O Dom da Palavra da Sabedoria
"E a um pelo mesmo Espírito é dada a palavra da sabedoria" (1 Co 12.8).
De acordo com Riggs, é fácil determinar a ordem dos dons neste grupo, já que a sabedoria pressupõe a ciência e é uma aplicação discreta do conhecimento. A sabedoria é maior que a ciência, embora sejam sempre citadas em conexão nas Escrituras (Pv 4.7; 8.12; 9.10 etc).
O discernimento de espíritos é apenas parte do conhecimento e, portanto, uma extensão da sabedoria e ciência divinas.
Examinemos em detalhes os dons de revelação:
DOM DA PALAVRA DA SABEDORIA DOM DA PALAVRA DA CIÊNCIA DOM DE DISCERNIR OS ESPÍRITOS
Estes dons se manifestam na esfera mental. Por meio da palavra da sabedoria, Deus capacita a mente humana para entender todos os fatos e circunstâncias, leis e princípios, tendências, influências e possibilidades.
A sabedoria encerra tudo: matéria-prima (celestial, humana e natural), poder e perícia.([1])
A sabedoria como dom é completamente sobrenatural: uma operação divina - através do Espírito Santo -que dilata a mente e o coração do homem (cf. Êx 31.1-6; Dt 34.9; 1 Rs 4.29; Dn 1.17-20; At 6.10). É, portanto, uma operação desvinculada de qualquer técnica ou método humano, que se manifesta conforme a circunstância ou para atender a uma necessidade premente (Lc 12.11,12; 21.15; Tg 1.5).
No Antigo Testamento
Encontramos no Antigo Testamento pessoas capacitadas por Deus com o dom da palavra da sabedoria.
José. "E disse Faraó a seus servos: Acharíamos um varão como este, em quem haja o Espírito de Deus? Depois disse Faraó a José: Pois que Deus te fez saber tudo isto, ninguém há tão entendido e sábio como tu" (Gn 41.38,39).
Moisés e Arão. "Vai, pois, agora, e eu serei com a tua boca, e te ensinarei o que hás de falar... e eu serei com a tua boca e com a sua boca, ensinando-vos o que haveis de fazer" (Êx 4.12,15).
Bezalel e Aoliabe. "Eis que eu tenho chamado por nome a Bezalel, filho de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá, e o enchi do espírito de Deus, de sabedoria... E eis que eu tenho posto com ele a Aoliabe, filho de Aisamaque, da tribo de Dã, e tenho dado sabedoria ao coração de todo aquele que é sábio de coração..." (Êx 31.2,3,6).
Josué. "E Josué, filho de Num, foi cheio do espírito de sabedoria..." (Dt 34.9).
Salomão. "E todo o Israel ouviu a sentença que dera o rei e temeu ao rei, porque viram que havia nele a sabedoria de Deus... E deu Deus a Salomão sabedoria, e muitíssimo entendimento, e largueza de coração, como a areia que está na praia do mar. E era a sabedoria de Salomão maior do que a sabedoria de todos os do Oriente e do que toda a sabedoria dos egípcios" (1 Rs 3.28; 4.29,30).
Eliú. "Se não, escuta-me tu; cala-te, e ensinar-te-ei a sabedoria" (Jo 33.33).
Isaías. "O Senhor Jeová me deu uma língua erudita, para que saiba dizer, a seu tempo, uma boa palavra ao que está cansado" (Is 50.4).
Jeremias. "E estendeu o Senhor a sua mão, tocou-me na boca e disse-me o Senhor: Eis que ponho as minhas palavras na tua boca" (Jr 1.9).
Daniel e seus companheiros. "Ora, a esses quatro mancebos Deus deu o conhecimento e a inteligência em todas as letras, e sabedoria..." (Dn 1.17).
Cristo, mesmo antes de se humanizar, foi retratado no Antigo Testamento como sendo a própria sabedoria (Pv 8.22-36). E no Novo Testamento "foi feito por Deus sabedoria" (1 Co 1.30). O Espírito Santo ungiu a Jesus Cristo para ser a sua sabedoria. Isto é detalhado em Isaías 11.2, onde "repousará sobre ele o Espírito do Senhor":
Espírito de sabedoria. Habilidade para compreender a essência e o propósito das coisas e descobrir os meios certos de realizar o propósito de Deus em cada vida.
Espírito de inteligência. Habilidade para discernir circunstâncias, relacionamentos e pessoas.
Espírito de conselho. Habilidade de tomar decisões acertadas, informar e guiar outras pessoas.
