20-22). Jesus faz deles os
fundamentos da sua cidade (Ap 21:14), e eles fazem de Jesus o fundamento de tudo que
edificam (1 Co 3:11). Assim é em relação à igreja local; os presbíteros neste caso são as
colunas sobre as quais a igreja é levantada, e eles introduzem Cristo nas vidas das ovelhas.
Os pastores devem ser como Jesus, como pedras nas suas responsabilidades e dedicação,
inamovíveis, e não continuamente mudando de direção, ou correndo de uma coisa a outra.
Quando Jesus falou a Pedro em Mt 16:15-18, em primeiro lugar ele se fez à pedra
sobre a qual a vida de Pedro seria edificada, e depois disto ele fez de Pedro uma pedra de
alicerce na igreja. Mais uma vez, tanto católicos quanto protestantes têm perdido o
significado completo destes versículos. Aqueles porque edificaram tudo sobre Pedro, e estes
porque não o usaram de maneira alguma nos seus alicerces. A igreja está edificada através
de homens e sobre homens que têm uma revelação de quem é Jesus. Podemos ver a
sabedoria infinita e a misericórdia de Deus em fazer assim.
Hoje a obra do apóstolo e profeta não é tão fácil de compreender, porque já existe
uma igreja. Ou talvez poderíamos dizer que os materiais necessários para a edificação da
igreja já foram ajuntados. É a diferença entre Ai e Betel na história de Abraão. Um foi um
"monte de pedras", e outro foi "a casa de Deus" (Gn 13:3). Os homens têm empilhado seus
convertidos sobre o alicerce errado; ao invés de edificar sobre fraternidade e revelação, eles
têm construído sobre credos e doutrinas. Não fomos chamados para nos associar uns aos
outros simplesmente porque aceitamos os mesmos ensinamentos; nosso ajuntamento
(união) é em relação a Jesus. Devemos buscá-lo uns nos outros, e não procurar uma
concordância mental da verdade. Devemos relacionar-nos aos outros porque nascemos na
mesma família, compartilhamos da mesma vida e Espírito, com o mesmo Pai que nos
constitui co-herdeiro de Cristo, o qual é o primogênito entre muitos filhos. Não há
necessidade de nos membrarmos, nenhuma denominação tem autoridade final, nem há uma
declaração final de fé. Somos ligados uns aos outros pelo Espírito por relacionamentos
verdadeiros e duradouros. Ninguém poderá se ligar ao meu grupo, mas alguém pode ser
ligado a mim, ou à minha família. Famílias inteiras podem ser ligadas a outras por Deus. Até
congregações inteiras podem ser ajuntadas quando estivermos dispostos para o Espírito
fazer isto no seu tempo, e a seu modo.
Hoje a igreja está cheia de divisões, porque os homens têm edificado sobre os
alicerces errados. Eles têm edificado sobre teologia, e não sobre o próprio Deus. Eles têm
ensinado as mentes dos homens, sem transformar os seus corações. Temos convertidos ou
prosélitos, e não discípulos. O Senhor Jesus e o novo nascimento constituem o ponto de
partida para chegarmos à comunhão e edificação, não a doutrina. Portanto, a obra de um
apóstolo aqui é de desembaraçar o emaranhado, limpar a confusão, e trazer a situação de
volta, à posição de poder edificar a partir do alicerce. Para isto, necessita-se de visão, bem
como um conhecimento claro do padrão e propósito de Deus. Devido à natureza desta obra,
os apóstolos nunca serão compreendidos pelos outros. Serão acusados de intrusos, estarão
constantemente sob opróbrio, porém a sensação de presenciar a edificação do corpo será
uma recompensa mais do que suficiente.
Quando os verdadeiros alicerces forem lançados (Hb 6:1,2), à medida que o Senhor
permitir, poderemos avançar a outras verdades, aos últimos estágios do nosso equipamento,
em preparação para a última e grande batalha. Durante este embate, a igreja permanecerá
em toda a glória, mais que vencedores através do seu grande amor.
COOPERADORES
O apóstolos nunca realizará tudo isto sozinho. Os líderes, em qualquer nível que seja,
nos lares, nos grupos locais de comunhão, ou na igreja como um todo, sempre devem ser
ligados uns aos outros, não apenas obreiros em cooperação com Deus, mas também em
cooperação uns com os outros. Há uma segurança e cobertura em tudo isto - podemos
chamar este princípio de estrutura dos ministérios.
Sem simplificar demais o assunto, eu percebo que existem duas características
básicas de liderança. Primeiro vem o lógico ou racional, depois o intuitivo ou revelado. Ao
mesmo tempo que ambos se encontram em graus diferentes, em todos nós, geralmente
cada um atua mais em um sentido, ou no outro. Em casa, estes dois princípios podem ser
vistos no marido e na mulher - e como é importante que cada um reconheça necessidade do
outros neste sentido. Na igreja local os mesmos princípios podem ser observados no pastor
e no mestre, e na igreja como um todo, geralmente no apóstolo e no profeta. Em cada caso,
estes dois precisam aprender a trabalhar em conjunto, e a apreciar um ao outro.
