Do alto de um edifício, vigésimo quinto andar de um hotel, um homem observava encantado o fluxo rápido e confuso dos veículos nas imediações. Bem embaixo de sua janela um motorista estava às voltas com um problema no motor do carro, que enguiçou bem ali. De sua posição privilegiada, conseguia ver a fluência do trânsito num raio de cinco, seis quarteirões, e observava os motoristas manobrando para tentar uma posição melhor. Alguns, impossibilitados de ver adiante, insistiam em pegar justamente a pista onde estava o automóvel enguiçado. Julgando estar ganhando tempo, optavam pelo trajeto que os fazia atrasar.
“De onde eu estava podia ver o quadro inteiro”, relata ele. “se me fosse possível comunicar-me com eles, poderia orientá-los e dizer-lhes exatamente o que fazer para atingirem o seu objetivo.
“Nós agimos da mesma forma que aqueles motoristas mal direcionados, enquanto trajetamos pela estrada da vida. Insistimos em escolher nosso próprio caminho. Escolhemos o trajeto que, em nossa limitada visão, nos parece melhor, só para descobrirmos que a aparente vantagem só serviu para nos enveredarmos por um caminho onde, mais adiante, nos aguarda muita dor de cabeça e mais atraso”*.
“Contudo, como
é maravilhosos saber que podemos olhar para Aquele que está lá no alto, acima
de tudo e de todos. Nosso Pai celeste vê não apenas cinco ou seis quarteirões à
frente, mas toda a trajetória, do começo ao fim...”[1].
Durante muito
tempo Jó manteve os olhos voltados para o chão, para as circunstâncias. As
teses que defendera era, produto da visão limitada que tinha do Senhor e do que
o aguardava à frente.
Até que um dia
levantou os olhos e viu a Deus. Desviou o olhar do chão e fixou-os no
Altíssimo.
“...agora os meus olhos te vêem.” (Jó 42:5).
Maria
Madalena, na manhã da ressurreição, foi ao túmulo com o intuito de embalsamar o
corpo de Jesus. Chorando, abaixando-se e olhou para dentro do túmulo.
“Mulher, por que choras?” perguntaram-no
os dois anjos que ali estavam.
“Porque levaram o meu Senhor, e não sei onde
o puseram”, respondeu (Jo 20:13).
Voltando-se
viu um homem que julgou ser o jardineiro. Ela não reconheceu Jesus.
Maria Madalena
estava olhando para baixo. Procurava entre os mortos Aquele que vive pelos
séculos dos séculos. Sua visão estava distorcida pelo estrabismo[2] da
derrota e da morte. Olhou para Jesus e viu um simples jardineiro.
À semelhança
de Maria, dois discípulos, a caminho de Emaús, não reconheceram Jesus. Fizeram
a viagem lado a lado com ele, mas julgavam-no um estranho.
“Os seus olhos, porém, estavam como que
impedidos de o reconhecer” (Lc 24:16).
Quem olha para
Jesus e vê apenas um jardineiro, está com olhar voltado para a terra. Quando
andamos lado a lado com Jesus e não mais o reconhecemos, porque nos deixamos
cegar pelas circunstâncias.
Muitos filhos
de deus ainda não aprenderam a ver Jesus como Senhor e Rei.
“Então se lhe abriram os olhos, e o
reconheceram...” (Lc 24:31).
O próprio
Senhor se dignou aviar a receita para nossa “visão” deficiente, limitada pelas
circunstâncias adversas e até mesmo por pequenos problemas do dia-a-dia.
“Aconselho-te que de mim compres... colírio
para ungires os teus olhos, a fim de que vejas” (Ap 3:8).
Uma jovem
seminarista disse que não conseguia entender como Jesus poderia ter vencido o
diabo na cruz, uma vez que o maligno continua atuante na terra.
Quem não vê
vitória no Calvário sofre “das vistas” espiritualmente. Precisa elevar os olhos
ao céu e contemplar Aquele que tudo vê. Necessita desviar os olhos do chão e
olhar “firmemente para o Autor e
Consumador da fé, Jesus... assentado à destra do trono de Deus” (Hb 12:1).
Davi não temeu
enfrentar Golias, quando todo o exército de Israel se intimidou perante ele.
Sua coragem, sua audácia devia-se à visão que tinha do seu Deus. Davi não
olhava para baixo, para o vale onde se encontrava o inimigo, mas para o alto,
onde podia contemplar o Senhor dos Exércitos, o Deus vivo, e de lá receber
orientação.
“A ti, que habitas nos céus, elevo os meus
olhos!... os nossos olhos estão fitos no Senhor, nosso Deus...” (Sl
123:1,2).
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