Espírito de conhecimento. Habilidade para ajudar a descobrir a "boa, agradável, e perfeita vontade de Deus", e também quem é Ele, e o que Ele faz. ([2])
No Novo Testamento
A sabedoria divina é retratada no Novo Testamento como algo sublime e especial. Durante seu ministério terreno, Jesus antecipou aos seus seguidores que iriam enfrentar momentos difíceis diante de homens poderosos e de saber elevado e que, sem uma intervenção miraculosa do Espírito Santo, através do dom da palavra da sabedoria, eles jamais seriam vitoriosos.
Vaticinando a perseguição que sobre eles viria, prometeu-lhes: "E, quando vos conduzirem às sinagogas, aos magistrados e potestades, não estejais solícitos de como ou do que haveis de responder, nem do que haveis de dizer. Porque na mesma hora vos ensinará o Espírito Santo o que vos convenha falar" (Lc 12.11,12). Numa outra ocasião quando ensinava a seus discípulos, o Mestre reafirmou a promessa: "Proponde, pois, em vossos corações não premeditar como haveis de responder, porque eu vos darei boca e sabedoria a que não poderão resistir, nem contradizer todos quantos se vos opuserem" (Lc 21.14,15).
O dom da palavra da sabedoria foi concedido aos discípulos no dia de Pentecoste. Pedro era até então um discípulo ousado, mas sem poder de persuasão (Mt 16.22,23; Jo 18.17,25,26,27). Entretanto, após o Pentecoste, este quadro reverteu! Pedro tornou-se um homem "eloqüente e poderoso" e, em apenas uns oito minutos, convenceu a multidão do extraordinário acontecimento ali presenciado (At 2.14-40).
Depois desse dia, o dom da palavra de sabedoria acompanhou passo a passo a Igreja Primitiva. Logo no capítulo 4 de Atos, podemos ver novamente Pedro e João deixando atônitos as autoridades eclesiásticas de Israel: "Então, eles, vendo a ousadia de Pedro e de João e informados de que eram homens sem letras e indoutos, se maravilharam; e tinham conhecimento de que eles haviam estado com Jesus" (At 4.13).
Logo depois, encontramos Estevão, um dos sete escolhidos para "servir às mesas", sendo usado poderosamente com este dom, conforme lemos em Atos 6.9,10: "E levantaram-se alguns que eram da sinagoga chamada dos Libertos, e dos cireneus, e dos alexandrinos, e dos que eram da Cilícia e da Ásia, e disputavam com Estevão. E não podiam resistir à sabedoria, e ao espírito com que falava".
O apóstolo Paulo, quando pregava ou ensinava, valia-se sempre deste dom maravilhoso, conforme ele mesmo descreve em 1 Coríntios 2.13: "As quais também falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais".
Devemos ter era mente que o dom da palavra da sabedoria não é restrito à expressão vocal. É usado por Deus para outros fins e funções especiais, tais como:
• governo (Gn 41.33-39);
• criatividade e invenção (Êx 31.1-6);
• comando (Dt 34.9);
• julgamento (1 Rs 3.16-28);
• esclarecimento de dúvidas (Jo 33.33);
• conquista de almas para Deus (Pv 11.30);
• elucidação de enigmas difíceis (Dn 1.17);
• edificação da igreja (1 Co 14.12).
Este dom maravilhoso faz brilhar o rosto do salvo! (Pv 17.24; Ec 8.1; Dn 1.15-20; 12.3; At 6.15).
O Dom da Palavra da Ciência
"E a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência" (1 Co 12.8).
O dom da palavra da ciência é a revelação sobrenatural de algum fato que existe na mente de Deus, mas que o homem, devido às suas limitações, não pode conhecer, a não ser pela poderosa intervenção do Espírito Santo. Este dom é o segundo mencionado, pela ordem do grupo.
Encontramos a palavra da sabedoria e a palavra da ciência associadas em várias passagens das Escrituras (Êx31.3; 1 Rs 7.14; Pv 1.7; 9.10; Dn 1.4; 1 Co 12.8 etc).
Em 1 Coríntios 12, os dons são relacionados em ordem, embora fazendo parte de uma "diversidade" (no grego, diairesis). "Diversidade" vem de uma raiz hebraica que expressa a idéia de divisão. O substantivo poderia, então, significar "distribuição", "partilha".