Se a obra for deixada para o membro mais racional da equipe, o progresso será lento
e doloroso. Por outro lado, se o membro intuitivo tomar a frente sozinho, o grupo entrará e
sairá de toda espécie de situação com tanta rapidez, que muitos sofrerão dano sério. A
maioria dos casamentos, igrejas ou obras é prejudicada por uma destas duas situações. A
combinação certa seria o apóstolo com o profeta, ou o marido com a mulher. As decisões
devem ser tomadas pelo membro racional, que por sua vez deve aproveitar ao máximo toda
a revelação e conhecimento ou discernimento espiritual que vier através do outro. (No
casamento, estes atributos podem ser encontrados na ordem inversa, e neste caso o
marido, como cabeça do seu lar, poderá aceitar o conselho da sua esposa sem perder sua
autoridade de maneira alguma!)
DESIGNADO A FIM DE DESIGNAR
Em muitos aspectos o apóstolo é como um pai (1 Ts 2:11; 1 Co 4:15). Se desejo é
levar aqueles que lhe foram confiados ao ponto de poderem permanecer como pessoas
maduras por si próprias. Um bom pai não procura possuir; ele procura chegar ao ponto onde
sua função não seja mais necessária. Assim como os dons do Espírito se tornarão
supérfluos quando aquilo que é perfeito vier (1 Co 13:10), assim também a obra os
apóstolos na igreja terminará quando esta alcançar a maturidade. Na família de Deus,
autoridade é um meio de alcançar um fim, e não um fim em si mesma. Deus exerce sua
autoridade sobre nós a fim de nos levar à expressão completa do seu reino, mas se, depois
de chegarmos lá, ele ainda tivesse que exercer sua autoridade para manter-nos naquela
posição, ele teria falhado no seu propósito. Uma vez que chegamos à maturidade espiritual,
autoridade se torna descenessária. O Senhor não precisará fechar as portas do céu para
impedir-nos de fugir. E assim os líderes na igreja devem ser preparados a abrir mão da sua
autoridade na hora certa, lembrando-se de que no fundo, todos nós somos simplesmente
irmãos.
Em contraste com muitos dos missionários de hoje em dia, o apóstolo não procura
levar os novos convertidos para debaixo da autoridade de uma organização de fora, nem de
uma igreja mãe. Ele os encoraja, pelo contrário, a cuidar de si próprios, e a achar sua
estrutura dentro do novo grupo. Para isto, ele é autorizado pelo Senhor a designar
presbíteros pela imposição das mãos (Tt 1:5; At 14:23; 6:6). Ele somente fará isto em
congregações onde os santos reconheçam que a linha da sua autoridade apostólica os
alcança. Porque, embora o apóstolo possa exercer autoridade sobre as forças malignas ou
poderes das trevas sem obter sua aprovação, ele não poderá fazer isto na igreja. Ele
somente edificará com aqueles que lhe fornecem o direito de fazer assim. O apóstolo não
chega e simplesmente impõe suas mãos sobre qualquer um que lhe pareça digno. Nem
tampouco recebe nomes por um passe de mágica, mas ele conhecerá as pessoas que estão
sob seu cuidado. Quando ele designar, haverá uma confirmação do Espírito no seu coração,
e um "amém" dos outros crentes, que já terão observado o funcionamento dos seus irmãos
ao servir de uma maneira ou de outra.
Estes presbíteros devem ser preparados para andarem de acordo com as
qualificações das Escrituras (1 Tm 3:1-7; Tt 1:6-9). Eles poderão continuar no seu ofício
enquanto quiserem, e enquanto for evidente que estão servindo a congregação, e estiverem
livres de hábitos pecaminosos. Não serão homens que se deslocarão grandemente, mas
serão em todos os sentidos colunas da igreja local. Haverá sempre uma pluralidade de
presbíteros, exceto quando a igreja for muito pequena, e eles estarão sempre em submissão
uns aos outros, e profundamente comprometidos uns aos outros. Assim como faz o
ministério que os designou, eles tratarão aqueles sob seus cuidados tanto com graça como
com verdade, com fervoroso amor e disciplina.
Todo o sucesso de uma estrutura de liderança na igreja dependera de um espírito
verdadeiro de reconhecimento e submissão. Na verdade, todo cristão deve procurar
reconhecer o que há de Deus nos outros irmãos, e quando ele encontrar alguma coisa que
veio de Deus, deve aprender a se submeter. Desta forma toda a igreja será estruturada. A
submissão nem começa a ser uma realidade enquanto não houver nos irmãos uma
disposição para ceder em questões que naturalmente causariam rebelião ou reações
contrárias neles. A palavra é bem clara: “Obedecei aos vossos guias” (Hb 13:17). Isto não é
uma ditadura voluntária aos homens que nos servem e aos quais aprendemos a amar. À
medida que cerramos fileiras desta forma, e aceitamos uns aos outros em virtude daquilo
que somos em Deus, o reino de Deus se tornara visível de uma maneira maravilhosa aqui
na terra.