Deus não nos concede a faculdade da onisciência, que é exclusivamente divina, mas por meio do Espírito Santo nos concede a palavra do conhecimento, sempre visando a um fim proveitoso e glorioso na edificação espiritual de seus filhos. ([3])
Há uma distinção entre a sabedoria e a ciência. A sabedoria é a ciência sabiamente aplicada. A ciência é um requisito para a sabedoria e para o ensino. O ensino é a comunicação do conhecimento. Ninguém pode ensinar sem primeiro saber, mas nem todos os que sabem podem ensinar.
A ciência como algo sobrenatural é um dom, e não meramente conhecimento adquirido através de estudos e pesquisas dirigidas ou sistematizadas. Relaciona-se com algo "prescrutador": ao invés de discorrer, como a sabedoria, investiga.
Nesta sua ação primitiva, a ciência divina, com base em seu infinito conhecimento de determinadas causas e efeitos e dos meios de produzir determinados fins na edificação do corpo de Cristo, que é a Igreja, inicia certos processos ao mesmo tempo que impede outros.
A sabedoria dedica-se mais à dissertação, ao ensino e à comunicação; a ciência, por sua vez, se ocupa com a pesquisa e a descoberta. Como dom, ocupa-se com os segredos mais profundos da vida espiritual. Foi o que Paulo descobriu quando Deus o usou com este dom. Ele exclamou: "Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos" (Rm 11.33).
Já que o Espírito Santo é Deus, e Deus sabe todas as coisas, o que Ele transmite a seus filhos através do dom da palavra da ciência é um reflexo da mente divina.
A Bíblia recomenda que busquemos este dom através da oração. Foi o que Paulo escreveu aos crentes de Éfeso: "Não cesso de dar graças a Deus por vós, lembrando-me de vós nas minhas orações, para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê em seu conhecimento o espírito de sabedoria e de revelação" (Ef 1.16,17).
O dom da palavra da ciência é muito importante na vida do salvo, especialmente para quem trabalha na obra do Mestre. Ele ajuda a encontrar novos métodos para a obra de Deus. Paulo falou desta atuação gloriosa do Espírito Santo em sua vida: "O Espírito Santo, de cidade em cidade, me revela..." (At 20.23).
Existem os "tesouros das escuridades e as riquezas encobertas" (Is 45.3). De igual modo, habitam em Cristo "todos os tesouros da sabedoria e da ciência" (Cl 2.3). E, dia a dia, através da operação gloriosa do Espírito Santo em nossas vidas, vamos descobrindo as riquezas insondáveis do mundo superior - espiritual. Isto é glorioso!
O Dom de Discernir os Espíritos
"E a outro, o dom de discernir os espíritos" (1 Co 12.10).
Em algumas passagens da Bíblia, especialmente no Antigo Testamento, o dom de discernir os espíritos está associado aos dons da palavra da sabedoria e da palavra da ciência, como por exemplo:
"E o enchi do espírito de Deus, de sabedoria, e de entendimento, e de ciência..." (Êx 31.3).
"E deu Deus a Salomão sabedoria, e muitíssimo entendimento, e largueza de coração..." (1 Rs 4.29).
"Ora, a estes quatro mancebos Deus deu o conhecimento e a inteligência em todas as letras e sabedoria; mas a Daniel deu entendimento em toda a visão e sonhos" (Dn 1.17).
O dom de discernir os espíritos não é técnica, perícia ou psicologia humana, mas sim uma atuação direta do Espírito Santo na mente do homem, capacitando-o com uma espécie de "psicologia divina" que lhe permite distinguir as manifestações vindas de Deus das procedentes de espíritos demoníacos.
Há muitos indivíduos dotados de poderes espirituais e psíquicos que não pertencem ao Reino de Deus. Manifestações estranhas foram presenciadas pelo povo de Deus em toda a Bíblia. De igual modo, do lado do bem, sempre houve homens capacitados por Deus com o dom de discernimento, para advertir e combater tais heresias. O dom de discernir os espíritos é realmente o poder de distinguir as operações do Espírito Santo das de espíritos malignos e enganadores. Podemos observar que Deus, através dos tempos, distribuiu este dom a muitos de seus servos, tanto na antiga quanto na atual dispensação. O inimigo de Deus e dos homens muitas vezes "se transfigura em anjo de luz", e passa a enviar seus espíritos enganadores para introduzir "encobertamente heresias de perdição". Alguns desses espíritos até operam maravilhas semelhantes às de Deus. Torna-se necessária, então a intervenção do Espírito de Deus, capacitando homens e mulheres para discernir certas manifestações duvidosas e estranhas.
Por toda a Escritura encontramos pessoas atuando pelo espírito do erro. Entretanto, do lado do bem, encontramos um número mais elevado de instrumentos defensores da verdade, pureza e santidade de Deus e de tudo que a Ele se relaciona.
No Antigo Testamento
Aqui, encontramos várias pessoas capacitadas em discernir:
José. "E disse-lhes José: Que é isto que fizestes? Não sabeis vós que tal homem como eu bem adivinha?" (Gn 44.15).
Moisés. "E, ouvindo Josué a voz do povo que jubilava, disse a Moisés: Alarido de guerra há no arraial. Porém ele disse: não é alarido dos vitoriosos, nem alarido dos vencidos, mas o alarido dos que cantam eu ouço" (Êx 32.17,18).
Samuel. "Então disse Samuel: Que balido, pois, de ovelhas é este nos meus ouvidos, e o mugido de vacas que ouço?" (1 Sm 15.14).
Aías. "Naquele tempo adoeceu Abias, filhos de Jeroboão. E disse Jeroboão à sua mulher: Levanta-te agora, e disfarça-te, para que não conheçam que és mulher de Jeroboão, e vai a Silo. Eis que lá está o profeta Aías o qual falou de mim, que eu seria rei sobre este povo... E a mulher de Jeroboão assim fez, e se levantou, e foi a Silo, e entrou na casa de Aías: e já Aías não podia ver, porque os seus olhos estavam já escurecidos por causa da sua velhice... E sucedeu que, ouvindo Aías o ruído de seus pés, entrando ela pela porta, disse ele: Entra, mulher de Jeroboão! Por que te disfarças assim?" (1 Rs 14.1,2,4,6).
Josafá. "Então o rei de Israel ajuntou os profetas até quase quatrocentos homens e disse-lhes: Irei à peleja contra Ramote-Gileade ou deixarei de ir? E eles disseram: Sobe, porque o Senhor a entregará na mão do rei. Disse, porém, Josafá: Não há aqui ainda algum profeta do Senhor, ao qual possamos consultar?" (1 Rs 22.6,7).
Eliseu. "Porém ele lhe disse: Porventura, não foi contigo o meu coração, quando aquele homem voltou de sobre seu carro, a encontrar-te?... E disse um dos seus servos: Não, ó rei, meu senhor; mas o profeta Eliseu, que está em Israel, faz saber ao rei de Israel as palavras que tu falas na tua câmara de dormir" (2 Rs 5.26; 6.12).
Neemias. "E conheci que eis que não era Deus quem o enviara; mas essa profecia falou contra mim, porquanto Tobias e Sambalate o subornaram" (Ne 6.12).
No Novo Testamento
O Senhor Jesus exemplifica de maneira plena a pessoa capacitada com o dom de discernir os espíritos.
Encontramos nos evangelhos o Mestre discernindo os espíritos enganadores que atuavam nos escribas, fariseus, saduceus e herodianos. Certa vez, os fariseus enviaram uma comissão composta de seus seguidores e alguns herodianos, para o surpreenderem "nalguma palavra". Eles então disseram a Jesus: "Mestre, bem sabemos que és verdadeiro e ensinas o caminho de Deus, segundo a verdade, sem te importares com quem quer que seja, porque não olhas à aparência dos homens. Dize-nos, pois, que te parece: é lícito pagar o tributo a César, ou não? Jesus, porém, conhecendo a sua malícia, disse: Por que me experimentais, hipócritas?" (Mt 22.16-18).
Em uma outra oportunidade, os escribas e fariseus começaram a murmurar de Jesus em seus corações. Jesus acabara de perdoar os pecados de um homem paralítico; e eles disseram em seus corações: "Quem é este que diz blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão Deus? Jesus, porém, conhecendo os seus pensamentos, respondeu e disse-lhes: Que arrazoais em vosso coração?" (Lc 5.21,22).
No evangelho de João, encontramos novamente o Mestre discernindo pensamentos contrários, até mesmo de alguns que tinham crido no seu nome: "Muitos, vendo os sinais que fazia, creram no seu nome. Mas o mesmo Jesus não confiava neles, porque a todos conhecia e não necessitava de que alguém testificasse do homem, porque ele bem sabia o que havia no homem" (Jo 2.23-25).
Cremos que todos os apóstolos de Cristo eram capazes de discernir os espíritos malignos. Mesmo vivendo no primeiro século de nossa era, já se defrontavam com um mundo infestado de espíritos enganadores e de "homens maus e enganadores... enganando e sendo enganados" (2 Tra 3.13). Então, fazia-se necessária uma atuação direta e poderosa do Espírito de Deus neste sentido, para preservar a Igreja ainda tenra.