CONDENADOS À MORTE
Agora, caso houver alguém que se imagine apóstolo, devemos esclarecer uma ou
duas coisas ainda.
Em primeiro lugar, é preciso entender que ninguém simplesmente resolve se tornar
apóstolo; o ministério é concedido pelo Cristo que subiu às alturas (Ef 4:10-11). É um
ministério dado ao indivíduo, e o indivíduo é dado à igreja que é o corpo de Cristo. A
capacidade está no homem desde o ventre materno: pode ser desenvolvida ou rejeitada,
mas nós nunca escolhemos para nós próprios o ministério de apóstolo, ou nenhum dos
outros cinco ministérios. Podemos aspirar à liderança na igreja local (1 Tm 3:1), podemos
desejar os melhores dons (1 Co 12:31), mas a capacidade para o ministério é criada em nós
desde o princípio. Nós somos, individualmente, criados de acordo com o propósito que Deus
tem para nós.
Uma figura interessante deste fato pode ser observado no Velho Testamento durante
a construção do templo de Salomão. Foi notado que certos homens tinham habilidade e
sabedoria para trabalhar com pedras e metais (1 Rs 7:14; 2 Cr 2:7,13). Estes dons eram
necessários para terminar a construção. Salomão reconheceu nestes homens as suas
habilidades, e submeteu-se a eles ao colocar a obra nas suas mãos. É tão fútil tentar
encontrar homens para preencher vagas na igreja. Nós acabamos fazendo uma casa a
matroca e convidamos o Deus vivo para morar nela. Certamente com isto nós o insultamos.
O que nos resta é apenas buscar o Senhor para que surjam homens certos, submetendonos
a seus dons à medida que o Senhor no-los revela.
Em segundo lugar, os sinais do apóstolo são definidos claramente; primeiro paciência,
e depois sinais, maravilhas e poderes miraculosos (2 Co 12:12). Nós já mostramos como é
importante que os milagres fluam de um caráter sólido, e aqui novamente enfatizamos este
fato. Se um homem for trabalhar com pessoas a fim de moldá-las em um conjunto, a
qualificação mais saliente será a paciência. Notamos isto repetidamente na vida de Jesus e
de Paulo também, enquanto oravam, choravam e esperavam para que seu trabalho desse
fruto nas vidas das pessoas às quais eles ministravam. Sinais e milagres falsos têm
enganado a muitos homens (2 Ts 2:9). No fim haverá aqueles ele não os conhecerá porque
o fruto o seu caráter não estará manifesto nas suas vidas (Mt 7:20-23). Já se tem discutido
demais a respeito dos dons carismáticos e dos frutos do Espírito, mas na verdade viu-se tão
pouco de ambos. Quão tremendo será achar homens em cujas vidas está refletida a
natureza completa e inteira de Jesus em toda a sua compaixão e poder do Espírito.
Depois de dizer tudo isto, devemos ter cuidado de não colocar um padrão tão elevado
para este ministério, que ano sobre lugar para desenvolvimento. Nem todos os apóstolos
eram da estatura de Paulo. O próprio Paulo exortava e encorajava homens mais novos, que
demonstravam o chamamento de Deus sobre suas vidas, mas que ao mesmo tempo eram
homens tímidos (2 Tm 1:6-8).
Finalmente, o apóstolo é condenado à morte (1 Co 4:9). Se isto não significar martírio
literal, o que realmente há de suceder a alguns, certamente implica numa morte diária para
que outros possam ter vida (2 Co 4:7-12). Os apóstolos eram espetáculos na arena da vida.
Sofriam desentendimentos constantes, eram rejeitados, sempre entregavam-se a si próprios
pela vida da igreja. Naqueles dias primitivos, as pessoas não tinham inveja dos seus líderes,
nem andavam à procura de posições no ministério. Não havia gloria em ser um apóstolo; a
única glória estava no sofrimento pelo evangelho, e em ver a igreja de Jesus crescer na
graça de Deus. As palavras de Tiago são um aviso solene àqueles que se acham
qualificados: “Meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres, sabendo que havemos
de receber maior juízo” (Tg 3:11).
Estes homens eram primeiros em autoridade, porém últimos em receber honra
terrestre. Eles foram os primeiros a desaparecer e conseqüentemente decadência e apatia
sobrevieram. Mas agora no fim eles estão sendo restaurados para preparar para a glória
resplendente que há de encher a última casa. Vigiemos e oremos para que apóstolos sejam
levantados – eles são dons do Cristo ressurreto. Que possamos reconhecê-lo e nos
submetermos a eles quanto aparecerem, juntamente com todos aqueles que foram
separados por Deus para liderar na sua igreja.

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