Na ocasião em que Ananias e Safira mentiram, quando podiam ter falado a verdade, houve discernimento do Espírito Santo, por parte de Pedro, e o casal morreu aos pés do apóstolo (At 5.1-10).
Quando Paulo e Barnabé ministravam o Evangelho na ilha de Chipre, opôs-se a eles um mágico chamado Elimas. Paulo, naquele momento, foi capacitado pelo Espírito Santo, discernindo que o mágico era filho do diabo, e, com uma palavra de autoridade, invoca contra ele o julgamento de Deus sob forma de cegueira temporária (At 13.6-12). Em Filipos, uma jovem possessa de espírito adivinhador seguia a Paulo e a Silas, dizendo: "Estes homens, que nos anunciam o caminho da salvação, são servos do Deus Altíssimo".
Paulo, porém, discerniu que aquilo não era elogio, e sim uma denúncia. E, voltando-se, "disse ao espírito: Em nome de Jesus Cristo, te mando que saias dela. E na mesma hora saiu" (At 16.17,18). Paulo exortou os crentes de Corinto, dizendo: "Segui a caridade, e procurai com zelo os dons espirituais" (1 Co 14.1). Se o Espírito Santo nos anima a procurar com zelo os dons espirituais, devemos, especialmente os obreiros, pedir a Deus o dom de discernir os espíritos.
Vivemos dias perigosos em que o diabo tem feito do engano uma arma sombria, para usá-la no campo da destruição. Há uma nuvem negra de espíritos enganadores que procuram destruir a obra do Senhor. Os escritores sagrados, especialmente os do Novo Testamento, advertem contra os espíritos deste mundo tenebroso.
O próprio Jesus Cristo, nos evangelhos sinóticos, adverte-nos quanto a este perigo.
Mateus. "E Jesus, respondendo, disse-lhes: Acautelai-vos, que ninguém vos engane, porque muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo; e enganarão a muitos" (Mt 24.4,5).
Marcos. "E Jesus, respondendo-lhes, começou a dizer: Olhai que ninguém vos engane" (Mt 13.5).
Lucas. "Disse, então, ele: Vede não vos enganem, porque virão muitos em meu nome, dizendo: Sou eu, e o tempo está próximo; não vades, portanto, após eles" (Lc 21.8).
Paulo também observa: "Mas o Espírito expressamente diz que, nos últimos tempos, apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios" (1 Tm4.1). Pedro acrescenta: "E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição" (2 Pe 2.1).
João também adverte contra esses espíritos enganadores: "Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus" (1 Jo 4.1).
E Judas contribui, dizendo: "Porque se introduziram alguns, que já antes estavam escritos para este mesmo juízo, homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de Deus" (Jd 4).
O dom de discernir os espíritos deve ser desenvolvido no seio da igreja - mas especialmente na esfera ministerial. Ele funciona como uma espécie de "olhos espirituais", vigiando o rebanho de Jesus Cristo, o Bom Pastor, contra estes espíritos maus.
Para alguns estudiosos da Bíblia, este maravilhoso dom está ligado também à interpretação de sonhos. Os sonhos que trazem em si instruções espirituais precisam, sem dúvida, de um discernimento comparativo, isto é, uma distinção entre a ficção e o verdadeiro. Isto somente é possível através de uma operação do Espírito na mente do intérprete. Neste caso, aumenta a lista de pessoas agraciadas por Deus com este dom:
• Abimeleque (Gn 20.1-3);
• Jacó (Gn 31.10-12; 37.9,10);
• Labão (Gn 31.24);
• José (Gn 40.5-22; 41.1-39);
• Gideão (Jz 7.13-15);
• Daniel (Dn 1.17);
• José, marido de Maria (Mt 1.20,24; 2.13,19,22);
• os magos do Oriente (Mt 2.12);
• a mulher de Pilatos (Mt 27.19 etc).
José, por exemplo falou aos oficiais de Faraó e também ao monarca que "as interpretações" de sonhos são de Deus (Gn 40.8; 41.16,25,28,39).
O mesmo aconteceu com Daniel, na corte babilônica (Dn 2.19-23).
A nós não é concedido o atributo divino da onisciência, por ser exclusivo de Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo.
Entretanto, Deus pode, quando se fizer necessário, conceder-nos uma gotinha do imenso oceano da onisciência divina e capacitar-nos para discernir entre o bem e o mal - o que vem de Deus e o que vem de uma fonte estranha.
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